Manifestantes pedem implantação do curso na universidade pública. Ministro diz que Ufac não tem interesse; universidade nega. Estudantes, indígenas e população em geral pede implantação na universidade federal.
O ministro da Educação, Rossieli Soares, está na cidade de Cruzeiro do Sul, interior do Acre, para anunciar oficialmente a chegada do curso de medicina na cidade, que deve ser implantado em uma faculdade particular. Ele participa do evento, que ocorre na quadra de esportes do bairro Miritizal, na manhã desta quinta-feira (10). Além da pauta do curso de medicina, Soares anunciou também a construção de mais três creches na cidade.
A visita do ministro foi marcada por protesto e muito tumulto. Grupos indígenas de cinco etnias, estudantes e servidores públicos tomaram a quadra coberta no bairro Miritizal, onde ocorre o evento. Com cartazes, eles pediam o fim dos cortes na Educação e pediram o curso de medicina em universidade federais.
“É muito importante a gente estar retomando obras que foram deixadas em uma chamada tecnologia inovadora que deixaram milhares de obras pelo Brasil paradas como, creches aqui do lado que a gente veio visitar. Estamos retomando essas obras Brasil a fora e já entregamos mais de duas mil obras em menos de dois anos e continuamos fazendo um grande esforço para melhorar”, salienta Soares.
Ao G1, Ministério da Educação (MEC) informou que lança o edital para que as instituições privadas possam abrir seus cursos de medicina em determinados municipios, seguindo as diretrizes da Lei do Mais Médicos. Mas, o recurso para a construção não é do MEC. O investimento é da própria instituição privada.
Em janeiro deste ano, foram anunciadas as trativas para a implantação do curso. Em um levantamento feito pelo Ministério da Educação (MEC), a mensalidade de faculdades de medicina podem variar de R$ 6 a R$ 12 mil.
Em março, a segunda maior cidade do estado foi selecionada para receber o curso – essa foi a primeira etapa. A segunda, que segue até dezembro, é para que as instituições demonstrem interesse de oferecer o curso.
Francisca Apurinã reclama da redução da bolsa que os indígenas que fazem o curso de licenciatura indígena sofreu. Ela conta que recebiam R$ 900 e com a redução esse valor caiu para R$ 450.
“Com a vinda do ministro estamos reivindicando nossos direitos, principalmente o recurso da nossa bolsa. Nossas bolsas estão sendo cortadas pela metade e, provavelmente, pode ocorrer até não ter bolsa e queremos que o nosso curso continue. A gente precisa urgentemente de acadêmicos indígenas formados para ajudar na educação”, diz.
Os manifestantes pretendem ainda, durante o evento, escrever uma carta e entregar ao ministro. Francisco Nunes estava representando os estudantes do campus Floresta da Ufac, em Cruzeiro do Sul. Ele acredita que o investimento em uma universidade particular vai contra as necessidades da região.
“É um curso bom para a nossa região, mas que teria mais benefícios se fosse na universidade pública. Então, esse curso vai beneficiar pouquíssimos. Ao mesmo que se anuncia um curso desse, há um desmonte na educação pública e o governo investe na rede privada, com uma mensalidade incompatível com a nossa região”, reclama.
O ministro rebateu e disse que foi proposto à Ufac a implantação do curso. “A universidade não se manifestou positivamente. Vamos, inclusive, procurar a nova reitoria para tratar da expansão pública, o que não exclui a expansão de vagas na particular. Funciona em todos os lugares do Brasil dessa forma e tem várias formas de financiamento”, explica.
Já a Ufac informou que tem interesse e que, há um pedido protocolado no Ministério da Educação para a implantação do curso de medicina no campus Floresta.
Edimar Lima, de 49 anos, é técnico em laboratório e defende que o curso deveria ter sido implantado em uma universidade federal. “Queremos um curso gratuito de medicina, porque a população pobre não tem condições de pagar uma mensalidade que pode ultrapassar os R$ 10 mil”, diz.
O ministro destacou ainda que a implantação deve ampliar o número de médicos na região e que a expansão dessas vagas deve ocorrer no país inteiro.
“Primeiro a seleção foi do município que tem condições de receber um curso de medicina, o segundo é quais instituições desejam abrir o curso, que deve ser até dezembro e aí, então, deve começar o processo de implantação”, finaliza Soares.
Confira a nota da Ufac, publicada em fevereiro deste ano, na íntegra:
A Universidade Federal do Acre (Ufac), ao longo de mais de 50 anos de história, vem desenvolvendo diversas atividades de ensino, pesquisa e extensão nos municípios do interior do Estado, contribuindo para a formação de profissionais em diversas áreas.
Essa política de expansão sempre foi uma das prioridades e marcas da política da instituição. Apenas como exemplo, no momento, a Ufac está em 19 dos 22 municípios acreanos, seja ofertando cursos, seja desenvolvendo outras atividades acadêmicas.
Para a criação de um curso na Ufac, deve-se cumprir protocolo no âmbito interno da instituição e, posteriormente, no campo externo, junto ao Ministério da Educação (MEC). A implantação de um curso de Medicina no campus Floresta, em Cruzeiro do Sul, objeto de especulações maliciosas no meio político, foi definida como uma das estratégicas da universidade em seu Plano de Desenvolvimento Institucional 2015-2019.
Antecipando-se às discussões nas instâncias internas, a Ufac protocolou, junto ao MEC, em junho de 2014, documento que, entre outras coisas, solicitava vagas para lotação de docentes e técnico-http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistrativos na graduação de Medicina no Juruá. Com esse protocolo, a Ufac buscou iniciar um diálogo com o MEC, almejando a assinatura de um acordo com vistas à criação do curso.
A Ufac preza por sua política de expansão universitária, com a finalidade de atender aos interesses públicos e contribuir com a edificação da sociedade.