Em um ano, 20 agentes mudaram de endereço após ameaças de facções em bairros de Rio Branco, diz sindicato

Sindicato diz que alguns agentes chegaram a alugar casa própria para custear aluguel em outro bairro. Sistema prisional do Acre está mais de 111% acima da capacidade.


Após serem ameaçados, 20 agentes penitenciários decidiram mudar de endereço durante o ano de 2017 somente em Rio Branco. Em todo o Acre ao menos 80 carcereiros tiveram de deixar suas casas após os bairros em que moravam serem ocupados por facções criminosas.


As informações foram repassadas nesta terça-feira (29) pelo Sindicato dos Agentes Penitenciários do Acre (Sindapen).


O presidente do Sindapen, Lucas Bolzoni, disse que desde o final de 2016 a disputa entre as facções aumentou no Acre pelo controle de territórios de tráfico. Com isso, os grupos criminosos, segundo ele, começaram a se consolidar nos bairros.


Os agentes foram praticamente expulsos de casa, alguns alugaram as moradias fixas e passaram a viver de aluguel.


“Em alguns deram tiro na casa deles, outros tentaram atear fogo. Em Cruzeiro do Sul, a situação também está complicada. O diretor do presídio teve de mudar de casa, assim como o de Taraucá que vendeu a casa própria para morar de aluguel, pois vivia sob ameaça no bairro dele”, relata.


Agente penitenciário é executado

O agente penitenciário Gilcir Silva Vieira, de 38 anos, foi executado a tiros de pistola na manhã desta quarta-feira (30) no km 2 da AC-405, em Cruzeiro do Sul. Os tiros atingiram as pernas, braço e cabeça.


Vieira teria saído de casa para consertar o pneu de uma moto e, quando retornava para casa, foi seguido e executado com vários tiros. O crime ocorreu perto de um posto de lavagem.


O Sindapen-AC lamentou a morte do servidor e disse que áudios com ameaças vazaram há cerca de 20 dias. Bolzoni afirmou que, provavelmente, a morte de Vieira tenha sido a mando de facções criminosas. Segundo ele, o colega era agente penitenciário desde 2012 e deixou a mulher uma filha de 14 anos.


“Há algum tempo foram encontrados alguns áudios, onde membros de facção faziam ameaças e diziam para matar qualquer agente em retaliação aos procedimentos dentro do presídio, como revistas e apreensões de celulares. Acreditamos que foi aleatório. Queriam pegar algum agente e pegaram o que estava mais vulnerável na hora”, afirmou Bolzoni.


Presídios do Acre estáo superlotados (Foto: Ascom/TJ-AC )

Presídios do Acre estáo superlotados (Foto: Ascom/TJ-AC )


Fugas

O sindicato diz que desde novembro de 2017 até maio deste ano 65 presos fugiram de unidades no Acre a somente cerca de 20 foram recapturados. Um levantamento feito pelo G1, mostrou que em menos de 10 meses, mais de 80 detentos conseguiram fugir dos presídios.


De junho de 2017 a maio deste ano, o estado registrou ao menos 11 fugas e seis tentativas nos presídios Francisco D’ Oliveira Conde, em Rio Branco, Moacir Prado, em Tarauacá, Manoel Neri, em Cruzeiro do Sul e na 5ª Unidade Prisional, em Feijó.


Ao todo, no período de dez meses, mais de 80 fugiram de presídios. Desses, quatro, dos onze presos que fugiram escalando a muralha do Francisco d’Oliveira Conde (FOC) no início deste mês, foram capturados na noite desta terça-feira (29). Ao todo, sete continuam foragidos somente desta unidade. A Sesp-AC não informou o total de detentos que já foram recapturados.


Em menos de 10 meses, mais de 80 detentos conseguiram fugir de presídios no Acre (Foto: Quésia Melo/G1)

Em menos de 10 meses, mais de 80 detentos conseguiram fugir de presídios no Acre (Foto: Quésia Melo/G1)


Todas as unidades onde foram registradas fugas e tentativas estão superlotadas. Em Tarauacá, o presídio Moacir Prado foi projetado com 80 vagas, mas atualmente comporta 392 detentos divididos em 20 celas, conforme a direção. A unidade passa por obras de ampliação e devem ser criadas 23 celas com 184 novas vagas.


No presídio Manoel Neri, em novembro de 2017, a Sesp-AC informou que a unidade tinha capacidade para 168 detentos, mas acomodava 559. O deficit, no município de Cruzeiro do Sul, era de 391 vagas.


Em Rio Branco, no mesmo período, as unidades de regime fechado, masculina e feminina, tinham no total 715 detentos vagas para 1603 detentos. O deficit era de 888 vagas.


Em Feijó, na 5ª Unidade Prisional são disponibilizadas 56 vagas, mas em novembro do ano passado a Sesp-AC informou que 123 apenados eram mantidos no local.


O Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC) informou que está fazendo uma reestruturação no sistema penitenciário e deve investir R$ 60 milhões na criação de 2,2 mil novas vagas nas penitenciárias do Acre até o final de 2018 para coibir novas fugas.


Somente no Presídio Francisco d’Oliveira Conde (FOC), onde ocorreram três fugas de março a maio deste ano, devem ser criadas 800 novas vagas. O investimento, segundo ele, é de R$ 10 milhões.


O Iapen-AC afirma que os investimentos de reforma e ampliação vão ser feitos em todas as sete penitenciárias do estado. As obras incluem construção de novos blocos e guaritas elevadas para controle de acesso.


Mandados de prisão pendentes

Acre tem mais de 1,4 mil mandados de prisão pendentes, conforme dados do Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Desses, 874 criminosos nunca chegaram a cumprir pena e são procurados, o que representa 61,6% dos mandados pendentes.


Outras 544 pessoas chegaram a ser presas, mas se evadiram do sistema prisional e são consideradas foragidas. Os homens são maioria no sistema prisional e somam 6.239 enquanto há apenas 393 mulheres.


Dos mais de 6 mil presos do Acre, 2.549 são provisórios o que representa 38,51% dos detentos.


Os condenados somam 4.070, sendo 2.950 com execução definitiva de pena, total de 44,57%. Outros 1.120, número que corresponde a 16,92% dos detentos do sistema prisional do estado, cumprem pena em execução provisória.


Dados do banco de monitoramento mostram que o Acre tem mais de 1,4 mil mandados de prisão pendentes (Foto: Reprodução/CNJ)

Dados do banco de monitoramento mostram que o Acre tem mais de 1,4 mil mandados de prisão pendentes (Foto: Reprodução/CNJ)


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