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Sobre cabeças degoladas, o Museu dos Povos Acreanos e o Lago do Amor


O bárbaro crime que aconteceu na antes pacata Cruzeiro do Sul em que degolaram uma pessoa e deixaram a sua cabeça na porta de uma escola evoca algumas reflexões sobre o futuro do Acre. Estamos vivendo uma crise social aguda muito séria ainda que as nossas autoridades pareçam não se dar conta. A violência no Estado tomou contorno de tragédia e precisa de um antidoto urgente para estancar a sangria literal que vitimiza os nossos jovens. As facções criminosas se “empoderaram” e parecem fazer o que bem entendem estabelecendo uma justiça paralela. E o recado foi bem claro no caso da “cabeça cortada”. Enquanto isso, as nossas policias sofrem com a falta de insumos básicos para combater a criminalidade. A manutenção das viaturas é deficitária, não há combustível em alguns momentos para circularem, coletes e armas inadequados e até mesmo o fardamento para os policiais tem sido um problema.


Céu azul no Acre
Por outro lado, o atual Governo do Estado parece priorizar dois projetos “lúdicos”, o  Museu dos Povos Acreanos e o Lago do Amor. No Museu serão gastos R$ 28 milhões e no Lago quase R$ 3 milhões. Será que esses R$ 31 milhões se investidos na segurança pública não poderiam controlar a situação da violência no Estado? O uso de Inteligência e condições adequadas para o trabalho dos policiais não ajudariam a minimizar o atual quadro de assassinatos? Admito que os dois projetos, um cultural e outro turístico, são importantes. Mas é esse o momento para fazer tal investimento? Mesmo porque a saúde pública do Acre também tem se mostrado deficitária. Obras importantes para o atendimento da população como o Pronto Socorro e o INTO estão paradas e faltam insumos nos hospitais públicos e UPAs. Notem que segurança e saúde são duas questões que lidam diretamente com a vida dos acreanos e acreanas. Isso não é mais importante do que qualquer outra coisa? A vida? A paz?


Herança de dor
Entendo que quem governa quer deixar uma marca da sua gestão para as futuras gerações. Realmente o Museu e o Lago permanecerão, mas a dor dos familiares das pessoas assassinadas pela violência ou mortas por falta de um atendimento adequado na saúde pública também ficarão na lembrança dos seus familiares. E a história irá cobrar a sua fatura de sofrimento muito em breve nas consciências daqueles que escolheram as suas prioridades.


Muito além da política
Como estamos às vésperas de uma eleição para o Governo parece que qualquer coisa que a gente escreve tem caráter político eleitoral, só que não. Tanto que preferi não citar nomes, mas falar de uma filosofia que compromete os sonhos de milhares de acreanos. Estou me referindo a uma lógica cruel de prioridades. Na realidade, esse desabafo trata de uma questão humanitária. Assistir a tanto sofrimento diante do escárnio provocado pela vaidade de personagens que parecem estar cegos diante da nossa realidade. O momento é para medidas urgentes e não para pose diante das câmeras e discurso fácil. Maquiagem e mentiras só provocam mais sofrimentos. Pessoas estão morrendo vítimas não só das armas, mas também da negligência de quem poderia reverter esse realidade.


Tristes números
Diante de um Governo do Estado que sempre se refere a números superlativos na produção o contraste com os indicativos sociais é evidente. Centenas de empresas fechadas nos últimos anos, desemprego alto e o Acre transformado no segundo estado brasileiro com maior taxa de mortes violentas do país (segundo matéria do G1 – 22/03/2018).


Uma casa se começa pelo alicerce…
Entendo o sonho de acabar com a economia do contracheque dos serviços públicos no Estado. Mas os investimentos em empresas público-privadas têm sido muito questionados. Nenhum até agora apresentou resultados a se comemorar. Ou a Peixe da Amazônia S/A se tornou uma potência? E por que não investiram adequadamente na base? Em segurança, saúde, educação? Porque nas minhas andanças pelo interior do Acre vi muitas escolas quase abandonadas, precisando de reformas urgentes. E os nossos educadores estão satisfeitos?


…não pelo telhado
Como querer um Acre industrializado se não temos ainda o básico de infraestrutura para o desenvolvimento? Faltam estradas bem pavimentadas, uma rede de internet e telefonia mais eficientes, passagens aéreas mais baratas. Fornecimento de energia elétrica com preços compatíveis, água potável e esgotamento sanitário em todos os lugares que garantam a qualidade de vida dos acreanos. Antes dessas premissas serem realizadas ficará difícil transformar o Acre numa potência econômica da noite para o dia.


Parcelas de culpa
Concordo que temos um Governo Federal acéfalo envolvido em crises políticas constantes. Mas não seria mais prudente fazer a parte que cabe ao Estado? Minimizando assim situações que poderiam ser contornadas com o empenho da gestão e do bom senso? Essa guerra ideológica que nesse momento se trava nas redes sociais de “todos contra todos” não vai levar o Acre a lugar nenhum. Faltam debates sérios tanto por parte dos políticos da FPA quanto da oposição sobre os reais problemas enfrentados pela população. Enquanto as pessoas vão morrendo à míngua a espera de uma intervenção consequente do poder público. Quantas mais cabeças terão que ser degoladas para acender a luz vermelha e todos se unirem para tirar o Acre desse atoleiro em que se meteu nos últimos anos? A mim como jornalista só me resta gritar através da palavras, evocar a reflexão e pedir a todos os Seres Divinos, misericórdia para essa gente pacífica do Acre.


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