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Procura por emprego demora quase um ano

“A crise econômica em si durou até 2016, mas ela demorou a refletir no mercado trabalho”, explica economista da FGV


Há um ano e quatro meses, André Juvêncio, de 43 anos, espera o dia em que terá a carteira de trabalho assinada de novo. Ele tenta voltar para a indústria de cosméticos, onde atuou por seis anos como coordenador de desenvolvimento de embalagens, e, desde então, passou a engrossar a fila dos brasileiros que deixaram o mercado formal.


“A gente sempre acha que não vai ficar desempregado por muito tempo. Aproveitei esse intervalo para fazer intercâmbio e estudar inglês e pensava que o mercado estaria melhor na volta também, mas nada. As vagas que abriram são muito mais disputadas e oferecem um salário menor. Estou fazendo ‘bico’ de motorista, mas não deixo de mandar currículo.”


No mês passado, um trabalhador da Grande São Paulo levava, em média, 47 semanas – pouco menos de um ano – procurando qualquer oportunidade de emprego, formal ou informal, segundo levantamento da fundação Seade, em parceria com o Dieese. Esse é o dobro do tempo que se levava para voltar ao mercado quatro anos antes, em março de 2014, quando a crise ainda não tinha chegado.


“A vida mudou muito rápido. Tudo parecia bem, a gente estava morando de aluguel, mas já pensando na casa própria. A geladeira, o carro, toda conquista era comemorada”, lembra o operador de empilhadeira William Rosa, 35 anos – há quatro meses procurando trabalho.


A empresa em que ele trabalhava, uma fabricante de vidros, demitiu 200 pessoas nos anos de crise e não tem previsão para voltar a contratar. “É difícil confiar no nosso País, a felicidade aqui parece que já vem com prazo de validade.”


Pela série histórica da pesquisa Seade/Dieese, que começa em 1988, é possível perceber o quanto as idas e vindas do País podem prolongar, e muito, a busca pelo emprego. A procura registrou um pico, de 57 semanas, no início dos anos 2000.


Com a economia se aquecendo, essa espera saiu de 39 semanas, no final de 2009, e teve quedas constantes até 2012. Pelos três anos seguintes, permaneceu na casa de 20 semanas. Até explodir ao longo de 2017.


“A crise econômica em si durou até 2016, mas ela demorou a refletir no mercado trabalho. Demitir não é uma decisão fácil e o empregador acha que tudo pode melhorar rapidamente, por isso a recessão bate no trabalho com atraso”, explica o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, da Fundação Getulio Vargas (FGV).


Lenta e gradual


O tempo que se espera até encontrar a recolocação vem diminuindo desde o fim do ano passado, mas ainda assusta. Com a recuperação da economia após a recessão ainda tímida, essa queda é lenta.


“A recuperação é lenta e gradual, porque a queda foi muito grande e agora a cabeça do empregador funciona no sentido contrário ao de 2015 e 2016: ele se pergunta se vale começar a recontratar com tantas incertezas. Como saber o rumo que o País irá tomar a partir do próximo governo a ser eleito?”


Esse ritmo de recuperação já levou os analistas a revisarem as projeções para o emprego. Nos primeiros três meses do ano, o total de trabalhadores com carteira assinada no setor privado recuou ao menor nível já registrado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, divulgada na última semana. Entre janeiro e março, o desemprego em todo o País subiu para 13,1%, e o número de brasileiros à procura de trabalho bateu em 13,7 milhões.


“O mercado de trabalho é muito sensível a crises e precisa de uma recuperação consolidada da economia para reagir com mais vigor”, diz a analista de mercado de trabalho da Fundação Seade Leila Luiza Gonzaga.


Ela avalia que ainda é cedo para dimensionar o impacto que a reforma trabalhista, em vigor desde novembro, terá no mercado de trabalho. “A reforma flexibilizou as modalidades de contratação, mas isso sozinho não é suficiente para aumentar o número de postos. A queda no emprego foi tão grande que ainda não há consenso quanto à velocidade da recuperação.”


Na avaliação de Holanda, a perspectiva é de que o desemprego volte ao patamar de um dígito apenas no ano que vem. “Ainda assim, não é garantido, todo o esboço de recuperação pode facilmente ser revertido a depender dos resultados da próxima eleição.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo e Estadão Conteúdo. 


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