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Políticos indígenas do Acre dizem sofrer preconceito racial: ‘acham que índio é incapaz’

Prefeito, vice-prefeito e vereador indígenas relataram trajetória na política e dificuldades de aceitação da população. ‘Quando alguma coisa dá errado, a situação parece que dobra, só por eu ser índio’, diz.


O preconceito e a falta de confiança são uns dos maiores desafios encontrados por políticos indígenas do Acre. Na semana em que é celebrado o Dia do Índio, o G1conversou com um prefeito, um vice-prefeito e um vereador indígenas e todos relataram dificuldades de aceitação da população.


O primeiro prefeito indígena eleito no Acre, Issac Piyãko (PMDB) é da cidade de Marechal Thaumaturgo. No mandato há um ano e quatro meses, ele diz que ainda sofre as mesmas dificuldades da época em que fez campanha eleitoral.


“Na época da campanha, foi muito forte o preconceito por ser indígena concorrendo uma eleição para representar o município. Achavam que não era capaz de conduzir uma pasta política. Hoje, sendo prefeito, continua e quando alguma coisa dá errado, a situação parece que dobra, só por eu ser índio. Mas, estou tranquilo e vou continuar”, contou Piyãko.


A mesma dificuldade é relatada pelo vereador Manoel Kaxinawá, do município de Santa Rosa do Purus. Ele comentou que os indígenas que atuam na política são sempre julgados como incapazes de assumir tal responsabilidade.


“A gente sempre sofre preconceito por parte dos não indígenas, de acreditarem na nossa competência. Dizem que somos irresponsáveis, incapazes, que não sabemos de nada. Principalmente nós como políticos, representantes de um povo branco. Esses são alguns dos desafios que a gente tem que passar”, disse o vereador.


O vice-prefeito de Santa Rosa do Purus, Nego Kaxinawá, ressaltou que representa não só o povo indígena, mas também os não indígenas da cidade do interior do Acre. Segundo ele, as pessoas não conseguem acreditar no potencial gestor do índio.


“O homem branco sempre acha que o índio é incapaz, que tem que viver sob tutela. Nunca querem que um índio seja um político. Querem comandar para que os índios obedeçam. A gente sofre isso. Diziam que eu não tinha capacidade de representar o povo”, relatou o indígena.


Orgulho e desafio

Apesar dos relatos de preconceito, os políticos afirmam que estão confiantes com o trabalho realizado nas cidades acreanas e se dizem orgulhosos.


“É uma conquista para mim. Primeiro de tudo, por ser indígena e ter conseguido ser o primeiro índio a chegar na prefeitura no estado. É um aprendizado muito grande e, ao mesmo tempo, um desafio. Se eu conseguir fazer o mesmo ou melhor que os outros, vou mostrar que somos capazes de fazer parte da sociedade. Não somos só eleitores, podemos ser gestores também”, afirmou Piyãko.


Seguindo o caminho do pai, o vereador Manoel disse que se orgulha de ser político. Ele contou que o pai sempre foi uma liderança na aldeia e que quis honrar com o que aprendeu.


“Meu pai defendeu nossa identidade, nossa cultura. E eu estou seguindo os passos dele com esse trabalho. Para mim é um sonho realizado e me sinto muito feliz em poder representar meu povo”, disse o vereador.


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