Situação precária de ramais prejudica produção rural em Cruzeiro do Sul: ‘estamos desanimados’

“As terras são muito altas e quando abre um buraco dá para fazer uma cachoeira. Nossos produtos não estragam na viagem não. Se estragam lá mesmo. Muitas vezes colhemos e não conseguimos transportar. Tem criança que fica sem tomar o café da manhã porque os pais não têm condições de trazer os produtos para vender na cidade. Nosso ramal ganhou um pequeno trator para o transporte, mas as pontes estão todas caindo”, reclama Maria.

Ela diz que a falta de estrutura nos ramais está desestimulando os produtores rurais. “Como vamos plantar se não temos como trazer para a cidade? A prefeitura tem oferecido muitos cursos, mas de que adianta curso, se não temos estrada. Não vamos mais plantar para estragar. Estamos desanimados, muitos vêm para a cidade e sem o sustento das famílias acabam indo para o mundo do crime”, relata.

Francisca de Oliveira de Miranda, de 54 anos, mora no Ramal 3 e chora ao relatar a situação de abandono do local onde reside há 33 anos. Governo e Prefeitura se eximem de responsabilidade e produtores não têm a quem recorrer.

Ela se emociona ao contar as dificuldades que tem encontrado para comercializar seus produtos.

“A dificuldade maior é no inverno. Tive que carregar minhas coisas em dois bois. Tem atoleiros que até boi atola. Estou muito triste. São 33 anos morando ali e sempre no sofrimento. Meu sonho é de conseguir melhorias para manter nossos filhos lá mesmo, pois é melhor do que vir para a cidade”, lamenta.

Procurado pelo G1 o gerente regional do Departamento de Estradas e Rodagens do Acre (Deracre), Josinaldo Batista, diz que a responsabilidade é do município.

“Foi pactuado que o Deracre entra na recuperação de ramais. Quanto a manutenção e retirada de atoleiros cabe ao município. No verão teremos uma nova conversa para vermos como será a parceria para a recuperação de ramais em 2018”, explica.

Já o secretário adjunto de Obras da Prefeitura, Manoel Costa diz que a responsabilidade é do Estado.

“Houve uma reunião no início do ano no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que retirou a responsabilidade da prefeitura e repassou ao Estado devido a liberação de um recurso pelo Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária]. Não tenho informação se a prefeitura vai fazer manutenção em ramais”, rebate.

O G1 tentou localizar o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais na cidade, mas não obteve retorno até esta publicação.