Professor cria cadeira adaptada a aulas de campo na floresta


Quando ingressou no curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Acre (Ufac), Washington Silva derrubou um obstáculo. Mais um. Não o último. Portador de paralisia infantil e dependente de uma cadeira de rodas desde os 13 anos de idade, o jovem chegou à sala de aula com o desafio de vencer um curso com muitos créditos práticos.


“Eu sabia que era um curso com muitas disciplinas práticas, de contato com a natureza e, consequentemente, mais difícil pra mim em virtude da minha condição de mobilidade. Mas era o que eu queria, então eu insisti e, hoje, eu realizo mais um sonho”, comemora o estudante que, pela primeira vez, pode participar de uma aula de campo.


Para a nova conquista, Washington contou com o apoio do professor Moisés Barbosa. Sem nenhuma experiência com engenharia, o docente tomou o exemplo de alpinistas cadeirantes para desenvolver um protótipo especial que pudesse levar o estudante à atividade prática essencial para avaliação da disciplina que ministra, “Zoologia dos metazoários III”. O resultado foi um sucesso.


“Eu sempre fui dispensado das atividades práticas, com os professores adequando suas formas de avaliação à minha condição. Quando o professor Moisés me conheceu, ele garantiu que me levaria à campo. Quando eu vi essa cadeira o coração disparou. Não é uma questão de ser melhor que o outro, muito pelo contrário. Pela primeira vez, eu tive condições de ver o que todo mundo vê, de sentir o que todos os outros sentem”, festeja Washington.


A cadeira criada pelo docente foi montada a partir de uma roda e um garfo comuns de bicicleta acoplados a uma cadeirinha de automóvel soldada a estruturas metálicas revestidas por aço. “Enquanto professor, é obrigação minha me fazer entender e, no meu caso específico, a participação prática é fundamental. Com o apoio do professor Lisandro Juno e de um torneiro mecânico, foi possível criar uma alternativa eficaz e segura”, afirma o professor que há 29 anos atua no magistério superior da Ufac nos cursos de Ciências Biológicas, Engenharia Florestal e Engenharia Agronômica.


O modelo foi testado no final de semana durante uma excursão à Fazenda Experimental Catuaba (FEC) e contou com a presença de 23 alunos incluindo Washington. Adaptada a áreas de floresta, a mobilidade garantida pela cadeira depende do apoio de outras duas pessoas. Sidney Ferreira, Lucas Piries, Júlio Nauan, Ranieri Maciel, Felipe Oliveira, além do próprio professor dividiram a função nessa primeira experiência.


“Foi-se o tempo em que pessoas com deficiência tinha barreiras para sonhar. A gente tem que acreditar sempre e agradecer a existência de pessoas maravilhosas como o professor Moisés e o professor Lisandro e meus amigos. Eles estão me ajudando a escrever mais uma página do livro que é a minha vida”.


De acordo com o professor, a cadeira adaptada a aulas de campo na floresta ficará à disposição dos cursos de Ciências Biológicas, Engenharia Florestal e Engenharia Agronômica para atendimento de futuros outros alunos com deficiência. “Minha satisfação é conseguir levar conhecimento ao maior número possível de pessoas”, diz Barbosa.


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