Chuva invadiu casas em vários bairros de Rio Branco. Moradores relatam desespero para salvar objetos e lamentam prejuízos.
A aposentada Natalícia Moreira Nunes perdeu praticamente todos os móveis depois de ter a casa inundada durante a chuva intensa que caiu em Rio Branco na noite de terça-feira (13) até esta quarta-feira (14). A mulher mora na Rua José Paulino, no bairro Nova Esperança, há 25 anos e diz que já sofreu várias vezes com enchentes, mas essa acabou invadindo todos os cômodos da casa.
Natalícia perdeu sofás, colchões, roupas, ar-condicionado, guarda-roupas e o rack que foi destruído pela água enlameada. Segundo ela, o problema é causado por um córrego que fica atrás da casa e transborda.
“Sempre que chove é desse jeito. Tem um córrego aqui atrás que transborda e alaga tudo. Já tenho perdido muita coisa, agora perdi foi tudo praticamente. Não posso fazer nada, não posso comprar outro, vou fazer o quê?”, lamentou.
Mas, Natalícia não foi a única que perdeu objetos e móveis durante a chuva. Moradores de outros bairros relataram o medo e o desespero ao ver a água invadindo os locais. Entre os bairros atingidos estão o Nova Esperança e Estação Experimental.
A dona de casa Antônia Bernardes do Nascimento, que mora na Estação Experimental, lembra que no momento do desespero quis salvar apenas a vida dela e da família. Com ajuda da filha, colocaram o marido dela dentro de uma caixa d’água e o tiraram de dentro de casa usando a força da correnteza. O homem, segundo Antônia, não anda e nem fala.
Entre as perdas de Antônia estão a máquina de lavar, centrífuga, ferro de passar, roupas e outros móveis.
“Quando a gente deu fé quisemos salvar só nossas vidas, deixamos tudo ligado e saímos. Minha filha que disse para secarmos a caixa de água e botar meu marido dentro. Foi tudo muito rápido, nem sei explicar, nunca tinha visto isso. Eu olhava na rua e só via a água passar, não via ninguém para ajudar. Melhor a vida, os bens materiais a gente compra a prestação”, afirma.
Já a feirante Maria Aparecida de Almeida relata que acordou com os gritos do marido e que ao saltar da cama já caiu com as pernas dentro da água. Ao abrir a porta, ela conta que viu tudo alagado e não teve escolha a não ser esperar a chuva passar para que pudessem começar a limpeza.
“O que passou pela minha cabeça foi que acabou tudo, não tive mais como fazer nada, comecei a chorar, sou muito nervosa. As coisas estão todas molhadas, acabadas, agora é fazer a limpeza. Fica só o prejuízo para quem não tem quase nada e o pouco que tem acabou”, lamenta.
Maria diz que o problema é causado pela construção de uma galeria no bairro Nova Esperança. Ela pede que os órgãos responsáveis tomem uma atitude em relação à obra que já causou vários prejuízos. Sobre o caso, o Departamento de Pavimentação e Saneamento (Depasa) informou, nesta quarta (14), que vai encaminhar uma equipe técnica para verificar a situação.
“Pra mim foi horrível, acordei com a minha casa toda alagada e pelo meu esposo já me chamando, me dizendo para eu olhar a situação da nossa casa. Os móveis estavam todos boiando. Pedimos que alguma coisa seja feita nessa galeria, pois se permanecer desse jeito vai continuar, muitas pessoas, assim como eu, tiveram prejuízos. São pessoas que tem pouca coisa, mas lutam para botar as coisas dentro de casa”, ressalta.
Quem também teve prejuízos aposentada Gercinda Holanda. Ela conta que a família ficou em uma situação desesperadora e que durante a inundação havia idosos na casa.
“A gente não sabia o que fazer. A água veio por todos os lados, foi tudo muito rápido. Espero que as autoridades vejam essa situação e tomem uma atitude. Prejuízos tem muitos. A gente veio na casa do meu primo para fazer um churrasco durante a noite e quando vimos a situação já estava desse jeito”, relata.
Mais de 200 ocorrências
Por toda a cidade, houve ocorrências de casas e ruas inundadas e prédios danificados. De acordo com a Defesa Civil, em 24 horas, choveu 277 milímetros dos 279 que eram esperados para todo o mês de fevereiro.
O Corpo de Bombeiros afirma que registrou quase 212 ocorrências. A maioria foi de casas alagadas, idosos e também animais que ficaram ilhados devido ao grande volume de água que tomou de conta das moradias. Mesmo após a chuva ainda era possível ver muitas ruas alagadas.