Encontrei uma mulher desolada, por volta de 18:45 deste sábado. Para falar sobre o drama de sua filha, houve condições aceitas pela reportagem, na presença dos advogados, sem gravação, sem filmagens. Toda a fala da mulher foi anotada, no banco traseiro de um veículo. O desabafo e o choro incontido dão a impressão de que ela perde forças para lutar, mas se apega aos poucos amigos que lhe amparam neste instante. A paciente, hoje com 24 quilos, tratava de uma leucemia há 5 meses, no Hospital da Criança, quando, no dia 12 de janeiro, após segundo exame, foi confirmada a infecção por HIV. As plaquetas saíram contaminadas do Hemoacre e todos os laudos médicos estão anexados numa ação judicial em que é pedida indenização de R$ 750 mil ao estado.A acusação é de omissão e negligência.
As últimas 48 horas, porém, foram de muitas mentiras do secretário de Saúde, Gemil Júnior, e da diretora do Hemocentro, a enfermeira Elba. A mãe da menina não mede palavras: “Eu não tenho assistência social. Eu não tenho psicólogo. Eu não tenho apoio do governo. Eu não recebi dinheiro nenhum. Esse homem é um mentiroso. Eu quero encontrá-lo para dizer na cara dele que ele está mentindo”, disse a mulher, entre soluços.
Gemil, o secretário, pré-candidato a deputado estadual pelo PT, foi para uma rádio, neste sábado, e disse que recursos arrecadados com a “Corrida do Bope” teriam sido revestidos, em toda a sua totalidade, para ajudar a família da criança doente. “Eu não fui procurada por ninguém. Eu cubro todas as despesas com minha filha. Até o taxi para levar minha filha ao hospital sou eu quem paga. São 50 reais por viagem. Não quero piedade. Eu quero justiça. Eu quero que parem de mentir usando o drama da minha filha”, desabafou.
Bastante humilde, a mulher perdeu toda a mobília durante as chuvas que elevaram o nível dos iragapés em Rio Branco. Hoje, a família recebe ajuda de uma vizinha, mas não tem dinheiro e não conseguiu salvar a mobília. “O meu mundo não existe mais”, desespera-se. Segundo ela, o secretário também mentiu ao afirmar que o infectologista Thor Dantas faz o acompanhamento da menina. “A médica de minha filha é outra. Eu posso provar”.
A mulher foi encaminhada ao Hospital de Saúde mental (Hosmac) ao passar mal diante da notícia de que a filha estava com HIV. “Me trancaram numa sala, não me prepararam para nada. Isso não se faz”, afirmou. Os advogados de defesa dizem que até a medicação da mulher foi comprada por amigos, já que o estado não se dignou a providenciar.
“Minha filha está bem. Mas não sei como será daqui há alguns dias”, disse. A menina voltará ao hospital no dia 1 de março, quando começarão as novas sessões de quimioterapia ( ele já fez oito sessões) associadas ao coquetel antiaids (medicamentos antirretrovirais que evitam que o HIV se multiplique desordenadamente, impedindo que o sistema imunológico do paciente fique seriamente prejudicado.
A ação judicial pede a condenação do estado por omissão e negligência. Em liminar, foi ordenado que a Sesacre pague dois salários mínimo, em caráter extraordinário, antes do julgamento de mérito. Os advogados do governo têm 30 dias para se pronunciar.