O empreiteiro Carlos Odilon Pereira confirmou ter repassado R$ 200 mil, em espécie, ao então diretor do Deracre, Ocirodo Oliveira Júnior. O dinheiro, a título de propina, corresponde a 10% do contrato e foi entregue em duas parcelas, sendo no primeiro e segundo turnos das eleições de 2014, quando o governador Tião Viana (PT) foi reeleito. Em depoimento na Polícia Federal, o empresário disse que foi obrigado a fazer o repasse para não ter o contrato de sua empresa cancelado com o Departamento Estadual de Estradas e Rodagens.
O depoimento é parte da investigação federal no esquema que ficou conhecido como “Operação Buracos”, em que são apurados desvios de R$ 700 milhões em obras rodoviárias nas gestões anteriores do Deracre – inclusive na do atual prefeito petista, Marcus Alexandre. Carlos Odilon, um dos indiciados pela PF, revela, ainda, que a lista de pessoas que deveriam receber a propina tem 64 nomes.
O depoimento, obtido pela reportagem de acjornal, indica que um militar, então diretor do Deracre, deu ordens para fazer os repasses. Para justificar os pagamentos, houve uma manobra na contabilidade do Deracre, em que as horas trabalhadas pelas máquinas que prestavam serviços ao governo deveriam ser alteradas. Dessa forma, créditos extras foram gerados para serem transferidos às contas da empresa. O empresário revela que, internamente, circulou a informação de que os recursos seriam usados para pagar horas extras aos trabalhadores. Ele disse não ter acreditado nessa versão, e afirmou que o dinheiro proveniente do esquema seriam “um prêmio aos eleitores que votariam no governador”.
A PF já tinha informações seguras de que houve grandes retiradas das contas da empresa, a Dilon Terraplanagem. Ao ser “encurralado”, o empresário abriu o jogo. Segundo ele, a propina caiu diretamente para o então diretor do Deracre. Outros pessoas são citadas como receptadores de dinheiro sujo no município de Cruzeiro do Sul.
Em abril de 2015, Ocirodo pediu exoneração alegando questões pessoais. Em nota, ele diz ter decidido deixar o cargo para se dedicar à família. “Conversei muito com a minha família e decidimos que é hora de estarmos mais próximos. Por isso, dialoguei com o governador e chegamos ao consenso de que é o momento de sair da vida pública”, afirmou Júnior.