Cúpula do banco descarta o uso de qualquer ajuda financeira externa, como repasse do Tesouro Nacional ou do FGTS
A Caixa precisa de cerca de R$ 6 bilhões neste ano para se enquadrar dentro das regras de instituições financeiras mais sólidas para assumir riscos. Segundo a reportagem apurou, a cúpula do banco, mantendo o plano estabelecido ainda no ano passado, descarta o uso de qualquer ajuda financeira externa, como repasse do Tesouro Nacional ou do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).
O plano de contingência, já aprovado, traça como fontes de recursos para atingir os R$ 6 bilhões uma emissão externa de bônus, a venda de carteiras atraentes e a preservação de uma política mais rígida na distribuição de dividendo aos acionistas, no caso, o governo federal.
A Caixa já cortou pela metade a distribuição de dividendos, mas prefere reter os ganhos para promover uma espécie de recapitalização.
Em paralelo, a nova gestão tem o desafio de despolitizar decisões e identificar redutos de corrupção. Uma auditoria interna faz um pente fino na instituição. O banco é alvo de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público. Foi obrigado a destituir parte dos vice-presidentes acusados de pedir propina para liberar financiamentos.
A percepção do comando é que a Caixa tem condição de resolver todas as pendências de gestão e financeiras por seu próprio esforço. No entanto, reconhece que o desafio de 2018 será alinhar a estrutura do banco para cumprir o chamado Basileia 3.
O Índice de Basileia é o indicador que mede a musculatura financeira dos bancos. Foi uma das exigências estabelecidas pelo Acordo de Basileia, assinado em 1988 na cidade suíça homônima e adotado No Brasil em 1994.
Basicamente, o índice é uma conta matemática. Divide-se o patrimônio do banco pelos ativos ponderados pelo risco. Ocorre que o Basileia estabelece parâmetros para se definir o que vale na conta. À medida que o setor financeiro mostra falhas, o índice é aperfeiçoado, com adoção de novos critérios e parâmetros, sempre mais rígidos.
Em 2004, depois da falência de vários bancos, veio o Basileia 2, com princípios para contabilidade e transparência das instituições –passou a valer no Brasil em 2007.
Em 2010, após a crise financeira global, institui-se o Basileia 3, cujas exigências buscam garantir principalmente que os bancos tenham um colchão extra de recursos para suportar possíveis perdas com operações mais arriscadas. Basileia 3 está em fase de implantação.
LIQUIDEZ
Para atender as novas exigências, os bancos são obrigados a garantir um volume maior de ativos próprios e líquidos (que possam ser convertido em dinheiro rapidamente em caso de crise). A Caixa, banco estatal, com uma série de políticas públicas para atender, precisa de um esforço adicional para atingir esse objetivo.
A Caixa atingiu em 2016 índice de basileia de 13,54%. Em relação ao ano passado, vai divulgar que o indicador ficou acima de 17%. Isso quer dizer que a cada R$ 100 emprestados, dispõe de R$ 17.
Seu desafio está em garantir o nível 1 de capital, que entra na conta do índice e indica o volume de dinheiro disponível para que o banco não quebre em caso de grave crise no sistema financeiro.
Dentro das regras anteriores, em 2016, a Caixa alcançou 9,47%. O mínimo à época,de 6,63%, foi elevado para 7,5% em 2017. A Caixa vai divulgar nos próximos dias que atingiu mais 11%.
Neste ano, precisa alcançar 8,37% já atendendo Basileia 3. O indicador é menor, mas a exigência é maior. Parte dos ativos que deram sustentação ao resultado anterior já não podem mais ser usados nesse novo degrau–daí vem a necessidade ter um capital adicional de R$ 6 bilhões até o final do ano.
Desde 2017, o banco implanta um pacote de ajuste que reviu critérios para empréstimos e teve, inclusive, redução de 10%, na liberação de novos financiamentos.
Fez campanhas para recuperar débitos,fechou agências, fez plano de demissão voluntária e reviu o plano de saúde, que exigia provisionamento pesado. Também suspendeu fontes de captação mais onerosas, como CDBs. Com informações da Folhapress.