Patrícia Neves consumiu drogas e álcool por 25 anos e hoje trabalha no Núcleo agora ajuda dependentes nas ruas de Rio Branco.
Quem vê Patrícia Neves, auxiliar técnica no Ministério Público do Acre (MP-AC), levantando cedo, se arrumando para o trabalho e tomando café com a família antes de sair, não acredita que ela foi usuária de drogas e álcool por 25 anos e passou três na prisão.
Depois de superar o vício, a mulher ajuda dependentes químicos nas ruas de Rio Branco e tenta fazê-los largar os vícios. Ela trabalha como auxiliar técnica no Núcleo de Atendimento Terapêutico Psicossocial em Dependência Química (Natera) do Ministério Público do Acre (MP-AC).
Neide Neves, mãe de Patrícia, diz que o período em que a filha se tornou dependente química foi bastante doloroso para a família. Ela afirma que não há palavras para descrever a situação que elas viveram.
“Costumo falar que nem existe uma palavra que eu possa expressar o que foi aquela dor e sofrimento que tivemos um dia, comparado ao que é hoje”, relembra.
Patrícia fez tratamento contra as drogas e o álcool em uma clínica de recuperação na capital. Quando chegou ao local, ela tinha um comportamento agressivo, era difícil de lidar e tinha constantes recaídas.
Depois de ser presa, na terceira tentativa, ela passou um ano cumprindo as normas e começou a acreditar que podia ficar liberta, o que aconteceu um tempo depois.
O Jornal do Acre 2ª edição acompanhou a rotina de trabalho da auxiliar técnica. A primeira parada dela acontece antes do programado. Ao encontrar uma usuária que está há nove anos nas ruas, Patrícia aborda a mulher e conversa com ela.
Os conselhos parecem ter efeito. “A Patrícia é um exemplo para mim. Acho que vou sair [das drogas]. Se ela saiu eu também saio, tenho certeza que vou chegar lá”, diz a moradora.
A segunda parada é o Terminal Urbano, onde há uma grande concentração de usuários de drogas. Patrícia aborda e conversa com cada um pacientemente.
“Não é fácil voltar [para um local onde usava drogas] e ver eles dessa forma. Eu queria levar todo mundo para casa terapêutica para todos ficarem bem, mas é um trabalho de conscientização de todos os dias”, explica a auxiliar técnica.
Com uma abordagem atenciosa e dedicada, ela recolhe informações de cada usuário que conversa. Além disso, Patrícia também tenta convencer os usuários a iniciarem um tratamento e sair das ruas.
Depois de recolher as informações, ela segue para a sede do MP-AC, onde faz a triagem e acompanhamento de casa no Natera.
“Às vezes que eu passava aqui, eu não olhava porque nunca queria ver meu reflexo, sabia que estava muito debilitada. Nunca imaginei estar lá dentro na situação que ocupo hoje. Aposto também que quem me via, jamais ia imaginar que eu poderia um dia estar lá dentro. Aqui [no MP-AC] fazemos tudo com muito amor. Percebi que não olham somente para o papel, mas para a pessoa”, fala Patrícia.
Fábio Fabrício, coordenador do Núcleo Psicossocial do MP-AC, diz que exemplos como o de Patrícia podem render histórias como a dela. “Com essa informação chegando a casa das pessoas, queremos que ela possam ter um novo olhar, diferenciado, sobre esse assunto”, afirma.
E apesar de pouco tempo no trabalho, Patrícia já planeja um futuro próximo. “Se Deus quiser já vou começar minha faculdade de direito agora. E vou estudar para isso, para que os direitos deles sejam cumpridos e os deveres também. Aprendi isso em dois meses que estou aqui [no Núcleo Psicossocial], todo dia é um aprendizado. Amor é a palavra-chave”, finaliza a auxiliar técnica.