Azul informou que não comenta casos sub judice. Médico Tayron da Silva, de 28 anos, conta que na primeira queda caiu de joelhos no corredor do avião e na outra de cara no asfalto.
A Justiça do Acre condenou a Azul Linhas aéreas a pagar R$ 30 mil ao médico Tayron Ismael Oliveira da Silva, de 28 anos, por tratamento vexatório. O homem é tetraplégico e caiu duas vezes durante uma viagem pela empresa aérea em 2015 durante o trajeto de Manaus (AM) a Rio Branco. Ele conta que em uma das quedas ficou de joelhos no corredor do avião e em outra caiu com o rosto no asfalto, no momento do embarque.
A sentença do juiz Gustavo Sirena, da Vara Cível da Comarca de Brasileia, foi divulgada pelo Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC) nesta terça-feira (16). A empresa ainda foi condenada a pagar R$ 1,6 por danificar a cadeira de rodas nova e adptada de Silva. Em nota ao G1, a Azul informou que “não comenta casos sub judice”.
“Nunca pensei que iria passar por uma situação tão constrangedora na minha vida. Naquele momento, não conseguia nem pensar”, lembra.
O jovem relatou que é paciente do Hospital Sarah Kubitsch, em Brasília, e todos os anos viaja para fazer exames. No dia em que passou pelo constrangimento, ele chegou em Manaus e tinha um tempo de espera de 12 horas. Ele conta que desembarcou tranquilamente na cadeira dele e foi para um hotel.
Os problemas começaram no momento de embarcar em Manaus. O médico estava acompanhado pela mulher que foi treinada pelo hospital para dar toda a assistência a ele.
Dois funcionários da Azul empurravam a cadeira adaptada quando a companheira informou que a cadeira não entrava na aeronave. Segundo ele, os dois insistiram e não deram ouvidos ao casal, que dizia como os funcionários deviam proceder.
“Um dos funcionários entrou no corredor da aeronave e ficou atrás da cadeira. Ele não tinha como passar para frente e ajudar o outro a me colocar na poltrona do avião. O que estava na frente me pegou pelos braços, eu falei que precisava ser pela cinta e que precisava da ajuda de outra pessoa. Ele não ouviu, foi super grosso, me pegou pelos braços e diretamente fui de joelhos ao chão”, relata.
Após ser colocado na poltrona, Silva e a mulher seguiram para Porto Velho (RO). Ao desembarcar, os dois perguntaram pela cadeira adaptada que era usada por ele. No entanto, foram informados de que o médico iria ficar na cadeira da companhia, pois o tempo de espera do voo era curto. Na sala de espera, o voo atrasou e o cadeirante foi o último a embarcar.
Silva conta que novamente enfrentou problemas. O médico relatou que o funcionário da Azul empurrava a cadeira muito rápido e, devido à depredação causada pelo asfalto nas rodas da cadeira, ele teve um espasmo de tronco e caiu com o rosto diretamente no chão.
“Ainda tive que acalmar o funcionário que estava comigo, ele começou a gritar e chamava um médico. Expliquei que era médico e que ele poderia ficar tranquilo. Fiquei morto de vergonha, nunca pensei passar por tamanho constrangimento. Minha esposa largou as bolsas no chão e veio me ajudar. Quando fui acomodado na aeronave coloquei meu óculos e comecei a chorar”, conta.
Cadeira quebrada
A saga de Silva continuou ao chegar em Rio Branco, capital acreana. No momento do desembarque, a equipe da Azul trouxe a cadeira dele sem o suporte para o braço do lado esquerdo. Ele e a mulher perguntaram sobre a peça, os funcionários procuraram, mas não encontraram.
Um documento foi entregue ao casal onde a empresa se responsabilizava por devolver a peça. O médico conta que ligou várias vezes e sempre era redirecionado para outra pessoa e informava que o responsável estaria presente para a entrega, mas, após um mês, isso nunca aconteceu.
Silva teve de comprar uma outra cadeira de rodas adaptada. A primeira, comprada em 2014, custou R$ 3,4 mil. O médico doou a cadeira sem a peça para uma pessoa que necessitava. Segundo ele, a família fez um suporte para o braço usando madeira.
Ele conta que a intenção não era entrar com uma ação judicial contra a empresa, mas, além de todo o constrangimento, nunca receberam nenhum posicionamento da Azul e foram lesados pelo suporte que nunca foi entregue.
“Até hoje tenho receio de viajar, medo de cair. Entrei pelo prejuízo da cadeira, fiquei muito bravo. Tive de comprar outra cadeira, não poderia ficar com uma quebrada, não tinha condições. Para mim, esse resultado está bom, se eu realmente tivesse a intenção de processar desde o início teria tirado fotos, gravado vídeos, mas não fiz isso”, alega.
O médico espera que o processo faça a empresa rever o treinamento dos funcionários e também a forma como trata pessoas com problemas de mobilidade.
“Espero que não aconteça com outros o que aconteceu comigo. Seria muito bom se eles preparassem as pessoas que trabalham lá para lidar com cadeirantes. Em outras empresas as pessoas são cuidadosas e atenciosas, elas nos escutam. Viajei para a Bahia por outra empresa e sempre perguntavam como deveriam proceder. Espero que a Azul faça o mesmo”, finaliza.