Em mensagem enviada ao pai, estudante diz que errou e que quer consertar. Livros dois e três, dos 14 da obra, serão vendidos a preço de custo, pois já estavam feitos pela editora, segundo o pai.
Após ser processado pelo amigo Márcio Gaiote, o estudante Bruno Borges, de 25 anos, que ficou conhecido como “Menino do Acre”, decidiu que vai publicar todas as suas obras de forma gratuita na internet.
Bruno, que está fora do país, avisou ao pai, nesta quinta-feira (11), da decisão e disse que não deveria ter cobrado pelas obras e que não vale a pena dinheiro nenhum.
No processo, Gaiote alegou que não recebeu os lucros pelas vendas dos livros conforme foi estabelecido no contrato de sociedade intitulado “Projeto Enzo” que inclui 14 obras lançadas pelo estudante.
Ao G1, o pai do estudante, Athos Borges, disse que o filho decidiu não cobrar mais pelos livros para acabar com as especulações envolvendo seu nome.
Segundo ele, apenas os volumes dois e três, que já estavam prontos para lançamento, ainda serão cobrados e lançados em e-book, porém a preço de custo, mas as outras 11 obras serão gratuitas e disponibilizadas em PDF.
“Toda a obra dele a partir de agora vai ser disponibilizada gratuitamente para acabar com toda essa especulação e maldade que fizeram com o nome dele e de nossa família. Isso foi uma decisão que o Bruno tomou. Ninguém mais vai poder falar que o Bruno tem qualquer obra para poder se beneficiar disso ou ganhar dinheiro com isso”, afirmou Borges.
Em mensagem enviada ao pai nesta quinta, Bruno falou que errou ao vender a obra e que quer consertar o erro. O jovem disse ainda que sua profissão será apenas a de escritor e nenhuma outra.
“Você vai dizer que vai publicar todas as minhas obras gratuitas, e que tudo o que eu escrever irá ser gratuito pelo resto da minha vida (…) Minha vontade é que seja tudo de graça. Eu sempre quis isso, eu falava isso pro Marcelo antes de me isolar. Eu acho que errei e quero consertar esse erro. Dinheiro nenhum vale a pena assim. Não tenho nem coragem de dizer para as pessoas que essa era minha missão. Nem eu acredito mais tanto nisso”, disse Bruno.
Amigo quer 4% da venda dos livros
O amigo de Borges, Márcio Gaiote, processou o estudante alegando não ter recebido os lucros pelas vendas dos livros, conforme foi estabelecido no contrato de sociedade. O advogado de Gaiote, Germano Maldonado Martins, diz que o acreano nunca pagou nenhum valor ao amigo.
No processo, o advogado de Gaiote diz que o “pacto” entre os amigos definia o percentual de 4% do faturamento das obras todo dia 10 de cada mês.
A mãe do estudante, Denise Borges, afirmou que ia procurar um advogado e buscar a Justiça para resolver o caso. Ela afirmou que está revoltada com as falsas acusações e que vai procurar todos os direitos do filho.
Na ação, Gaiote pede uma tutela provisória de urgência para que os repasses dos livros fiquem retidos nas contas das editoras e não sejam pagos a Borges. O pedido foi indeferido pela Justiça, pois, segundo consta no sistema de consultas processuais do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC), não há “requisitos legais necessários à concessão da medida”.
Entretanto, um outro pedido da ação foi deferido pela juíza Thais Queiroz Khalil. Gaiote pede que Borges faça uma prestação de contas dos lucros das vendas. Na decisão, a magistrada deu o prazo de 15 dias para que o Bruno se pronuncie no processo e pague o valor ou conteste a ação, segundo Martins.
O processo descreve ainda que a primeira obra de Borges teve a venda de mais de 20 mil cópias no valor de R$ 24,90, além da versão em e-book.
Relembre a história
Bruno Borges, de 25 anos, sumiu no dia 27 de março do ano passado e ficou quase cinco meses em isolamento em um local que nunca divulgou até reaparecer em casa em 11 de agosto de 2017. O desaparecimento do jovem foi envolto em mistérios e ganhou repercussão nacional.
O quarto de Borges ficou conhecido em todo o mundo pelos escritos, símbolos e também por uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), por quem tem grande admiração, que custou R$ 10 mil.
Antes de sumir por vontade própria, o jovem deixou também 14 livros escritos à mão e criptografados, com alguns trechos copiados nas paredes, teto e no chão do quarto.
Durante as investigações, a polícia encontrou móveis do quarto do acreano na casa de Gaiote, que participou do projeto e foi conduzido para a delegacia.
Gaiote, que mora na Bahia, chegou a ser indiciado para depor na capital acreana, mas não compareceu, sendo indiciado indiretamente. Ao G1, em setembro de 2017, Borges esclareceu que os amigos não furtaram os móveis.
Após a família lançar o primeiro livro do jovem, em 20 de junho do ano passado, o livro “TAC: Teoria da Absorção do Conhecimento” entrou para a lista “não ficção” dos mais vendidos da semana, entre 24 e 30 do mês de julho de 2017.
O ranking foi feito pelo site PublishNews, construído a partir da soma das vendas de todas as livrarias pesquisadas.
Para a reportagem do G1, Borges disse, em setembro do ano passado, que estava tentando se inserir aos poucos na sociedade.
Ele relatou que era difícil ter contato com muita gente devido ao período que ficou isolado. Ele disse ainda que futuramente pretende abrir um portal de estudos para manter contato com os admiradores de sua obra.