O laudo pericial de exame grafotécnico comprovou que o casal Márcio Augusto de Brito Borges, de 45 anos, e Claudineia da Silva, de 39 anos, escreveu as cinco cartas encontradas em um cômodo da residência militar, na tarde de 28 de julho deste ano. Os pais da universitário Bruna Borges, que transmitiu o próprio suicídio via Instagran, três dias antes, cometeram o que a polícia chama de “autoeliminação”.
Documentos pessoais fornecidos pelo Exército (Márcio era subtenente) e por familiares de Claudinéia (ela era enfermeira) foram comparados com a caligrafia das cartas, deixadas sob os corpos pendurados em cordas, na garagem da residência, na Vila Militar, Bairro do Bosque, Rio Branco.
A Polícia Técnica afasta, portanto, a hipótese de que os documentos tenham sido “plantados” na cena do duplo suicídio. As circunstâncias que levaram Claudinéia e Márcio a tomarem esta decisão ainda são investigadas em inquérito aberto pela polícia civil. Numa das cartas, Márcio “não vale mais a pena”, dando a entender que havia desistido da vida. Noutro trecho, ele diz que vai encontrar a filha.
O diretor do departamento de polícia técnico cientifica Halley Marcio Villasboas disse que o laudo será encaminhado para a delegacia que apura o caso.
A família de Claudinéia não aceitou que seu corpo fosse velado junto ao marido. O corpo de Márcio foi levado para o Estado do pará, sua terra natal. Parentes da enfermeira chegaram a suspeitar que o marido tivesse pressionado a esposa a tirar a própria vida.
Carta deixada por Márcio Augusto de Brito Borges, pai de Bruna Borges:
Eu, Márcio Augusto de Brito Borges, Deixo expressa a minha vontade de que meu irmão, Antônio Luís de Brito Borges, gerencie e faça a partilha desses bens aos restantes dos meus irmãos, incluindo o meu sobrinho Rafael, totalizando 5 pessoas.
Apartamento da Isaura Parente, avaliado em 220.000 reais. Poupança no valor de aproximadamente 2.500 reais na Caixa Econômica. E mais o meu salário do mês, que vai cair no banco Santander. Carro Onix Placa OTV 7621, fica para o meu irmão Antônio.
Minhas ferramentas, duas impressoras, a que está no quartel é minha, duas máquinas de costuras, devem ser entregues ao meu amigo SD Wisley Oliveira, o qual deixo 1.000 reais que estão em um envelope em cima da cama.
Toda a roupa que está arrumada deve ser jogada no lixo. Meus dois cachorrinhos Shitzo ficam com o meu irmão Antônio. Até o meu retorno de viagem deixo 110,00 reais para pagar a conta da cantina no 4º BIS. 2.950,00 reais no porta-luvas do carro pra custear a vinda do meu irmão Antônio até aqui. As chaves do carro estão em cima da mesa de plástico. As chaves do meu apartamento estão em cima da mesa de plástico. E, por fim, deixo um grande abraço aos companheiros Morelato, Bessani, Jonas, Izaquias, Sandro, a todos da SUOPES GUERREIRA e a todos que deixei de citar neste momento, são muitos e seria difícil colocar todos aqui.
Hoje estarei junto de minha amada filha. Não é fraqueza minha, mas sim uma vontade enorme de tentar encontrá-la, se realmente existir vida além dessa, que é algo que não acredito, mas vou tentar. Não é fácil não fazer isso, mas é necessário, tem que ter muita coragem e minha pequena foi muito audaciosa e corajosa. Sou covarde, mas encontrei coragem pra ir até o final.
E pra não deixar de fazer uma referência, comento rapidamente sobre a falta de prestígio que um subtenente tem dentro do Exército, pois somos entubados de missões e sem qualquer tipo de reconhecimento, por muitas vezes tendo que nos rastejar para conseguir uma promoçãozinha. Digo a todos não vale a pena. Vão se dedicar a suas famílias. Os nossos comandantes ganham muito bem para ficar depois do expediente. Já nós, praças, não temos essa mesma obrigação. Desabafo de um profissional, pois é o que eu sempre fui e sempre tive o reconhecimento de todos para quem trabalhei. Obrigado e fiquem todos com Deus!
Reconhecimento de todos para quem trabalhei.
Obrigado e fiquem todos com Deus!
Carta deixada por Claidineia da Silva Borges, mãe de Bruna Borges:
Eu, Claudineia da Silva Borges, deixo expresso minha vontade que minha mãe, Maria Helena da Silva, fique com todos os meus bens, como meu apartamento no Residencial Araçá, localizado na Rua Gabriel Soares, bairro Nova Esperança.
E minha moto deixo para meu sobrinho Wuillian Robson.
No Banco do Brasil tem meu salário do Iapen, que também é pra minha mãe. Minha pecuniária, que até hoje não recebi e que vai dar em torno de 30 mil, também é pra minha mãe.
E, por fim, minhas coisas de casa e pertences deixo tudo pra minha mãe. E peço pra minha mãe ajudar minha irmã Katia Silerne da Silva na compra de sua casa.
E assim me despeço de todos dizendo que amo a todos, principalmente minha mãezinha, que peço mil perdões, mas não conseguirei viver sem minha filha. Meus irmãos, peço que ajudem minha mãe e me perdoem. Não se preocupem. Vou estar com minha filha e feliz.
OBS. Também imposto de renda que vai cair no fim do ano fica para as famílias.