A busca de provas para o desvio de R$ 700 milhões na construção de rodovias federais no Acre e em Rondônia atingiu, em cheio, o prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre. Duas delações homologadas na última semana agravaram o envolvimento dos suspeitos citados na Operação Buracos, que ganhou repercussão nacional com a condução coercitiva do prefeito e de sua esposa, Gicélia Viana, para depor à Polícia Federal no dia 30 de outubro. A reportagem de acjornal confirmou a delação de um ex–técnico do Governo do Acre, Dêmio Sangello.
“Tivemos duas delações premiadas. O nível de detalhes e provas que conseguimos trazem nos dão a certeza de um grande esquema de corrupção. Muito desvio de dinheiro, especialmente para as eleições”, informou o delegado Jacob Melo, da Polícia Federal, que está em férias em sua cidade de orígem, no Nordeste Brasileiro. A PF trabalha com extrema discrição e o delegado, por razões óbvias, não pode detalhar a delação neste momento.
Apuramos que as informações recém chegadas na PF servem de preparo para novas fases da Operação Buracos, previstas, provavelmente, para antes do Natal, com prisões, buscas e apreensões que podem causar enorme estrago nas pretensões do Partido dos Trabalhadores e da Frente Popular do Acre. A rede social que integra grupos mais focados na conjuntura política local trazem informações de que o prefeito repensa a sua pré-candidatura ao Governo do Acre. As razões seriam o alcance da operação da PF no escândalo que envolve, ainda, grandes empresários, dentre eles um dos principais atacadistas e varejistas do estado. Um deles tem depoimento agendado para esta quarta-feira, na Polícia Federal.
Ordens judiciais para o desdobramento da investigação serão dadas pelos tribunais de Brasília, o que torna ainda mais complicada a vida dos envolvidos no esquema – e do próprio prefeito de Rio Branco. Um “plano B” já é tido como prioridade entre os dirigentes da FPA. E os estudiosos do marketing político precisaram botar o pé no freio diante do futuro incerto. Quem substituiria substituir Marcus Alexandre na disputa com o senador Gladson Cameli e com o coronel Ulisses? Aventa-se que o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Ney Amorim, possa ser o único capaz de reunir condições para vencer as eleições em outubro de 2018, dado seu carisma, seu potencial de articulador, sua ascensão rápida e experiência como gestor do parlamento e, sobretudo, pelo fato de ter nome limpo.
O delator e o medo de morrer
Temendo pela própria vida, um dos delatores se viu obrigado a confidenciar detalhes da delação a um amigo, alto servidor do governo, com quem o acjornal.com conversou. Ele admitiu ter sido procurado, mas nega fornecer o teor do que lhe foi confiado. “Não cabe a mim fazer juízo de valor, tampouco levar adiante informações que estão sob a guarda da Justiça, dos investigadores e da polícia”, afirmou. “Não me pergunte as razões para este cidadão ter me procurado. Só posso dizer que ele fez o que achou necessário (delatar) para resguardar a si e a integridade de seus familiares. E agora está sofrendo”.
A Operação Buracos apura o desvio de verbas públicas destinadas a estradas federais no Acre e em Rondônia. A ação é realizada em conjunto com o Ministério Público Federal, Controladoria-Geral da União, Tribunal de Contas da União e Receita Federal.