Prova relacionava cantora drag com conteúdos sobre genética da herança sexual e cromossomos.Educador disse que ouviu críticas boas e ruins.
Uma questão que envolve gênero e biologia. Foi assim que uma pergunta elaborada para uma prova de recuperação da disciplina de biologia, aplicada aos alunos do 1° ano do ensino médio de uma escola privada de Rio Branco, uniu a cantora Pablo Vittar e a genética humana.
A abordagem gerou repercussão nas redes sociais e chamou a atenção de quem fez a prova.
No enunciado da pergunta, os alunos receberam a informação de quem é Vittar. Depois, eles tiveram que bater cabeça para descobrir quais cromossomos (X, Y ou X e Y) se manifestaram na artista.
Tiago Benedetti, o professor que elaborou a pergunta abrangendo questões sociais e científicas, fala que os alunos estudavam a genética da herança sexual e cromossomos sexuais no 4° bimestre.
Segundo ele, o conteúdo gera discussões e questionamentos por parte dos alunos de como os cromossomos interferem na sexualidade humana. “Isso na aula sempre levanta aquela questão de ‘ah, mas se tem homem e mulher o que acontece no meio termo. Por que tem hétero, homo e o que é o transsexual?’ Os alunos ficam muito curiosos em relação a isso”, explica o professor.
O educador conta que o debate sempre abre manifestações, até mesmo homofóbicas, em sala de aula. Por trabalhar questões como entendimento e respeito, veio a sacada de elaborar a pergunta.
“A ideia foi usar uma persona da mídia para ilustrar [o conteúdo]. O que eu precisava era criar uma questão que testasse o conhecimento dos alunos, mas colocando o contexto popular que todos pudessem identificar”, justifica.
Benedetti afirma que pensou a pergunta com base nos questionamentos feitos pelos estudantes. Ele lembra que a maioria dos meninos e meninas sempre questionaram se heteros, homos, bis e transsexuais tinham condições genéticas diferentes. “O que quis mostrar com essa questão foi que não. No fim das contas, são todos iguais geneticamente”, declara.
Manifestações e repercussão
O professor relata que após a prova, a maioria dos alunos expressaram manifestações positivas. Mas, também houve algumas negativas. Do papel, a pergunta gerou debates construtivos em sala de aula entre os próprios estudantes.
“Alunos que se sentem hostilizados falaram que gostaram de ver uma questão dessa mostrando que é uma condição normal e que não tem que ser escondida”, explica.
Entretanto, Benenedetti enfrentou algumas críticas. Após publicar a foto da pergunta no seu perfil em uma rede social, ele conta que algumas pessoas e grupos evangélicos se manifestaram contra a abordagem feita em sala.
De acordo com ele, as manifestações negativas citavam referências bíblicas. Ele avalia que a pergunta levanta debates sobre questões que podem causar polêmica.
“A grande coisa é trazer isso para um debate no ambiente acadêmico. A brincadeira é provocar na escola para o assunto crescer lá fora. Nos corredores, no intervalo e nas famílias, o aluno vai acabar levando isso, cria um debate. Não faço parte de nenhum movimento, mas acho que trazer esse debate para a escola é saudável, correto e necessário ainda mais em tempos que a homofobia está crescendo nessa rede”, finaliza Benedetti.