Ruas como Cel. José Galdino e Cel. Alexandrino homenageiam personagens da Revolução Acreana. Historiador fala que logradouros começaram a se formar entre os anos de 1950 e 1960.
Não é difícil encontrar bairros, monumentos e memoriais com os personagens da Revolução Acreana, luta que resultou na incorporação do território acreano ao Brasil. E a história ainda marca o cotidiano de quem anda pelas ruas da cidade.
No bairro Bosque, por exemplo, duas ruas levam nome desses revolucionários: a Cel. José Galdino e Cel. Alexandrino.
O historiador Marcus Vinícius explica que a região do Bosque era uma área que pertencia ao Seringal Empreza. Segundo ele, várias colocações existentes na região foram desapropriadas pelo Estado entre 1947 e 1948.
“O bairro começa a se formar no final dos anos de 1950 e início dos anos 1960. As ruas começaram a ganhar nome organicamente, nomeadas pelo Poder Público”.
A desapropriação foi feita no governo de José Guiomard dos Santos, governador do estado pelo período de 1946 a 1950, para ampliação da cidade de Rio Branco.
Nesse período a cidade foi dividida em duas zonas (ampliada e suburbana) e várias colônias agrícolas (Custódio Freire, São Francisco, Apolônio Sales e outros). Esses dois fatores foram fundamentais para a atual configuração da cidade.
Vinícius explica que não há uma data exata da criação dos logradouros. O historiador fala que, a partir da Avenida Quintino Bocaiuva e Estrada do Aviário, a maioria das ruas transversais receberam nomes dos líderes revolucionários, quase todos seringalistas, que atuaram diretamente na batalha entre os brasileiros e o Exército Boliviano pelo território acreano.
“Os coronéis João Donato, João de Oliveira e Alexandrino José da Silva participaram da revolução. Muitas pessoas têm uma revolta muito grande por uma dessas ruas se chamar Cel. Alexandrino, porque ele foi acusado de ter sido um dos envolvidos no assassinato de Plácido de Castro. Nunca nada ficou provado, mas existe essa história e muita gente fica indignada”, pontua o historiador.
Marcus Vinícius acrescenta que outros bairros têm ruas, escolas, praças e outros pontos coletivos que levam nomes de personagens não somente da revolução, mas da história do Acre.
“A presença desses nomes históricos é importante para essa difusão, consciência e formação da identidade da sociedade acreana. Sem esses mecanismos, a população acaba esquecendo essas histórias e deixando-as de lado”, pondera.
Cotidiano nas ruas
Ao longo do tempo, o bairro Bosque se tornou uma das áreas comerciais mais importantes de Rio Branco. Grande partes dessas ruas com os nomes dos heróis da Revolução Acreana se desenvolveram e abrigam lojas e comércios.
Mas, algumas casas residenciais ainda resistem e abrigam uma rotina familiar como antigamente.
A dona de casa Auricélia Castro de Lima, de 66 anos, mora há 40 anos na Rua Cel. Alexandrino. Ela acompanhou as modificações que o logradouro passou ao longo do tempo.
“Cheguei em 1977 e essa rua era no barro, tomada de lama. Quando precisava sair tinha que colocar sacolas nos pés. Muito tempo depois fizeram a rua com tijolo. Daí que veio o asfalto, mas demorou também”, relembra.
A casa de Auricélia ainda é a mesma de 40 anos atrás, com poucas modificações. Nesse tempo, ela casou, criou o único filho e viu a área sair de residencial para comercial.
Apesar do tempo vivendo no local, ela não sabe o motivo do nome da rua. “Nunca procurei saber disso. Mas, daqui eu não saio. É muito calma essa área. Não pretendo ir para outro canto. Só saio daqui para a cidade do pé junto”, brinca.
Já Carlinhos Alvorada, proprietário de um prédio comercial no bairro Bosque, diz ter nascido e crescido no cruzamento das ruas Cel. José Galdino e Alvorada. Descendente de judeus, a família dele chegou ao Acre em 1930.
O avó era regatão, uma espécie de comerciante que se deslocava entre os seringais, e deixou o negócio. O pai de Alvorada montou um comércio anos depois.
“Depois de um tempo da morte do meu avó, meu pai montou um comércio nessa esquina entre a Cel. José Galdino e Alvorada. Quando a gente chegou aqui a rua Cel. José Galdino era um caminho pequeno de barro. Eu costumava brincar nessa região. Vi o Bosque crescer ainda em 1960. Isso aqui não era nada, não tinha nada, e, de repente, houve um ‘boom’ e se tornou completamente comercial”, afirma Alvorada.
E o destino fixou o proprietário no mesmo local onde ele diz ter nascido. O prédio comercial do homem fica no cruzamento das ruas Cel. José Galdino e Alvorada, ele afirma que esta última foi nomeada em homenagem ao pai após seu falecimento.
“Ninguém do meu tempo está mais aqui, as pessoas foram vendendo suas residências conforme elas adquiriam alto valor. O Bosque começou aqui, vi tudo isso se construindo”, conta.