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Moradores do AC, estado com menos salas de cinema do país, reclamam de filmes dublados e de programação repetida

Dados da Ancine mostram que o estado está em última posição em relação ao nº de salas e total de habitantes. Governo queria levar salas digitais para todo o estado, mas projeto falhou.


falta de opções de filmes legendados e repetições na programação são algumas das queixas apontadas pelos moradores do Acre, estado com menos salas de cinema. Dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) mostram que o estado acreano está em última posição em relação ao número de salas e total de habitantes.


São 163,3 mil pessoas para cada espaço de exibição no estado. As salas de cinema ficam em Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Com mais de 380 mil habitantes, Rio Branco tem apenas um cinema, que fica no shopping da cidade, com seis salas disponíveis, sendo que duas foram inauguradas no dia 6 de julho e ainda não foram computadas pela Ancine.


A segunda maior cidade do estado, Cruzeiro do Sul, com quase 83 mil habitantes tem apenas um cinema que funciona na galeria da cidade.


Ao todo, o estado conta com sete salas de cinema, mas, mesmo com esse aumento nos últimos três meses, o Acre ainda permanece em último lugar, atrás de Rondônia e Roraima, que têm 15 salas.


Apaixonado por filmes, o funcionário público Gilberto Lima, de 26 anos, diz que muitas vezes desiste de ir ao cinema porque os filmes são repetidos em algumas salas.


“O cinema procura apresentar filmes mais populares e coloca em todas as salas e sessões o mesmo filme, normalmente lançamentos maiores, como da Marvel e DC, e acaba não dando opções para outras pessoas que querem filmes diferentes. Isso acaba desestimulando as pessoas. Eu, particularmente, gosto desses filmes, mas visto uma vez não tenho interesse em ver novamente”, diz.


Ele acredita que falta concorrência na cidade, o que poderia forçar as empresas a melhorarem o serviço.


“As novas salas deixaram muito a desejar, muito mesmo. A tela é muito próxima ao espectador e também corta a imagem. Dependendo do lugar que você senta, do lado direito ou esquerdo, você vê uma duplicidade das legendas. Você consegue perceber a parte da frente e de trás da legenda na tela, porque ela é muito próxima”, diz.


Geralmente, o cinema disponibiliza apenas um filme legendado. Lima diz que esse é outro fator que acaba fazendo com que os acreanos não procurem o serviço.


“Normalmente é um filme que é mais famoso ou que está sendo muito esperado. Daí eles colocam mais dublado e alguns legendados, não são todos os filmes. Nas primeiras salas, de 1 a 4, não têm tantas opções. Nas salas 5 e 6 já têm mais opções de legendados”, diz.


A programação também é uma das queixas do estudante Gabriel Araújo, de 26 anos. Ele costuma frequentar o cinema constantemente. E diz que muitas vezes o filme que quer assistir não chega nas telas em Rio Branco.


“Às vezes tiram filmes de estúdios grandes, com atores conhecidos, para encher as sessões com desenhos bobos, por exemplo. Aconteceu recentemente. E também são poucas sessões legendadas”, completa.


A universitária Willneli das Neves, de 25 anos, também diz que a programação deixa a desejar. “Alguns filmes que têm uma pegada mais cabeça, eles não trazem. Filmes com temas mais críticos ou mais pensantes não vêm. Eles trazem filmes mais clichês, brasileiros de comédia e outros. Raramente filmes indicados ao Oscar vêm para Rio Branco”, pontua.


O fato da maioria das exibições ser de filme dublado, ela acredita que seja uma demanda do próprio público.


“Acho que os filmes legendados não têm mais espaço porque os dublados são os que mais se aproximam da população. Mas, para quem gosta de assistir filmes, é bem mais interessante os filmes legendados. Você ouve a voz original dos personagens e a expressão e emoção ficam bem mais visíveis”, acrescenta.


Em Cruzeiro do Sul, segunda maior cidade do estado, há apenas uma sala de cinema que funcional em uma galeria no Centro da Cidade  (Foto: Adelcimar Carvalho/G1 )

Em Cruzeiro do Sul, segunda maior cidade do estado, há apenas uma sala de cinema que funcional em uma galeria no Centro da Cidade (Foto: Adelcimar Carvalho/G1 )


Cinema em Cruzeiro do Sul

Na segunda maior cidade do estado, a sala de cinema funciona em uma galeria no Centro. Porém, não segue as estreias nacionais e disponibiliza apenas um filme por semana. Os moradores da cidade, no entanto, gostam da estrutura do local, mas sugerem melhorias, como a implantação de uma sala 3D.


“Gosto muito de ir ao cinema. Vou quase todos os sábados. Sempre que estreia um filme procuro assistir. Mas, acho que a sala poderia melhorar a estrutura. Não sei as condições do proprietário, mas acredito que deveria colocar imagem 3D. A sala não é ruim, mas deveria ser melhorada. Gosto dos filmes que são exibidos, porque sempre são bem atuais”, diz a comerciária Estela Fernandes, de 26 anos.


Já o médico urologista João Angelim, de 74 anos, acredita que o público do cinema na cidade não é tão grande, o que acaba não incentivando o investimento nessa área.


“A cidade não tem grande frequência de espectadores. Aqui é diferente do Sul, onde os recursos financeiros são maiores e as pessoas lotam os cinemas, pois têm um poder aquisitivo melhor. No Acre, as pessoas preferem ficar em casa assistindo filmes na televisão. Mas, no geral temos tido bons filmes aqui”, acredita.


A programação, mesmo não seguindo a nacional, também não é um problema para o professor João Carvalho. Ele acredita que a estrutura da sala está dentro dos padrões, mas pontua algumas possíveis melhoras. “As cadeiras poderiam se mais confortáveis. Mas, o som, imagem e atendimento são muito bons”, destaca.


Programação do cinema em Cruzeiro do Sul não segue a nacional  (Foto: Adelcimar Carvalho/G1)

Programação do cinema em Cruzeiro do Sul não segue a nacional (Foto: Adelcimar Carvalho/G1)


Projeto de levar salas digitais para todo o estado falhou

Além das salas de cinema, o Acre tinha um projeto pioneiro de implantar salas de exibição visual em todas as suas 22 cidades através do “Cine Mais Cultura”. Porém, apenas 15 cidades foram contempladas, segundo informou a Fundação Elias Mansour (FEM).


As implantações foram estagnadas logo após um ano do anúncio e o governo atribui isso “a um corte linear em 2010”.


O projeto era uma parceria do governo do estado com o Ministério da Cultura (MinC) e queria atingir 100% das cidades, mas chegou somente a 32%. A diretora-presidente da FEM, Karla Martins, explicou, através de nota, que em cada cidade dois agentes foram capacitados e os kits foram enviados diretamente do MinC.


As cidades que não receberam o projeto foram Acrelândia, Manoel Urbano, Marechal Thaumaturgo, Plácido de Castro, Porto Acre, Porto Walter e Rodrigues Alves. “A perspectiva era de que todo o estado seria beneficiado, inclusive já tínhamos licitado para a compra de materiais dessas sete cidades, porém, houve o corte de recurso e recuamos”, justifica Karla na nota.


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