As mentiras sobre o desarmamento


* Valdir Perazzo


Sou de uma região em Pernambuco – Sertão do Pajeú – onde, na minha infância e adolescência, lá no final dos anos 60 e meados dos anos 70, todos os homens andavam armados.  Desde muito cedo se aprendia a usar armas (branca e de fogo). Impossível abraçar uma pessoa adulta do sexo masculino, sem se tocar na cintura dela o cabo, no mínimo, da “lambedeira”. A temida peixeira nordestina. Era raro um pequeno produtor rural não possuir um rifle papo amarelo.


Saí ainda adolescente da minha cidade no interior de Pernambuco para estudar na capital, a cidade do Recife. Lembro-me de muito poucos homicídios. Raros.  Até aquele momento nunca tinha ouvido falar em roubo à mão armada. O crime mais grave era o furto de uma galinha. Não se furtava pequenos ou grandes animais. Não se ouvia falar de mulheres violentadas. Ninguém avançava seu marco um palmo na propriedade do vizinho. Ninguém ingressava em um domicílio sem autorização do proprietário. Havia uma lei não escrita na mente de todos: violar essas normas tem consequências graves. Os homens se defendiam e às suas famílias. Não era o Estado.


Tudo isso mudou! Há pouco mais de 04 (quatro) meses estive na minha terra natal. Esses valores não mais existem! Na minha infância e adolescência no interior de Pernambuco nunca tinha ouvido falar em droga. Roubo de carro hoje é algo muito corriqueiro em todas as 17 (dezessete) cidades que formam a microrregião do Sertão do Pajéu.  Roubam-se carros nos centros das pequenas cidades e na zona rural. Os crimes de sangue se tornaram comuns. As drogas hoje são de fácil acesso no campo ou na cidade.


Essa realidade que constatei na minha aldeia parece que hoje atinge todo o território nacional. Não há mais segurança em lugar algum nesse país. Interessante é que, no final dos anos 90 deu-se início a uma intensa campanha publicitária em que se dizia que se a população fosse desarmada passaríamos a viver em paz. Essa campanha terminou chegando ao parlamento e se aprovando o estatuto do desarmamento, Lei nº 10.826/2003, hoje em vigor, já faz 14 (quatorze) anos.


Além dessa memória que trago da minha infância e adolescência lá no sertão de Pernambuco de que não podemos esperar que o Estado nos dê proteção – não se pode contar sempre com um agente do estado em todas as circunstâncias – há dois episódios da história do cangaço que demonstram que o bandido faz um cálculo de custo e benefício quando decide atacar alguém. Nesse cálculo se elege como vítima quem não esteja armado.


O cangaceiro Lampião mandou um recado para os moradores de um lugarejo próximo à cidade de Pesqueira, chamado Ipojuca, onde vivia uma numerosa prole que descendia de um inglês que fixou residência no sertão de Pernambuco no início do século XIX. Os Brito de Ipojuca eram conhecidos pela bravura; pela coragem física.  Vitorino Freire, que governou o Maranhão na Ditadura Vargas e que também foi senador por aquela unidade da federação, como também Tenório Cavalcanti, o homem da “Lourdinha”, famoso na Baixada fluminense são os dois nomes conhecidos da estirpe. O bandoleiro queria um pedágio. Uma contribuição para não atacar os moradores do pequeno burgo.


Os Brito de Ipojuca responderam à embaixada do cangaceiro Lampião. Disseram que Lampião poderia tomar chegada. O “corpo diplomático” da família o esperava. Evidentemente que todo o “corpo diplomático” da família esperava Lampião de Carabina na mão. O chefe de bandidos desistiu! Optou por vender segurança a quem estivesse desarmado, dócil e submisso.


Lampião com 150 (cinquenta) homens decidiu saquear a cidade de Mossoró no interior do Rio Grande do Norte. O prefeito da cidade não se quedou inerte e nem inerme. Tomou uma atitude digna e corajosa. Fez com que todas as crianças, velhos e mulheres deixassem a cidade. Armou 300 (trezentos) homens, colocando-os em pontos estratégicos, como torre da Igreja e telhados das casas. Lampião foi recebido com uma chuva de balas. No calor da luta morreu o cangaceiro “Jararaca” – seu túmulo na cidade é lugar de visitação -, que não conseguiu fugir com o resto do bando. Leio com gosto o livro “Mentiram Para Mim sobre o Desarmamento”, dos autores Flávio Quintela e Bene Barbosa, obra fundamental para quem quer se esclarecer sobre segurança pública no Brasil, em que nos enganaram dizendo que desarmada a população civil teríamos paz. A obra desmascara os autores desse engodo. Com essa leitura reforcei minha convicção da necessidade de revogação do Estatuto do Desarmamento.


Concluo com uma frase citada no livro, de autoria do ex-presidente dos Estados Unidos, George Washington: “Um povo livre precisa estar armado”.


* Valdir Perazzo é  um dos inspiradores da criação do Instituto Liberal do Acre – ILAC


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