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Ambulância não é liberada e homem com bacia quebrada e lesão na coluna é levado a consulta em porta-malas de carro no AC

Homem mora em Brasiléia e tinha consulta marcada no Hospital das Clínicas em Rio Branco. Saúde diz que ambulância não foi liberada porque o caso não era de ‘urgência’.

om a bacia quebrada e uma lesão na coluna, o pedreiro Milton da Costa, de 43 anos, foi transportado de Brasileia até Rio Branco – uma distância 232 quilômetros – dentro do bagageiro do carro de um amigo. Costa tinha uma consulta marcada no Hospital das Clínicas, na terça-feira (21), mas a família não conseguiu a liberação de uma ambulância para fazer o transporte dele.


Ao G1, a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) informou que a ambulância é um serviço de urgência e emergência e atua obrigatoriamente para atender esses casos. O caso de Costa, segundo a secretaria, não era de urgência, mas eletivo, pois ele ia para uma consulta médica. Assim, a ambulância do Samu não poderia ser liberada.


O pastor Luiz Carlos de Lima, de 50 anos, dono do carro que fez o transporte de Costa, relatou que os médicos do Hospital de Brasileia chegaram a falar com a direção da Saúde em Rio Branco, mas não conseguiram liberar o veículo. Foi então que ele decidiu ajudar a família. Lima colocou pedaços de madeira e compensado para nivelar o bagageiro. Em seguida, cobriu tudo com um colchão de solteiro.


“Foi uma verdadeira odisséia, uma operação. Quando chegamos no Hospital das Clínicas nem tiraram ele do bagageiro e mandaram fazer um Raio x no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into-AC). Mas, no Into-AC, disseram que não tinha maca para receber ele e mandaram para o Pronto-Socorro. Ou seja, chegamos na capital 10h30, mas ele foi retirado do carro somente umas 15h”, relatou Lima.


Sobre a liberação, a Sesacre explicou também que o processo é feito pela central em Rio Branco. Nesse caso, o órgão alegou que, apesar de não estar em condições, a situação do paciente não era de urgência e emergência e ele não corria risco de vida.


Além disso, afirma que era necessário suporte caso alguém apresentasse uma emergência médica em Brasileia. A Sesacre destacou que o transporte eletivo é de responsabilidade dos municípios e no caso de Costa não havia condições de tirar o serviço de urgência para uma consulta.


Família diz que ambulância não foi liberada para fazer o transporte de pedreiro e homem foi levado para consulta no bagageiro de um carro (Foto: Luiz Lima/Arquivo Pessoal)

Família diz que ambulância não foi liberada para fazer o transporte de pedreiro e homem foi levado para consulta no bagageiro de um carro (Foto: Luiz Lima/Arquivo Pessoal)


Dores e desmaios

Ao G1, a irmã de do paciente, Francisca da Costa, disse que o irmão sofreu um acidente de motocicleta em outubro deste ano. O caso foi grave e ele teve a bacia toda reconstruída e corre o risco de não voltar a andar. Por ter lesionado a coluna ele não poderia ser tirado do veículo de qualquer jeito para não desnivelar os ferros que foram colocados no corpo.


Francisca lembrou que acompanhou Costa em todo o trajeto e que o irmão sentiu fortes dores e em alguns momentos, em que não aguentava mais, chegou a desmaiar. Ela relatou ainda, que o irmão decidiu não se alimentar, pois usava fraldas e tinha medo de ter que fazer necessidades fisiológicas e ser trocado dentro do veículo.


“Só conseguimos uma ambulância no primeiro dia do acidente, depois para fazer consultas ou exames não conseguimos. Desde a alta no hospital não conseguimos o veículo, ele foi para casa de táxi. Ele não comeu, chegou em Rio Branco muito em uma situação muito sofrida”, lamentou Francisca.


Pastor disse que usou pedaços de madeira para nivelar bagageiro e colocou colchão de solteiro em cima para poder levar pedreiro para consulta (Foto: Luiz Lima/Arquivo Pessoal)

Pastor disse que usou pedaços de madeira para nivelar bagageiro e colocou colchão de solteiro em cima para poder levar pedreiro para consulta (Foto: Luiz Lima/Arquivo Pessoal)


A irmã diz ainda o irmão precisou retornar para Brasiléia, após os exames na terça (21), também no carro do pastor, pois não houve liberação de ambulância.


“Não tivemos apoio nenhum. Tudo que fica é o sentimento de indignação. Várias pessoas nas ruas perguntaram de onde éramos e ficaram indignadas com a negligência com a qual fomos tratados. Tínhamos que ir para a consulta de qualquer jeito, pois o estado dele é complicado e infelizmente precisou ser dessa forma”, finalizou.


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