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O Governo Francisco Wanderley Dantas libertou os seringueiros

* Por Valdir Perazzo


 


Toda a obra socioeconômica de interpretação do Acre, a partir dos anos 70 do século passado – é o que me parece pelo que tenho lido – foi feita sob inspiração do marxismo. Sobre o Governo Dantas já li alguns trabalhos de conclusão de curso de graduação e de mestrado. Sem exceção! Todos os autores dessas obras fazem críticas ao modelo capitalista adotado naquele período de governo.


Num trabalho de conclusão de curso de Bacharelado em História, da Universidade Federal do Acre, nas considerações finais, disse o formando: “…pode-se concluir que o Acre, durante o Governo Dantas passou por mudanças cruciais em todos os setores, a essas transformações denominamos de modernidade, visto que o propósito era integrar as áreas atrasadas à economia capitalista, portanto ao mundo moderno, porém de forma conservadora e excludente em relação aos trabalhadores extrativistas”.


Como se lê do texto acima, admite que o capitalismo implantado no governo Dantas promoveu a integração da economia do Acre à economia nacional, modernizando-a, mas não deixa de fazer uma crítica que reflete a posição esquerdista, de informar, erroneamente, que o capitalismo implantado foi excludente em relação aos trabalhadores extrativistas.


Toda a produção intelectual da Universidade Federal do Acre, no que diz respeito a esse período da História acreana, dos cursos de Ciências Humanas, faz essa leitura “torta” do capitalismo que se implantou no Governo Dantas. Isso reflete o pensamento dos docentes desse departamento. Aliás, um professor da UFAC que me cedeu gentilmente um trabalho interpretativo desse período, disse que sua posição no aludido trabalho já não refletia o que pensava no momento. Seus professores (contou-me), onde fez o mestrado, fora do Acre, eram todos de esquerda.


O que era um seringueiro na economia extrativista do Acre? Não é minha opinião. Externo aqui a opinião de alguns autores, dos mais ilustres que fizeram trabalhos interpretativos do Brasil, em especial, da Amazônia, e das relações de trabalho aí existentes.


Márcio de Souza, em “A expressão amazonense: do colonialismo ao neocolonialismo, São Paulo, Alfa-Omega, 1978, diz sobre o seringueiro: “O seringueiro era uma espécie de assalariado de um sistema absurdo. Era aparentemente livre, mas a estrutura concentracionária do seringal o levava a se tornar um escravo econômico e moral do patrão. Endividado, não conseguia mais escapar”. Para esse autor, o seringueiro não era um homem livre; era um escravo.


Samuel Benchimol, em seu livro “O Cearense na Amazônia”, Manaus, SPVEA, 1965, disse sobre a profissão de seringueiro: “O seringueiro é um tipo de trabalhador único talvez no gênero. É proprietário e não possui as estradas. É um homem livre e no entanto viveu durante muito tempo escravizado”. A visão de Benchimol não difere muito da de Márcio de Souza. Ambos afirmam, peremptoriamente: o seringueiro era um escravo.


Euclides da Cunha, o grande escritor do clássico “Os Sertões”, que também realizou obra de interpretação da Amazônia, sobre o trabalho do seringueiro, externou opinião similar as anteriores referidas. Transcrevo aqui as palavras do professor Adalberto Ferreira da Silva, extraída de sua monografia “Ocupação Recente das Terras do Acre: “Euclides da Cunha resumiu muito bem este quadro quando escreveu que “o sertanejo emigrante realiza, ali, uma anomalia sobre a qual nunca é demasiado insistir: é o homem que trabalha para escravizar-se”.


Leandro Tocantins, em seu livro “Seringueiros e Seringalistas”, citando Euclides da Cunha, diz que o trabalho do seringueiro se dar nas condições mais desumanas que o homem pôde conceber.


Da monografia citada do professor Adalberto Ferreira da Silva, sobre a condição de escravo do seringueiro da Amazônia, extraio esse pequeno excerto: “Além disso, a exploração a que durante muito tempo foi submetido o seringueiro levou-o a uma situação de miséria absoluta, impedindo-o de abandonar a região por não dispor de recursos para custear as despesas com passagens, sua e da sua família, na viagem de retorno ao Nordeste. Pode-se admitir que, em alguns casos, a prisão pela dívida tenha funcionado aí, mais uma vez, com os patrões proibindo a saída…”. O seringueiro vivia em condição de miséria absoluta, escravizado por uma dívida impagável.


Ao invés do que dizem os autores que interpretam o capitalismo implantado pelo Governo Dantas, criando uma economia Agropastoril, incentivando fazendeiros do Centro-Sul do país para se estabelecerem no Acre, visando incorporar a economia acreana à economia Nacional, no escopo de exportar pelo Oceano Pacífico, atraindo capitais para realização de obras modernizadoras da capital e do interior, motivou os seringueiros para deixarem os seringais falidos, libertando-os do jugo abjeto em que se encontravam, mesmo que, nos primeiros momentos, tivessem que ocupar a periferia da cidade. Porém, com perspectiva de evolução, o que não teriam no seringal.


Francisco Wanderley Dantas (não tenho dúvidas), apesar de difamado e caluniado de ter sido o algoz do seringueiro, expulsando-o da terra, foi, na realidade, seu benfeitor, à medida que, implantou no Acre o capitalismo libertador (não esquecer: o capitalismo liberta e o comunismo escraviza), o mesmo que já havia libertado os servos da gleba com a Revolução Industrial.


* Valdir Perazzo é um dos inspiradores do Instituto Liberal do Acre – ILAC



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