“Não sou princesinha, nem lindinha e nem sua. Estou aqui para fazer o meu trabalho”

Após aturar apelidos e comportamentos não profissionais, Nilmara chegou ao seu limite e deu um basta na situação

A reportagem da ContilNet iniciou uma série de investigações em busca de casos relacionados com machismo institucional, assédio moral e sexual em todo o Estado. Durante esse processo em busca de testemunhas e pessoas que pudessem nos contar histórias dessas características, encontramos a jovem Nilmara Almeida, de 34 anos. Conheça agora um pouco dos seus relatos.


O INÍCIO


Nilmara nos contou que tudo começou, quando ainda trabalhava como servidora terceirizada em uma secretaria do Estado do Acre e passou a reconhecer um comportamento diferente por parte de um chefe de departamento identificado apenas como César.


A jovem relata que César a tratava por apelidos não profissionais (lindinha, princesinha etc), que até não soavam ofensivos, mas a incomodavam de certa maneira, já que para ela o ambiente de trabalho deveria ser tratado profissionalmente, sem diferenciação entre os servidores. Mesmo incomodada, Nilmara preferiu evitar reclamações e críticas ao rapaz e manteve-se calada até que uma situação incomum a levou ao limite.


De acordo com ela, César era acostumado a pedir que outras funcionárias fizessem tarefas incomuns que fugiam de suas atribuições. Até que um dia, César chegou com um presente e um papel de embrulho pedindo que Nilmara “ajeitasse” o enfeite para ele. Ao questionar o fato de que tal tarefa fugia de suas atribuições, a jovem ouviu a frase que deu início ao conflito: “Você tem que fazer o que eu mandar”.


“Nesse momento eu tinha certeza que havia chegado ao meu limite. A prepotência e arrogância que eu já sentia em cada palavra dele simplesmente ficaram ainda mais claras ao me ordenar que fizesse algo que fugia das minhas funções. Eu era paga para alimentar um servidor de vídeos e não para obedecer aos caprichos do César”.


Após uma longa discussão e muito bate-boca, a jovem sai do prédio da secretaria em que trabalhava e senta em um banco no centro da Capital em busca de entender o que havia acontecido. Nilmara contou que um ex-namorado foi ao seu encontro acalmá-la e alertou a jovem sobre a realidade do episódio que ocorreu.


“Ele me explicou que o que eu havia sofrido era muito sério e tinha nome, assédio moral. Eu então fiz uma busca na internet para entender melhor do assunto e fui em busca de esclarecer como havia me sentido”, disse Nilmara.


Nos dias seguintes, o ex-namorado de Nilmara resolveu ir até o local para explicar a César o abuso que ele havia cometido. Entre conversas e acusações, a jovem teria ouvido da própria secretária responsável pela entidade que César havia se sentido constrangido e poderia processá-la. Após alguns meses, Nilmara foi demitida, com a explicação que a secretaria precisaria fazer cortes. No entanto, de acordo com ela, uma outra pessoa menos preparada foi colocada em seu lugar, dias depois.


Ao ser questionada sobre como se sentiu na época e o que ela gostaria de passar para as pessoas que podem estar na mesma situação que ela hoje em dia, Nilmara foi pontual.
“Jamais me arrependeria. Senti um alívio no peito que é impagável, não me calei e lutei por mim, óbvio que é horrível ficar sem emprego, mas aceitar qualquer tipo de condição só pra garantir o contracheque no fim do mês é inaceitável. Não finja que não está acontecendo, abra a boca, fale, deixe claro suas atribuições profissionais. Ninguém precisa aceitar abuso por trabalho. Maior que o salário é o respeito e esse ninguém paga”, finalizou.


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