Algumas espécies já foram flagradas pelos turistas. Ação pretende fortalecer ecoturismo na região.
A nova modalidade de ecoturismo vem ganhando adeptos no Brasil. A atividade vem disputando espaço com passeios em praias e parques. O turismo ecológico ligado a observação de aves já é bastante difundido no exterior, mas no Brasil agora que começa a dar os primeiros passos.
E os primeiros grupos de turistas já começaram a chegar ao Acre. O biólogo Ricardo Plácido, conhecedor da fauna acreana, é o guia da turma.
“A observação das aves é uma prática secular em países como os Estados Unidos e Inglaterra. No Brasil vem crescendo gradativamente o número de adeptos e o Acre tem acompanhado esse crescimento. Então, o principal atrativo nós temos que são aves de rara beleza que só se encontram aqui pela região”, explica.
A atividade une lazer, ciência, entretenimento e conservação ambiental. As aves que antes eram alvo dos caçadores, agora recebem toda a atenção dos turistas.
Os observadores acordam cedo e, com os equipamentos prontos, iniciam as buscas pelos pássaros. Para não assustar as aves, é preciso caminhar lentamente e em silêncio, além de usar roupas com cores discretas, evitar movimentos bruscos e não demorou muito para encontrar o primeiro pássaro, que está por aqui de passagem, é o suiriri-valente.
“Os migratórios são especiais, tanto os que vêm do Norte, como os que vêm do Sul. Agora está começando o frio na América do Norte, Estados Unidos e Canadá e alguns vem migrar para a região quente do Brasil. Pegamos o suiriri-valente, que é especial, são poucos registros no Brasil e o nosso grupo teve a oportunidade de fazer belíssimos registros”, conta Tancredo Filho, observador de aves.
A empresária Rosemarí Julio também faz parte do grupo que está explorando as belezas do Juruá. Ela diz que fica feliz em poder ajudar no acervo de pássaros.
“É maravilhoso, queremos voltar. Logicamente que não conseguimos pegar todas as espécies que estamos querendo. Não é somente por contagem de pontos, é o levantamento que nós ajudamos a fazer para poder localizar as aves brasileiras e as raridades para que todos tenham acesso para estudo. Já tem fotos minhas que foram solicitadas para exposições para edição de livros e que cedo as fotos, não faço comércio. Gosto e fico feliz até quando me fazem o pedido”, conta.
Assim como no Brasil, o Acre vem dando seus primeiros passos no turismo ecológico voltado para observação de aves, e a região do Juruá já faz parte desse roteiro. Carmem Figueiredo é a quarta mulher do Brasil com o maior número de registros, com mais de 1.200 espécies. Ela espera poder aumentar esse número.
“Cada passarinho novo que eu ver, melhor. O suiriri-valente que todo mundo falou, eu sai de casa pensando nele e vou levando ele no meu coração e na minha lente. Consegui 18 novas espécies na região, cada um mais lindo que o outro, espécies raras como capitão-de-coroa. Tem uns bichos muito bonitos na região, muito coloridos e que impressionam”, enfatiza.
Os observadores destacam que, atualmente, o Brasil possui cerca de 1900 espécies catalogadas. Dessas, mais de 700 estão no Acre.
Na região temos ainda a choca-do-acre – espécie descoberta no Acre e descrita para a ciência somente em 2004 – ela é encontrada apenas na região da Serra do Divisor, na fronteira do Brasil com Peru.
“O Juruá, além de ter cenário de natureza exuberante, possui aves que só vivem nesse recanto do estado. Há um subconjunto de espécies que só tem no Oeste, na bacia do Juruá. A choca-do-acre descoberta da Serra do Divisor só tem aqui, então quem quiser avistá-la ou fotografá-la vai ter que vir pra cá, isso que torna o Juruá diferente”, destaca o guia.
Serão quase 20 dias na região visitando áreas em comunidades rurais. Por onde passam, os observadores levam também uma mensagem de conscientização e cuidados com a natureza.
Ricardo Plácido é o único guia no Acre dessa modalidade de ecoturismo. De acordo com ele, essa rota de observação tem atraído muitos turistas, mas a falta de profissional na área e a falta de estrutura têm sido empecilhos.
A ideia para isso é capacitar a própria comunidade para ajudar a fomentar a formação de mais guias na região.
“Existem outros guias, de outras regiões, mas geralmente o pessoal quer pagar um guia local. Então, nosso próximo passo é localizar comunitários que tenham interesse em capacitação, em se tornarem guias, porque é todo um processo. Queremos treinar outras pessoas que se habilitem a guiar essas pessoas que vêm e fora do estado e até do Brasil”, finaliza.