O Acre tem assistido nos mais recentes anos os efeitos das atuações das facções criminosas relacionadas ao tráfico de drogas. Centenas de jovens já perderam a vida na luta pelo poder entre essas organizações no Estado. Mas vale lembrar que essa “guerra” entre as facções começou no Rio de Janeiro, no final dos anos 70. De lá pra cá essa atuação marginal à sociedade só tem crescido e se espalhado por todo o país de maneira muito perigosa. Estive recentemente num hotel no Rio próximo a Favela Rocinha onde a disputa entre o Comando Vermelho e ADA (Amigos dos Amigos) sofreu a intervenção do Exército para se restabelecer a “paz” na comunidade com mais de 300 mil habitantes.
Conversei com alguns funcionários do hotel que moram na Rocinha. Eles me contaram o clima de “terror” que vivem diariamente. Para se ter uma ideia da influência das facções no Rio atualmente um morador de favela costuma ter que escolher três coisas para sobreviver: um time de futebol, uma religião e uma facção. Por mais absurdo que possa parecer é essa a realidade do momento na Cidade Maravilhosa. O cidadão torce pelo Flamengo, Vasco ou Botafogo, professa a fé evangélica, católica ou espírita e declara a sua simpatia pelo Comando Vermelho, Terceiro Comando, PCC (Primeiro Comando da Capital) ou ADA. Eles me contaram ainda que essas são as facções mais conhecidas, mas que está acontecendo uma proliferação de novas organizações criminosas. Assim como no Acre surgiu o “Bonde dos 13” e no Amazonas a “Família do Norte”, no Rio a reunião de criminosos está tomando uma proporção inimaginável.
Anti-heróis
O mais interessante é que alguns desses líderes das facções se tornaram heróis ou anti-heróis populares. Isso começou com o Escadinha que depois foi sucedido pelo Naldo, já morto, que se notabilizou por gostar de tirar fotos empunhando metralhadoras para serem publicadas nos jornais cariocas. Os astros criminais do momento são os líderes do tráfico Nem do ADA e o Rogério 157 do Comando Vermelho.
Política
Os moradores com quem conversei da Rocinha falam dos bastidores internos do Comando Vermelho e da ADA como se fossem partidos políticos em disputa pelo poder. Nem, mesmo da prisão, comandava o “movimento” na Rocinha e tinha em Rogério 157 o seu “homem de confiança”, que o traiu e se “bandeou” para o Comando Vermelho.
Pablo Escobar vive
O governador Tião Viana (PT) tem razão ao comparar a situação do tráfico de drogas no Brasil com a Colômbia de Pablo Escobar dos anos 80. A diferença é que as facções brasileiras não tem atualmente uma liderança carismática como o narcotráfico colombiano tinha naquela época. Mas a influência desse “poder paralelo” na política e na economia do nosso país é evidente.
Combate
Para que essas facções tenham o seu poder de fogo reduzido seria preciso uma ação do poder público integrada. As inciativas isoladas não têm os efeitos desejados. É aquela história, prendem um, mas existem outros 200 para
continuar com o esquema. É preciso a união entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário para atingir o coração das facções. No entanto, com o atual caos político em que o país se encontra isso é “quase impossível”. Mesmo porque é evidente o conflito entre os atuais poderes constituídos.
Entrando no vácuo
Num país de milhões de desempregados as facções se tornaram alternativas de vida, principalmente, para os jovens sem perspectivas. Dinheiro fácil, fama, poder e uma “proteção” ilusória nessas famílias mafiosas. Muitas vezes o preço a pagar é a própria vida.
Uma questão de tempo
A entrada dessas facções no Acre era uma questão de tempo. A localização geográfica do Estado é atraente para o “movimento” de drogas. Com quase dois mil quilômetros de fronteiras com a Bolívia e o Peru, países produtores de
cocaína, a rota acreana em algum momento se tornaria atraente. E é isso que está acontecendo. O Acre é uma das possibilidades para se adquirir a droga, sobretudo, para abastecer o mercado de consumidores internos do Brasil.
Impotência
Infelizmente, não acredito que o Acre tenha um aparato de segurança pública suficientemente forte e preparado para lidar com essas organizações. Não é uma questão do partido que governa o Estado. Sem uma ajuda efetiva do Governo Federal, pode ser quem for o próximo governador, que essa situação de risco irá continuar a fazer vítimas entre os nossos jovens e pais de famílias. Essas facções são bem organizadas e possuem armamentos modernos. Não são com bravatas na mídia que essa situação desaparecerá como num passe de mágica.
A luz no fim do túnel
Para diminuir o poder de fogo dessas facções é preciso reduzir o consumo da droga através de uma fiscalização mais eficiente. As nossas fronteiras precisam ser melhor vigiadas e se faz necessário desencadear ações sociais que abram novos caminhos para os nossos jovens sem perspectivas. Não tenho dúvidas que a questão da segurança pública estará no centro do debate eleitoral tanto para a disputa da presidência da República quando para o Governo do Acre. É uma situação preocupante que tem gerado revolta na população à mercê da violência que acontece no plano físico e psicológico. E o caminho que pode conduzir a reversão desse quadro é a união. Menos politicagem e mais união. Espero que o Encontro de Governadores com o presidente Michel Temer (PMDB) que acontecerá em Rio Branco no próximo dia 27 tenha um foco mais técnico do que político. Afinal, não se pode vencer o poder de fogo de modernos armamentos apenas com conversa.