Segundo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, foram registradas 61.619 mortes violentas, o que equivale ao número de mortes provocadas pela bomba atômica em Nagasaki, no Japão. A letalidade policial cresceu 25,8%.
O Brasil registrou 61.619 mortes violentas em 2016, o maior número de homicídios da história, de acordo com dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, na manhã desta segunda-feira (30). Sete pessoas foram assassinadas por hora no ano passado, aumento de 3,8% em relação a 2015. A taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes ficou em 29,9 no país.
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Os mais de 61,5 mil assassinatos cometidos em 2016 no Brasil equivalem, em números, às mortes provocadas pela explosão da bomba nuclear que dizimou a cidade de Nagasaki no Japão, em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial.
Sergipe registrou a maior taxa de mortes violentas por 100 mil habitantes: 64, seguido de Rio Grande do Norte, com 56,9 e Alagoas, com 55,9, todos estados do Nordeste.
As capitais com maiores taxas de assassinatos por 100 mil habitantes são Aracaju, com 66,7, Belém, 64, e Porto Alegre, 64,1.
De acordo com o diretor do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, os números cometidos no país são, “no mínimo, obscenos”.
“A violência se espraiou para todos os estados. Não é exclusividade só de um, apesar de haver uma vítima preferencial”, afirmou Lima.
Apesar disso, os governos gastaram 2,6% a menos com políticas públicas de segurança pública em 2016: 81 milhões. A maior redução observada foi nos gastos do governo federal: 10,3%.
“Queda dos gastos chama atenção. Passa a impressão de que o emprego da força nacional é hoje a única estratégia do governo federal na área da segurança. Tem mais efeito midiático do que prático, diz Arthur Trindade, integrante do Fórum.
O 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública também trouxe, pela primeira vez, os dados de desaparecidos no Brasil. Como o G1 mostrou, foram registrados oito desaparecimentos por hora de 2007 a 2016 no país.
Violência policial
A letalidade das polícias nos estados brasileiros aumentou 25,8% em relação a 2015: 4.224 pessoas foram mortas em decorrências de intervenções de policiais Civis e Militares.
Quase a totalidade das vítimas é homem, 99,3%, jovem, 81,8% têm entre 12 e 29 anos, e negra, 76,2%.
O número de policiais mortos também aumentou 17,5% em relação a 2015: 437 policiais civis e militares foram vítimas de homicídio em 2016. A maioria das vítimas também é negra: 56% contra 43% de brancos e, em 32,7% dos casos, têm de 40 a 49 anos.
Latrocínios
Os latrocínios, que são o roubo seguido de morte, totalizaram 2.703 ocorrências em 2016, um crescimento de 50% em comparação com 2010. As maiores taxas estão em Goiás, com 2,8 mortes por 100 mil habitantes, e dois estados da região Norte, o Pará e o Amapá.
Estupros e feminicídios
O número de estupros cresceu 3,5% no país e chegou a 49.497 ocorrências em 2016. No ano passado, uma mulher foi assassinada a cada duas horas no Brasil, totalizando 4.657 mulheres. Mas apenas 533 casos foram classificados como feminícidios, mesmo após lei de 2015 obrigar registrar mortes de mulheres dentro de suas casas, com violência doméstica e por motivação de gênero.
“Primeira vez que conseguimos computar os dados de mortes por sexo. Piauí registrou 58% das mortes de mulheres como feminicídio, que é a estatística esperada pelos especialistas”, diz Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum.
Crimes contra o patrimônio e armas
Um carro foi roubado ou furtado por minuto no Brasil, totalizando 1.066.674 veículos subtraídos entre 2015 e 2016.
Um indicador que diminuiu foi a apreensão de armas: houve redução de 12,6% e, no total, 112.708 foram apreendidas em 2016.
“Maior parte dos homicídios foi cometida por armas legais produzidas no Brasil. Então, não é só questão da fronteira”, diz Elissandro Lotin, presidente da Anaspra, e integrante do Fórum.
Força Nacional
Em 2016, houve aumento de 292% no número de profissionais da Força Nacional mobilizados em ações pelo país. Os gastos também foram de R$ 184 milhões para R$ 319 milhões, em 2016.
Apesar disso, houve redução de 30,8% nos gastos com o Fundo Nacional de Segurança Pública, menos 63,4% em gastos com o Fundo Nacional Antidrogas e aumento de 80,6% de recursos do Fundo Penitenciário Nacional.
Adolescentes e escolas
O anuário também contabilizou o número de adolescentes cumprindo medidas socioeducativas, 24.628 em 2014, sendo 44,4% por roubo e 24,2% por tráfico de entorpecentes.
O estudo também concluiu que 40% das escolas não possuem esquema de policiamento para evitar violência em seu entorno e 70% dos professores e diretores presenciaram agressão física ou verbal entre os alunos.