Após receber carta com ataque racista, estudante indígena desabafa: ‘não vou desistir’

Carta com ofensas foi deixada dentro do material da estudantes. Polícia ainda não identificou possível autor.


Quase uma semana depois de receber uma carta carregada de ofensas racistas, a estudante de pedagogia Kethyla Taiane Shawanava, de 18 anos, recebeu a reportagem do G1 em casa e falou sobre o caso.


A carta foi deixada entre o material da estudante em uma sala da Universidade Federal do Acre (Ufac), campus Floresta, em Cruzeiro do Sul, durante o intervalo.


A jovem diz que apesar das ofensas vai persistir no sonho de se formar na universidade. “Eu fiquei muito abalada com o que estava escrito, mas em nenhum momento pensei em desistir. Na carta diz que eu não vou conseguir, mas não tenho medo de cair, tenho quem me ajude a levantar sempre e sempre”, diz emociona.


O caso é investigado pela Polícia Federal de Cruzeiro do Sul e até esta terça-feira (24) ninguém foi identificado.


Ela disse que ficou surpresa com as ofensas e disse que não tem inimigos na instituição. “Hoje eu choro, mas não é mais com as palavras, choro por pensar que ainda existem pessoas assim no mundo, com pouca empatia pela vida do próximo e sem respeito. É triste”, chora.


Estudante lamentou o episódio e não desconfia de quem possa ter escrito a carta (Foto: Anny Barbosa/G1)

Estudante lamentou o episódio e não desconfia de quem possa ter escrito a carta (Foto: Anny Barbosa/G1)


A estudante lembra que saiu para o intervalo e na volta encontrou a carta embaixo do caderno e a reação foi de total indignação. “Quando eu peguei no caderno para colocar na próxima matéria a carta tava lá. Quando eu li, fiquei abatida, chorei, fiquei indignada, mas já fui pra perto das minhas amigas e fomos na coordenação”, conta.


Kethyla afirma que em todos os anos de estudo nunca tinha sido vítima de nenhum tipo de preconceito. “Desde que comecei a estudar nunca tinha acontecido nada desse tipo, nem com os meus irmãos. Pelo contrário, tem os apelidos, as brincadeiras, mas com todo o respeito do mundo e muito carinho”, comentou.


O que mais surpreendeu a jovem foi saber que existe alguém na universidade com esse pensamento sobre ela. “Foi isso que pegou todo mundo de surpresa, porque ninguém sabia, eu não sabia que tinha alguém que não gostasse de mim”, lamentou.


Em um dos trechos da carta, o autor diz que os índios não devem se misturar com ‘pessoas normais’. “Não sei quem teve a brilhante ideia de misturar pessoas normais com índios. Porque raça nojenta é essa”, diz o trecho.


Amiga e colega de sala há 10 anos de Kethyla, Emanuele Souza Alves, também de 18 anos, disse que no momento em que leu a carta se sentiu agredida e muito triste.


“Ela sempre foi tão gentil. Pensar que alguém fez isso com ela, é um absurdo. Ela não é o tipo de pessoa que desperta sentimentos ruins. No momento em que li o início da carta fiquei transtornada demais”, explica.


A Ufac informou que está tomando as medidas cabíveis e que o autor da carta pode ser expulso da instituição. Além de um processo http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistrativo, uma comissão vai ser criada para apurar o episódio.


Ao G1, a coordenadora do curso de pedagogia, Adriana Oliveira, disse que a instituição vai preparar ações para debater o tema com os estudantes.


“Na parte acadêmica, nós trabalhamos muito o respeito às diversidades. Essa é uma prática do Campus e teremos uma mesa redonda no teatro para falar sobre esse assunto”, diz.


Logo após o ocorrido, a estudante foi com os pais até a Polícia Federal para denunciar o caso.


O pai da estudante, Francisco Neto, disse que espera que a justiça seja feita para que outras pessoas não passem por esse tipo de constrangimento. “A gente ficou chocado, porque nunca tivemos nenhum tipo de problema com nenhum dos nossos filhos, então, esperamos que a pessoa possa pagar pelo que fez”, finaliza.


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