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Acompanhamento psicológico deve ajudar pais a superar idealização do filho que nasceu com dois sexos, diz especialista

Talita Leite diz que o primeiro olhar dos pais para a criança foi da criação de uma menina, mas isso mudou. Psicóloga falou sobre o caso neste sábado (21), no JAC 1ª Edição.

Em entrevista ao Jornal do Acre 1ª Edição, neste sábado (21), a psicóloga Talita Leite falou que os pais da criança que nasceu com os dois sexo vão precisar de acompanhamento psicológico.


Segundo ela, o casal, principalmente a mãe, podem ter criado uma expectativa sobre a criação de uma menina, mas agora descobrem que na verdade a criança é um menino e precisam trabalhar a idealização do filho.


Há quase três anos, uma dona de casa de 45 anos luta para que o filho seja reconhecido. Durante a gravidez, os exames apontavam que ela teria uma menina.


Entretanto, o exame cariótipo – que analisa a quantidade e a estrutura dos cromossomos em uma célula – comprovou que, pelo número de cromossomos, a criança, geneticamente, é um menino.


“Essa mãe teve uma expectativa de uma menina, a criança foi criada como menina e se descobre que geneticamente é um menino. Mas, estamos lidando com o real da situação que é a questão do que eu posso ver e do que eu idealizei na minha cabeça. Eu tinha uma filha e agora eu tenho um filho. A construção desse sujeito foi no primeiro olhar da construção da menina e agora tudo mudou. A regra mudou”, explicou no jornal.


Talita também disse que existem muitas discussões sobre sobre o tema da questão da sexualidade.


Algumas teorias afirmam que as pessoas não devem influenciar a criança e criá-la sem a questão de gênero. Outras destacam que a construção do sujeito é feita a partir do olhar que tenho do outro. Nessa idade, segundo ela, a criança ainda é polimorfa, uma extensão da mãe.


“Então, como que você vai construir o sujeito se você não tem uma referência desse olhar que é o que me parece aí? E a mudança do desejo dessa mãe, será que ela está segura? É importante que tenha uma equipe disciplinar aí. A criança, a partir do momento que ela começar a se sentir sujeito, quando ela começa a se ver como pessoa única e integrada é outro processo”, destaca.


A psicóloga falou ainda sobre o preconceito e as consequências das opiniões das pessoas sobre o que é incomum. Ela afirma que a sexualidade, desde que o mundo é mundo, sempre foi um tabu. As pessoas enxergam de forma binária, ou é menino ou é menina, e o desconhecido e diferente causa estranheza.


“Cada um é um universo de desejos e coisas e escolhas. O fora do comum nos causa estranheza, pois a gente não sabe lidar com o diferente. É precisa aprender a fazer isso e ter um olhar, não crítico, mas de compreender. As pessoas pensam: ‘tenho medo porque eu desconheço aquilo e não sei o que fazer com essa informação'”, disse.


Entenda o caso

Há quase três anos, uma dona de casa de 45 anos luta para que o filho seja reconhecido como homem em Rio Branco. Ela conta que, durante a gravidez, os exames apontavam que ela teria uma menina.


O bebê nasceu e foi direto para a UTI, sendo registrado como menina ainda na maternidade da capital. Somente dias depois da internação a mãe pôde ver que a criança, na verdade, tinha os dois sexos. Aos 2 anos, a criança é chamada pelo nome de menina que consta na certidão de nascimento.


A mãe só conseguiu fazer o exame cariótipo – que analisa a quantidade e a estrutura dos cromossomos em uma célula – no mês de agosto. Ela conta que teve acesso ao resultado somente na semana passada e o exame aponta que a criança, geneticamente, é um menino.


A Ordem dos Advogados do Brasil no Acre (OAB-AC) disse que vai entrar com uma petição para que a mãe da criança possa mudar o registro civil para o nome masculino. Além do processo judicial de forma gratuita, ela e o pequeno vão ter assistência jurídica e psicológica.


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