Danúbia Rangel, mulher e “herdeira” do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, conhecido por Nem, que está cumprindo pena no presídio federal em Rondônia, é apontada como a responsável em comandar a “guerra” pelo controle do tráfico de drogas na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Ela é a quarta esposa do traficante.
Do outro lado, está o ex-segurança e sucessor de Nem, Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, que assumiu o comando do morro depois da prisão do “patrão”, tornando-se o maior desafeto de Nem. Mesmo foragida, Danúbia, sob ordens do marido, comandou a invasão, que teve cenas de guerra.
Ela tem os cabelos pintados de loiro, vive bronzeada e anda com roupas e acessórios de grife, além de manter o corpo escultural.
O jornalista britânico especializado em crime organizado Misha Glenny, relata em livro a história de Nem. Intitulado “O Dono do Morro: um homem e a batalha pelo Rio (Companhia das Letras),o livro foi lançado no ano passado.
Em entrevista à BBC Brasil, o jornalista diz que Nem continua sendo “extremamente influente” na Rocinha e que Danúbia vinha buscando maior protagonismo na comunidade, com uma divisão de forças entre ela e Rogério 157.
Mas o racha interno e a crescente tensão entre a mulher e “herdeira” de Nem, Danúbia Rangel, e seu ex-aliado e sucessor, Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, precedem o conflito, em uma disputa de protagonismo que pode ajudar a explicar o embate – que gerou fortes tiroteios e imagens de guerra de domingo para cá na maior favela do Rio.
“Claramente havia muita tensão entre o Rogério e a Danúbia. A única coisa que eu ainda não entendi é se a Danúbia estava agindo motivada por sua própria ambição, ou se estava representando, de fato, o Nem”, considera Glenny. “Eu suspeito que se trate mais da primeira opção, mas essa é só uma interpretação minha.”
Expulsa
Danúbia teria sido expulsa da Rocinha a mando de Rogério, e ambos estão foragidos. Ela, porém, parece se manter ativa nas redes sociais, onde, na segunda-feira,18, em uma conta que acredita-se ser dela, gabou-se de um perfil publicado no jornal “O Globo”.
Postou o link da matéria destacando um trecho que a compara com a Bibi Perigosa vivida por Juliana Paes na novela A Força do Querer. “Viu só como estou poderzão ainda?”, escreveu com um emoji de sorriso escancarado.
Na semana anterior, essa conta postou um panfleto do disque-denúncia com sua foto e de outras mulheres procuradas pela polícia, fazendo troça: “Eu e minha coleguinhas bombando por aí”, diz, ao lado de carinhas chorando de tanto rir.
Xerife
Glenny diz que Danúbia não é muito popular na Rocinha, sendo uma “forasteira” que veio da Maré, complexo de favelas na zona norte do Rio. Teria autoridade na favela não por sua personalidade, mas por ser mulher de Nem, tornando-se uma rara liderança feminina no mundo do tráfico – que lhe rendeu a alcunha de “Xerife da Rocinha”.
Viúva negra
Ela é a quarta esposa de Nem – que, segundo Glenny, sempre se mostrou “muito apaixonado” por ela. Antes, foi mulher de dois traficantes na Maré, ambos mortos pela polícia. Daí também o apelido de “viúva negra”.
No domingo, a Rocinha foi invadida por dezenas de traficantes de morros como o São Carlos e o Vila Vintém, favelas controladas, assim como a Rocinha, pela facção criminosa conhecida como Amigos dos Amigos (ADA). O bando estaria, a pedido de Nem – segundo os jornais -, tentando tomar o controle das mãos de Rogério 157, em uma disputa interna da favela por integrantes da mesma organização.
Glenny, que se encontra em Londres, diz que segue acompanhando de perto a escalada de violência no Rio e considera que os governos estadual e federal tem sido “incapazes” de lidar com a guerra de facções no Rio, que as Unidades de Polícia Pacificadora só continuam existindo “no papel” e que o envio do Exército para o Rio “não teve qualquer impacto na redução da criminalidade”.