Artesão Marinésio da Silva Rosa, de 47 anos, aprendeu sobre marcenaria no presídio e hoje transforma restos de madeira em obras de arte.
Foi no período em que esteve preso por mais de três anos por tráfico de drogas, em Cruzeiro do Sul, que Marinésio da Silva Rosa, de 47 anos, aprendeu sobre marcenaria. Hoje, o ex-presidiário transforma lixo e restos de madeira em verdadeiras obras de artes ecológicas. As peças variam de R$ 50 a R$ 16 mil, mas uma em especial, a Sereia Iara, deve custar em torno de R$ 180 mil. A peça entalhada em madeira reciclada ainda vai receber unhas feitas de ossos de boi e os últimos retoques.
“Tudo que está aqui não foi derrubado das árvores, é uma arte pura. As madeiras que seriam estragadas, queimadas eu vou, salvo e transformo nas minhas peças. A arte da sereia por menos de R$ 180 mil a pessoa não vai tê-la em casa”, justificou.
As obras criadas pelo artesão vão desde pequenos pássaros até grandes imagens religiosas entalhadas na madeira. Os dentes, unhas, penas e pele são reais, encontradas e transformadas para dar ainda mais realismo ao trabalho.
Ele conta que os detalhes das obras mais importantes são cuidadosamente pensados e que já chegou a ficar mais de 20 dias estudando em como começaria uma peça.
“É tudo pensando com muito cuidado. Uma madeira dessa para chegar nas minhas mãos, que muitas vezes pago para trazerem, se eu errar na criação, acabou tudo. Então, passo bastante tempo pensando em como fazer, cinco dias para desenhar a arte e pelo menos 15 para estudar os detalhes e aí só depois que vou entalhar”, explicou.
Todas as obras ficam expostas na casa do ex-detento, na Comunidade Vila Lagoinha, BR-364, a 30 km de Cruzeiro do Sul. O imóvel é suspenso a cerca de quatro metros por toras de madeiras que seriam desperdiçadas. É nesse ambiente que o artista, em contato com a natureza, tira a matéria-prima e toda sua inspiração para as peças.
O artesão diz que recebe visita de pessoas de várias regiões do país e até de outros países. O que é motivo de orgulho para ele.
“Às vezes fico pensando como é que viajam [as peças] assim para tão longe. Tem nos Estados Unidos, Mato Grosso, São Paulo, Manaus, Brasília, Bolívia, Rio de Janeiro, enfim, tem em muitos lugares, e isso é muito gratificante”, afirmou.
Inspiração na Amazônia
A fauna e flora amazônica são as principais inspirações do artesão, mas ele conta que também gosta de fazer peças inspiradas em imagens religiosas, personalidades, pinturas e artesanato com sementes. Mas, a principal mensagem encontrada no local é a preservação do meio ambiente.
“Eu queria que as pessoas entendessem que tem tanta madeira estragando e ao invés de as pessoas estarem derrubando as árvores, secando nossos igarapés, elas poderiam entender a importância de se preservar toda a nossa floresta”, completou.
Mas, nem sempre as mãos habilidosas trabalharam para o bem. Silva conta que já foi preso três vezes e na última cumpriu pena por três anos e quatro meses por tráfico de drogas, história essa que ele não se envergonha de contar.
“Depois que eu cai na vida, apanhei muito e hoje penso o tanto que apanhei da vida, eu choro e eu não gostaria dessa vida para ninguém, Fui ladrão, contrabandeei armas, cai no tráfico”, lembra.
Foi enquanto estava preso que o artista começou a ter contato com o trabalho em madeira e as primeiras artes foram feitas ainda no presídio. “Lembro que a diretora chegou e me colocou para trabalhar, eu fiz uma cama de solteiro, de casal, já fazia uns detalhes bonitos e hoje e para sempre, só tenho a agradecer por essa chance de mudar de vida”, finalizou.