Quarto foi planejado e possui símbolos matematicamente calculados. Jovem voltou há quase 50 dias para casa em Rio Branco.
O famoso quarto do estudante de psicologia Bruno Borges, de 25 anos, é aberto para visitação em Rio Branco. O objetivo do jovem é que as pessoas tenham acesso à obra de arte que contém dentro do antigo quarto dele, já que atualmente dorme em outro espaço.
O cômodo ficou conhecido em todo o mundo pelos escritos, símbolos e também por uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), por quem tem grande admiração, que custou R$ 10 mil.
Borges explica que a intenção é que as pessoas tenham acesso ao trabalho que ele desenvolveu no quarto – o que faz parte de um plano espiritual, que, segundo ele, completa o projeto da divulgação dos livros.
Orgulhoso, ele explica que tudo foi calculado matematicamente para que ficasse de forma harmoniosa no quarto.
“O quarto está aberto para quem quiser ver, tem uma trilha nele, que quase ninguém percebeu. É pra fazer tipo um turismo, pois é um obra de arte que devia servir de inspiração para as pessoas, porque tem a parte espiritual desse projeto também”, explica.
E o visitante vai ser recebido pelo próprio Bruno Borges. “Sempre abro o portão pra quem chega querendo ver. Outro dia uma pessoa que estava peregrinando por aí, me pediu para entrar. Almoçamos juntos e ele conheceu o quarto”, conta.
O isolamento e o local onde ficou durante os quase cinco mesesainda são assuntos que o jovem não se aprofunda. Porém, ele contou que durante esse período de reclusão levou a Bíblia e leu o Novo Testamento pelo menos 16 vezes.
“Aprendi muitas coisas e Deus fala por sinais mesmo. Deus falou comigo por sinais quando eu estava isolado e escrevia certo por linhas tortas. Me comuniquei com a natureza e compreendi um pouco dos padrões dela”, revela.
Borges também levou cadernos que guardam anotações importantes dessa experiência. Relatos que, segundo ele, podem gerar mais 20 obras.
“Precisa de um trabalho muito grande para isso. Vai levar muitos anos, tem que ter muito estudo e me aprofundar em muitas questões ainda”, pondera.
O jovem também revelou que chegou a pensar em desistir do isolamento no dia em que sumiu de casa. “O dia mais difícil da minha vida foi o que sai daqui pra me isolar sem saber se ia voltar. Eu quase desisto, mas pensei em tudo que passei e toda a missão que havia recebido. Mas, depois do isolamento, considero que subi mais um degrau na vida”, completa.
Amigos não furtaram móveis
Outro ponto que o estudante fez questão de esclarecer foi a participação dos amigos Marcelo Ferreira e Marcio Gaiote. Os dois assinaram contratos que fixavam uma porcentagem na venda dos livros e foram indiciados por furto e falso testemunho.
“Como acreditaram no meu sonho e não pediram nada em troca e nunca me importei com esse negócio financeiro, fui lá e falei que iria fazer um contrato porque eles merecem. As pessoas só conseguem enxergar um lado da moeda, o lado mais fácil ou o que mais passam pra elas, sem ter um ponto de vista múltiplo”, pontua.
O estudante diz ainda que quis, por vontade própria, retribuir a ajuda que os dois amigos lhe deram durante o projeto. Ele acredita ainda que a questão tratada pela Polícia Civil como furtos dos móveis do seu quarto já tenha sido resolvida.
‘Marketing bem intencionado’, diz
Sobre a teoria da Polícia Civil de que o seu desaparecimento não passou de um plano de marketing, Borges diz que é difícil alguém que não o conhece compreender suas atitudes sem ter acesso integral a suas obras e voltou a afirmar que defende o isolamento como potencializador para a criatividade produzida.
Porém, ele não discorda totalmente da polícia. Ele assume que houve a intenção de chamar os olhares para as suas obras, mas nada articulado com maldade.
“Quis fazer isso porque estava muito obcecado por essa verdade e estava encontrando muitas informações e, ao mesmo tempo, tinha sede de mostrar as minhas ideias para o mundo todo e não conseguia ter abertura. Nem mesmo a minha família queria escutar as minhas ideias”, se justifica.
O jovem destaca ainda que é preciso conhecer suas razões antes de tecer julgamentos. “Teve uma intenção de chamar a atenção do mundo todo, mas sempre de maneira bem-intencionada. Eu achava realmente que ia mudar o mundo com as minhas ideias”, completa.
Intenção era ficar de 3 a 5 anos isolado
O estudante revela ainda que em seus planos, o período de isolamento iria de 3 a 5 anos, mas, segundo ele, teve acesso a informações e experiências nos dois primeiros que as deixaram próximo do que buscava.
“Pensei que quando eu voltasse, os livros já teriam sido publicados, todo mundo já teria entendido as ideias. Pensei que fosse um mar de rosas, mas é lógico que é uma utopia e acabei voltando cedo demais e me peguei meio despreparado. Mas, já esperava que fosse bem repercutido”, esclarece.
O livro “TAC: Teoria da Absorção do Conhecimento” entrou para a lista “não ficção” dos mais vendidos da semana, entre 24 e 30 do mês de julho. O ranking é do site PublishNews, construído a partir da soma das vendas de todas as livrarias pesquisadas.
O segundo tem previsão para ser lançado já no início de novembro e vai fundir psicologia e filosofia, segundo Borges.
“Falo sobre os tipos de comportamento que as pessoas devem adotar para seguir uma verdade que acrescente mais nelas e também busco explorar como a sociedade induz a alguns comportamentos e como a gente pode se tornar mais livres e menos alienados”, explica.
Alguns devem seguir a ordem cronológica e outro não. Bruno deve ir decidindo isso ao longo das publicações e a forma que entender que deve facilitar ao leitor.
Para o futuro, ele fala sobre independência, morar sozinho e terminar a faculdade de psicologia, que deve retomar no começo do próximo do ano no sétimo período.
“Pretendo me formar, fazer outros cursos até mesmo de outros assuntos, como de computação”, planeja.
Fonte: G1