Acidente da extinta Rico Linhas Aéreas foi responsável pela morte de 23 passageiros. Apenas 8 sobreviveram
Um dos piores acidentes aéreos da história do Acre completa 15 anos em 2017. No dia 30 de agosto de 2002, quando um avião de modelo Brasília, da Empresa Rico Linhas Aéreas, seguia de Cruzeiro do Sul para Rio Branco transportando 28 passageiros e três tripulantes caiu a pouco menos de 20 km da cabeceira da pista do aeroporto de Rio Branco, exatamente na fazenda dos Alves, no ramal Chapada. O trágico acidente aéreo deixou 23 famílias órfãs.
No dia do acidente várias pessoas tentavam conseguir passagem daquele voo com destino à Capital acreana para participar da ExpoAcre. Contudo, as passagens estavam quase esgotadas e, com a desistência de alguns passageiros e insistência de outros, acabou que o destino reservou a história de todos, naquele início de noite trágico para várias famílias.
O avião decolou às 16h25min de Cruzeiro do Sul, a 650 quilômetros de Rio Branco, e seguia sua rota fazendo uma escala no município de Tarauacá, a exatamente 322 quilômetros do aeroporto da Capital. No meio da viagem, depois de sair de Tarauacá, o avião cortava uma tempestade muito forte e, ao chegar em espaço aéreo entre Rio Branco e o município de Bujari, os contatos entre pilotos e torre do aeroporto foi interrompido. A comunicação foi reestabelecida somente depois da ligação de um dos passageiros, que conseguiu sair das ferragens após a queda do avião e se abrigou em uma residência próxima do local para efetuar uma ligação confirmando a queda do avião.
As causas do acidente
Na época, a Rico Linhas Aéreas afirmou que a tempestade que caia sobre o Acre e grande parte da região amazônica provocou a queda do avião. Segundo o assistente gerencial da companhia aérea, Marcelo Magalhães, a aeronave estava a 1.500 metros da cabeceira da pista e havia feito o procedimento normal de pouso, mas o mau tempo teria provocado a tragédia.
O gerente de operações da empresa, comandante Marivan Cavalcanti de Oliveira, na época também disse que o fenômeno chamado “Tesouro de Vento”, que ocorre durante chuvas torrenciais, teria sido o provável responsável pelo desastre. “O vento, descendente, jogou a aeronave no chão”, explicou.
Jovem perdeu o pai que adiantou volta para não ficar longe dos filhos: “Você cresce com a dor”
A advogada Daya Campos tinha na época apenas 12 anos de idade e havia chegado da aula esperando ansiosa pelo pai Francisco Darichen Campos, funcionário da Secretaria Estadual de Assistência Social que tinha adiantado sua volta de Cruzeiro do Sul, onde estava a trabalho, mas não conseguiu chegar em casa. O relógio marcando 19 horas e seu pai sem dar notícias, mesmo sabendo que seu voo chegava às 18 horas, Daya já estava preocupada.
“Ligamos para o aeroporto para ter notícias e ninguém nos informava nada. Quando deu mais tarde alguém ligou novamente e nos contou que o avião havia caído. Nessa hora ninguém queria acreditar que ele estava naquele avião. Porque ele trocou com outra pessoa. O voo dele estava marcado pra dois dias depois”, explicou Campos.
Daya informou também que naquele dia as coisas aconteceram muito rápido. As pessoas começaram a chegar à sua casa, e acalmá-la, e logo depois receberam a confirmação da morte do pai. Questionada se havia superado, mesmo ficando órfã juntamente com seu irmão, ela disse que não tem como superar.
“Você cresce com a dor. Aprendemos a viver com esse sentimento. A saudade com passar do tempo só aumenta. Perder o pai quando você é tão pequeno faz você crescer mais rápido, enfrentar outros tipos de dificuldades, mas não fiquei desamparada, tenho uma família maravilhosa que me acolheu. Digo que perdi meu pai, que faz uma falta imensa pra mim e na família, mas ganhei outro, meus tios que criam eu e meu irmão há bastante tempo”, relatou de forma emocionada a advogada, que hoje cursa Jornalismo na Universidade Federal do Acre.
“Realizei o sonho dele”, diz Ilderlei Cordeiro na data que marca acidente aéreo que vitimou seus pais
O atual prefeito da segunda maior cidade do Acre, Ilderlei Cordeiro, saiu dois dias antes do acidente de Cruzeiro do Sul pela BR-364, no comando de um caminhão da empresa de seu pai, o deputado federal Ildelfonço Cordeiro, que junto com sua esposa Arlete Cordeiro foram vítimas da tragédia aérea. O prefeito contou com exclusividade à ContilNet como foi a despedida que teve da sua mãe em um posto de combustível, assim como as inúmeras tentativas de ligações ao seu pai, que estava um dia antes do acidente cumprindo agenda no município de Marechal Thaumaturgo.
Para Ilderlei, ninguém nunca está preparado para perder o pai, a mãe ou outro parente querido, mas as palavras de sua mãe em sua despedida, que nunca imaginou ser daquela forma, ainda estão na sua lembrança. “Lembro que na quarta-feira, dois dias antes do acidente, eu falei com minha mãe e me preparei para pegar a estrada. Como o caminhão havia quebrado, eu parei em um posto de combustível para arrumar o veículo, quando minha mãe me viu parou lá e disse: ‘Meu filho, achei que você já tinha ido, deixou todo mundo preocupado. Faça isso não. Vai com Deus e cuidado, vai na paz e volte logo’. Essas foram suas palavras e eu peguei a estrada”, relatou.
Ao chegar nos municípios de Tarauacá e depois Feijó, onde deixaria um suporte de combustível para a campanha de reeleição de seu pai a deputado federal. Ilderlei Cordeiro tentou ligar diversas vezes para seu pai e sua mãe, mas como os dois tinha ido cumprir agenda de campanha em Thaumaturgo, não teve como fazer contato com eles. Preocupado, mas devendo seguir viagem, Cordeiro seguia rumo a Rio Branco pela BR-364.
“Na sexta-feira, dia 30 de agosto de 2002, resolvi algumas coisas e fui antes das 18 horas para o aeroporto, mas com a chuva muito forte, até falei para o meu cunhado que estava comigo, que tinha viajado no voo da Rico e que por duas vezes fiquei com medo, pelos vácuos que ele dava e até disse que era perigo o avião cair com o temporal que estava. Quando estava chegando próximo do aeroporto, só vi aquela luz do caminhão do Corpo de Bombeiros, bati no ombro do meu cunhado e disse que avião tinha caído. Quando olhamos aquele monte de carros, avistei o carro do assessor do meu pai e na hora já cheguei perguntado quem estava lá. Ela só me disse: ‘Teu pai’. Eu disse: ‘meu pai não estava nesse voo’, mas o assessor confirmou que estava. Naquela hora meu mundo acabou. Só pensava que o avião teria caído em algum lugar e com a chuva ele poderia estar morrendo afogado ou algo do tipo. Eu mesmo peguei o carro, entrei no ramal e fui atrás do meu pai”, disse Ilderlei.
Momentos que antecederam o acidente:
O sentimento de dever cumprido foi uma das marcas que Ilderlei deixou por ter tentado encontrar e salvar seu pai. “O mesmo não deu de fazer com minha mãe, por não imaginar que ela estava também no voo”, diz Cordeiro.
“Quis acreditar que ele estava vivo”
O acidente tirou a vida de 23 pessoas, deixando apenas oito sobreviventes:
VÍTIMAS:
01 – Paulo Roberto Freitas Tavares – comandante;
02 – Paulo Roberto Nascimento – co-piloto;
03 – Kátia Regina Figueiredo Barbosa – comissária;
04 – Luís Marciel Costa;
05 – José Waldeir Rodrigues Gabriel;
06 – Francisco Darichen Campos;
07 – Ildefonço Cordeiro;
08 – Arlete Soares de Souza;
09 – Maria de Fátima Soares de Oliveira;
10 – Walter Teixeira da Silva;
11 – Francisco Cândido da Silva;
12 – Ailton Rodrigues de Oliveira;
13 – Carina Matos de Pinho;
14 – José Edilberto Gomes de Souza;
15 – Maria Alessandra de Andrade Costa;
16 – Geane de Souza Lima;
17 – Rosimeire dos Santos Lobo;
18 – Raimundo Araújo Souza;
19 – Maria Raimunda Iraide Alves da Silva;
20 – Maria José Pessoa Miranda;
21 – João Alves de Melo;
22 – Rosângela Pimentel Cidade Figueira;
23 – Clenilda Nogueira.
SOBREVIVENTES:
01 – Napoleão Silva
02 – Raceni Cameli
03 – Maria Célia Rocha
04 – Theodorico de Melo
05 – Maria de Fátima Almeida
06 – João Gaspar
07 – Maria José Albuquerque
08 – Luiz Wanderlei