Estudante voltou para casa nesta sexta-feira (11), após ficar quase cinco meses desaparecido; dois amigos de Bruno foram indiciados por falso testemunho.
A Polícia Civil afirmou, durante coletiva nesta sexta-feira (11), que Bruno Borges, de 25 anos, não vai responder criminalmente após ficar quase cinco meses desaparecido. O estudante estava sumido desde o dia 27 de março e voltou para casa na manhã desta sexta. O delegado que investiga o caso, Alcino Júnior, disse que a família também não deve ser responsabilizada já que o desaparecimento foi voluntário e não constitui crime. O jovem vai ser ouvido na próxima semana.
“Não tinha um delito praticado, havia uma comprovação de ausência voluntária programada pelo Bruno. Então, como não é crime, ele continuou vivendo esse momento de afastamento da sociedade e encerramos o inquérito, responsabilizando algumas condutas do Márcio Gaiote e Marcelo [amigos de Bruno], por falso testemunho. E também foram indiciados pelo furto de alguns materiais que foi noticiado, inclusive, pela mãe do Bruno”, afirmou.
Júnior afirmou que rora dos dois indiciamentos dos amigos do jovem, não há motivos para ser o estudante responsabilizado criminalmente. “Precisa que fique claro também que o aparecimento do Bruno não traz nenhuma consequência jurídica, talvez tenha trazido uma movimentação social, consequência social, mas não consequência jurídica, até porque o ordenamento brasileiro não vê nenhum tipo de crime para quem se ausenta voluntariamente”, explicou.
O delegado disse ainda que conversou com o pai do estudante, Athos Borges, superficialmente pela manhã e que a data para Bruno ser ouvido ainda não foi marcada, mas deve ser na próxima semana. “Essa conversa é mais para trazer alguns esclarecimentos e pontuar alguns vínculos. A nossa conversa foi muito preliminar, superficial. Entendo que hoje é um momento da família, para que eles possam conversar entre eles, então, não achei conveniente ouvi-lo no dia de hoje”, destacou.
Além disso, o delegado também não soube informar se Bruno chegou a sair do estado ou sempre esteve em Rio Branco. Ele explicou ainda que a legislação não prevê punição para desaparecimento e que em nenhum momento a família noticiou crime.
“O Bruno se afastou voluntariamente, não notificou nenhum tipo de crime, nem a família noticiou crime, e sim desaparecimento e a princípio todos de boa fé e isso não é crime. Agora se houvesse uma notícia e a gente tivesse ciência de que eles sabiam que não se tratava de crime algum, aí sim haveria um crime que é chamado falsa comunicação de crime. E aí na esfera criminal ele seria responsabilizado”, explicou.
O primeiro dos 14 livros que Borges deixou criptografado entrou para a lista “não ficção” dos mais vendidos da semana, entre 24 e 30 do mês passado. O ranking é do site PublishNews, construído a partir da soma das vendas de todas as livrarias pesquisadas. A segunda obra do jovem já tem data para lançamento, disse a editora ao G1. O livro “TAC: Teoria da Absorção do Conhecimento” (Arte e Vida) tem 191 páginas nas quais o autor faz grande esforço para explicar sua criação.
Relembre a história
Antes de sair da casa onde mora em Rio Branco, Bruno Borges deixou 14 livros escritos à mão e criptografados, com alguns trechos copiados nas paredes, teto e no chão do quarto. Deixou ainda uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), por quem tem grande admiração, que custou R$ 10 mil.
Em maio deste ano, Marcelo Ferreira, de 22 anos, amigo do estudante, chegou a ser detido pela polícia pelo crime de falso testemunho. Na casa dele, a Polícia Civil encontrou dois contratos – um deles autenticado no dia do desaparecimento – que estabeleciam porcentagens de lucros com a venda dos livros. Ferreira teria ajudado Bruno no projeto.
Policiais também encontraram móveis do quarto do acreano na casa de outro amigo, Bruno Gaiote, que também teria participado na logística. Gaiote, que mora na Bahia, chegou a ser indiciado para depor na capital acreana, mas não compareceu, sendo indiciado indiretamente.
Em entrevista ao Bom Dia Amazônia exibida no dia 3 de julho, Ferreira contou que ajudou Bruno a montar o quarto e sabia do projeto, mas garantiu que não tinha conhecimento do desaparecimento, nem do local onde ele poderia estar vivendo.
Para a Polícia Civil, que investigou o caso, os contratos, e-mails e mensagens trocadas entre os amigos esclarecem a situação. O sumiço de Bruno foi parte de um plano para garantir a divulgação do trabalho deixado por ele, informou na época o delegado Alcino Souza Júnior.