O cientista político Nilson Euclides da Silva, professor da Ufac estudioso de questões temáticas como voto e racionalidade, entende que o prefeito de Rio Branco, Maucus Alexandre (PT) seria governador do Acre se as eleições fossem hoje. O senador Gladson Cameli, diz o professor, deve escalar um colina íngreme se quiser virar o jogo até outubro de 201’8. A entrevista abaixo é uma das mais críticas já publicada sob a ponto de vista científico, e foi motivada pela pesquisa divulgada na noite desta segunda-feira, pela afiliada da Rede Record no Acre. Leia.
acjornal – Qual a sua leitura da pesquisa?
Nilson Euclides – Há desiquilíbrio muito forte a favor do Marcus Alexandre na capital, o primeiro e mais decisivo colégio eleitoral. São 18% que não se pode desprezar nunca. A diferença que Gladson tem no interior não é suficiente para que ele fosse eleito se as eleições fosse hoje. Esse cenário é mais ou menos o que a pesquisa da Delta mostrou em março. E revela o quanto é errado dizer que o PT tá morto ou que vai ganhar a eleição só por que tem sobrenome Cameli.
acjornal – Quais os erros do Gladson?
Nilson Euclides – Política se faz todo dia. Não é inteligente ficar posando ao lado de um presidente que tem menos de 3% de aprovação e ainda ficar agredindo senadora numa votação, num gesto extremamente antipopular. Para com isso ! Tem que fazer a sua política. Larga o Temer pra lá, rapaz. Desse jeito, só vai sustentar a base de corrupção como sempre foi. Qualquer político que tem responsabilidade com sua história política não se junta a grupos que compram deputados. Tem que votar de acordo com sua consciência, em propostas progressistas capazes de fazer reformas estruturais que o país tanto precisa. Mudanças no conceito da política trabalhista e previdenciárias são necessárias, mas não nos moldes que essa quadrilha está fazendo.
acjornal – Quem tem a missão mais difícil?
Nilson Euclides – Será uma eleição polarizada. Pela primeira vez, a oposição tem um candidato forte, com chances de chegar, desde 20 anos atrás com o advento do MDA. O Gladson tem liderança natural, mas o problema da oposição é sempre o mesmo. O senador precisa invadir a colina do candidato do PT (capital), que construiu uma aceitação consolidada, um índice de aprovação altíssimo que beira 60% entre ótimo e bom.
Acjornal – E se a eleição fosse amanhã?
Nilson Euclides – A tendência é que Marcus Alexandre fosse eleito, a menos que apareça uma pasta rosa, um dossiê, sei lá, capaz de complicar a vida dele. O candidato do PT construiu sua base toda na capital. Em tese, é mais fácil que ele, Marcus, conquiste o interior, com a máquina na mão, e consolidar esse índice de aprovação. Apesar da buraqueira, é uma tarefa difícil para o Gladson tirar voto do PT em Rio Branco. Sem contar que a gestão do PT aqui em Rio Branco está guardando investimentos que vão aparecer com maior ênfase nas prévias da eleição. Mas, obviamente, ele precisa avançar em cidades como Quinari, Tarauacá, Feijó. Sena Madureira.
acjornal.com – E Cruzeiro do Sul?
Nilson Euclides – Gladson viria com votação expressiva no Juruá, mas se ele perder votos em colégios eleitorais consideráveis, fica difícil. Com esse empate técnico, meio por cento dá a vitória a qualquer um. É um trabalho árduo, mas não impossível.
acjornal – Simpatia vence eleição?
Nilson Euclides – É mais fácil, do ponto de vista estratégico e eleitoral, o PT avançar sobre a oposição no interior. Acho que Marcus tem uma planície pela frente. O Gladson vai precisar escalar uma colina. A Frente Popular deve estar comemorando esses números, embora seja cedo ainda. O Gladson deve cuidar da sua campanha. Mas tem Lava jato no encalço dele. Esse negócio de votar com o governo Temer é perigoso também. Tem que parar com isso. O Temer tira voto de qualquer um hoje em dia. O candidato do PP tem que fazer candidatura focada no trabalhador. A gente conversa com ele, tá tudo bem. Mas há um vazio de idéias. Ter simpatia, tudo bem, é bom sorrir para o povo, mas chega a hora que é preciso falar o que você quer. Ser bem humorado influencia. Ser boa pinta, também. Mas pra mudar o jogo é preciso ter conteúdo.
acjornal –
Nilson Euclides – É complicado. Não dá pra mudar o jogo ouvindo Luiz Calixto, Alércio Dias e Osmir Lima. Parou, né? Aí não dá. O Osmir era ajudante de ordens do Tião Viana até ontem. Tem que botar gente de nível, capaz de sentar com o candidato orientar pra vencer.
Qual deve ser o perfil do Gladson?
O Bittar não trocaria uma candidatura bem avaliada para o Senado. O Alan não agregaria votos. Não sei se a Sinhazique poderia acrescentar. Ela seria a opção se a escolha fosse uma mulher.
acjornal – O que a oposição deve comemorar hoje?
Nilson Euclides – Apenas o fato de, se as eleições fossem agora, faria um senador. Nada mais que isso. Uma vaga é do Jorge Viana, e isso me parece irreversível. O Márcio Bittar seria o dono da segunda vaga.
acjornal – Por que Gladson Cameli é tão popular nas redes sociais?
Nilson Euclides – Olha, rede social não é parâmetro, nem termômetros. Na Internet, tudo é hiper dimensionado. O dado mais concreto e preciso vem das pesquisas. Eu gosto de ver a disputa polarizada. Comentários apaixonados não agregam.
acjornal – Como fica o Bocalom e sua proposta de candidatura alternativa pela oposição?
Nilson Euclides – O Bocalom perdeu o bonde da história. Inbsiste numa candidatura majoritária que não tem a menor chance de vitória. Ele deveria arriscar uma candidatura legislativa. Pra deputado estadual. Federal, talvez. As coisas estão polarizadas entre Marcus e Gladson, e fim de papo. Também não se leva a sério a candidatura de Nazaré, Zen e Emylson. Isso é bobagem. Nazaré sempre foi uma incógnita. Emylson nunca foi secretário de Segurança, e sim eterno candidato.