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‘Estava descalço e debilitado’, diz vizinha e mãe de amigo de infância de Bruno Borges

Bruno Borges esteve na casa de Maria do Socorro no dia em que voltou para a casa dos pais, na sexta (11). Maria falou ao G1 sobre a amizade do filho dela com o estudante e do reencontro com Borges.

Maria do Socorro Benício, de 53 anos, mora numa casa simples de madeira, no bairro Aviário, bem próximo de onde vive o estudante Bruno Borges, de 25 anos. A casa dela foi o segundo lugar que Bruno procurou, na sexta-feira (11) quando reapareceu, depois de quase cinco meses sumido. Ela não estava em casa no momento e ele foi recebido pelo filho, o amigo de infância, Paulo, que o acompanhou até em casa.


Maria relata que Bruno chegou à casa dela descalço e debilitado. O filho Paulinho emprestou para ele uma sandália e, durante o percurso até a casa dele, não trocaram nenhuma palavra, conforme contou o filho dela.


“Paulinho contou que acompanhou ele [Bruno] até a casa, quando chegou lá tocaram a campainha e o Athos [pai de Bruno] apareceu. Athos passou mal. Eu não estava em casa, estava o Paulinho e a namorada dele”, diz.


Em conversa com o G1, ela falou detalhes da infância de Bruno com o filho, das visitas dele à casa da família e do estilo de vida simples do jovem. A ‘tia’, como é chamada por Bruno, fez uma visita para o rapaz no domingo (13), dois dias após a volta dele para casa.


A amizade dos garotos era alvo de crítica, segundo Maria, por causa da diferença social e também por que o filho nasceu com uma malformação congênita neurológica de Parizi. “Bruno sempre foi da minha casa, tinha gente que criticava ele por ser filho do dono da Pão de Queijo [restaurante da família] e andar com um rapaz deficiente”, contou.


Ela acrescenta que Borges sempre foi muito próximo do filho dela, andavam de bicicleta juntos e dizia que se sentia bem na casa dela. Os amigos se consideram irmãos.


“Fui ver ele no domingo e ele disse: ‘tia, a primeira casa que fui foi a sua’. Ele foi na casa dele e depois na minha. Perguntei como ele estava e disse que estava melhor onde estava, que estava com Deus. Acho que o meu menino estava em um retiro, mas ele não falou nada. Falei que para estar bem com Deus não tinha que ter feito a mãe dele sofrer, a família e nem eu. Disse que Deus não gosta que a gente faça os pais sofrerem. Me pediu desculpas”, relembrou.



Conversa antes de sumir

Três dias antes de desaparecer, Bruno Borges esteve na casa de Maria do Socorro, sentou na calçada e conversou sobre o futuro. Ela relembra que o jovem falou que estava terminando os livros, queria ajudar ela e outras pessoas que precisassem de ajuda. Ela disse que ele não entrou em detalhes sobre o sumiço, mas comentou que iria esfriar a cabeça. Esse foi o último encontro entre os amigos até o domingo.


“Sabia do projeto dele, tem em mim uma cúmplice, tem confiança. Três dias antes dele sumir, sentamos na calçada e conversamos muito. Disse que ainda ia me ajudar, que quando lançasse o livro ia ajudar todas as pessoas que precisam. Bruno não é doido. É um rapaz super fino, humilde, tem um coração imenso. É super inteligente, humano, parece que não existe. Minha identificação com ele é essa, de não ligar para os bens materiais. Disse que se sentia bem na minha casinha de madeira. É um filho para mim”, explicou.


Sobre os boatos de que Borges teria desaparecido para ganhar mídia e ajudar na publicação dos livros, Maria disse que sente uma revolta ao saber que as pessoas pensam que o rapaz tenha feito tudo por dinheiro.


“Não se liga em bens materiais. Os trajes dele são sandálias de borracha, blusa e bermuda. Gostavam de andar de bicicleta ou a pé. É muito simples. Esse negócio de que ele foi no cartório para passar o dinheiro para o amigo e primo, com certeza é verdade. Ele não pensa em dinheiro. Acho que vai doar o dinheiro”, concluiu.


Relembre a história

Antes de sair da casa onde mora em Rio Branco, Bruno Borges deixou 14 livros escritos à mão e criptografados, com alguns trechos copiados nas paredes, teto e no chão do quarto. Deixou ainda uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), por quem tem grande admiração, que custou R$ 10 mil.


Em maio deste ano, Marcelo Ferreira, de 22 anos, amigo do estudante, chegou a ser detido pela polícia pelo crime de falso testemunho. Na casa dele, a Polícia Civil encontrou dois contratos – um deles autenticado no dia do desaparecimento – que estabeleciam porcentagens de lucros com a venda dos livros. Ferreira teria ajudado Bruno no projeto.


Policiais também encontraram móveis do quarto do acreano na casa de outro amigo, Márcio Gaiote, que também teria participado na logística. Gaiote, que mora na Bahia, chegou a ser indiciado para depor na capital acreana, mas não compareceu, sendo indiciado indiretamente.


Em entrevista ao Bom Dia Amazônia exibida no dia 3 de julho, Ferreira contou que ajudou Bruno a montar o quarto e sabia do projeto, mas garantiu que não tinha conhecimento do desaparecimento, nem do local onde ele poderia estar vivendo.


Para a Polícia Civil, que investigou o caso, os contratos, e-mails e mensagens trocadas entre os amigos esclarecem a situação. O sumiço de Bruno foi parte de um plano para garantir a divulgação do trabalho deixado por ele, informou na época o delegado Alcino Souza Júnior.


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