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Bruno Borges diz que arriscou a vida e integridade para ‘despertar sociedade adoecida’

Bruno Borges diz que críticas ao livro que não agregam valores positivos são ‘irrelevantes’.

Oito dias após voltar para casa, o estudante Bruno Borges, de 25 anos, diz que nos quase cinco meses em que ficou desaparecido esteve em busca de se reencontrar em uma ‘viagem mística da alma’. Em entrevista ao G1, cujas perguntas foram respondidas por e-mail, ele reafirma que se isolar fazia parte do projeto para ‘encontrar a verdade da vida’ e despertar uma ‘sociedade adoecida’.


“Eu tinha noção que a pedra filosofal estava dentro da terra tenebrosa, então fui atrás de entrar nessa terra tenebrosa para encontrá-la. Da mesma maneira que o herói adentra na caverna para matar um dragão e que Jonas entrou em uma baleia, eu também mergulhei no mar do inconsciente afim de me resgatar”, explicou.


Não ter avisado sobre o isolamento, nem mesmo para os pais, foi um sacrifício que fez para ‘o despertar ao redor do mundo’. “Perguntem a si mesmos: Será que é fácil abandonar as pessoas que amo, arriscando minha vida e integridade com o intuito de despertar uma sociedade adoecida e de encontrar algo maior em mim mesmo?” Eu não costumo dizer os problemas que passei, pois: “E conhecereis pelas obras””, frisou.


O estudante desapareceu no dia 27 de março, após deixar em seu quatro uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600) e 14 livros escritos à mão e criptografados, com alguns trechos copiados nas paredes, teto e no chão do quarto. Ele voltou para casa no último dia 11.


Sobre as críticas que recebeu após a publicação do primeiro livro, TAC: Teoria da Absorção do Conhecimento, ele assegura que tem lidado com serenidade, que absorveu apenas as críticas construtivas e tem trabalhado na correção de alguns trechos. A volta de Bruno para casa coincidiu com o momento em que a obra entrou na lista de “não ficção” dos mais vendidos da semana, entre 24 e 30 do mês passado.


“As críticas construtivas eu tenho absorvido e tentado melhorar mediante o reconhecimento dos erros. Mas, infelizmente, alguns criticam somente para seguir o pensamento das massas, honestamente, para mim, isto é irrelevante, pois trabalho com absorção dos valores positivos que podem agregar em algo e com o descarte daquilo que vêm somente para afetar”, afirmou Bruno.


Sem revelar onde esteve, o ‘menino do Acre’, como ficou conhecido, disse que pretendia ficar isolado até atingir aquilo que estava buscando. “Não sabia se iria voltar. Felizmente toda minha meta foi alcançada nos dois primeiros meses, então, me preparei para meu retorno”, acrescentou, sem esclarecer o que era exatamente sua ‘meta’ .


Ele diz que escrever os livros em códigos é parte de uma missão que recebeu. “Aos 21 anos passei por uma experiência profunda aonde recebi todas as informações de como deveria proceder. Revelar o que está oculto é só o começo para a senda do autoconhecimento que todos nós buscamos em vida. Esta foi uma maneira de instigá-los ao primeiro passo”.


‘Maior problema da humanidade é a falta de empatia’, diz Bruno

Para Bruno, o maior problema da humanidade é a falta de empatia. “Se não buscarmos nos conhecer não poderemos ser empáticos o suficiente para amar ao próximo como a nós mesmos. Sem a educação que resgata o homem primordial e lhe liberta do véu da ilusão fica difícil conseguir enxergar-se no outro, e vice-versa. Como diria Isaac Newton: “Construímos muros demais e pontes de menos”.


Já para encontrar a felicidade, Bruno diz que é preciso ‘trilhar o caminho do meio’. “Doar-se em demasia é uma negação de si mesmo, o que gera infelicidade. Pensar somente em si é uma posse, o que também acarreta infelicidade. Seguir o caminho do meio é eliminar a palavra “EU” do dicionário e incluir a palavra “NÓS”, enfatiza.


E o caminho para a evolução, segundo Bruno, só se consegue buscando conhecimento. “Sem dúvidas! Digo isto por experiência própria. Comecei a buscar conhecimentos faz poucos anos e hoje me sinto uma outra pessoa. Cada vez que buscamos aprender algo diferente à nossa maneira de pensar, quebramos um velho paradigma. Deste modo renascemos e assim subimos degrau por degrau. Transformemo-nos de pedra morta em pedra viva”, acrescentou.


Volta pra casa

Bruno Borges reapareceu no último dia 11, após sumir por quase 5 meses. As câmeras de segurança registraram o momento em que ele apertou o interfone e esperou na frente de casa por mais de uma hora. Um vizinho aparece e liga para o pai de Bruno, que se emociona ao encontrar o filho.


Ele foi ouvido pelo delegado Alcino Júior no último dia 15 e reafirmou à polícia que planejou o sumiço, desapareceu por livre e espontânea vontade e que não foi coagido por ‘nenhuma força externa’, o que mantém a versão da polícia de que não houve crime no sumiço.


Já o advogado Jairo Melo, que representa Marcelo Ferreira, amigo de Bruno, disse ao G1, na quinta-feira (17) que o estudante de psicologia ajudou a retirar os móveis do quarto dele, antes de desaparecer.Ferreira foi indiciado pelos crimes de furto e falso testemunho. O advogado acredita que o depoimento dado por Bruno à polícia pode inocentar o cliente dele do crime de furto.


‘Rapaz humilde e inteligente’

A vizinha e mãe do amigo de infância de Bruno, Maria do Socorro Benício, de 53 anos, disse que visitou ele no domingo (13), dois dias depois dele reaparecer. Ela falou detalhes da infância de Bruno com o filho, Paulo Roberto, das visitas dele à casa da família e do estilo de vida simples do jovem.


A amizade dos garotos era alvo de crítica, segundo Maria, por causa da diferença social e também por que o filho nasceu com uma malformação congênita neurológica de Parizi. “Bruno sempre foi da minha casa, tinha gente que criticava ele por ser filho do dono da Pão de Queijo [restaurante da família] e andar com um rapaz deficiente”, contou.


Relembre a história

Antes de sair da casa onde mora em Rio Branco, Bruno Borges deixou 14 livros escritos à mão e criptografados, com alguns trechos copiados nas paredes, teto e no chão do quarto. Deixou ainda uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), por quem tem grande admiração, que custou R$ 10 mil.


Em maio deste ano, Marcelo Ferreira, de 22 anos, amigo do estudante, chegou a ser detido pela polícia pelo crime de falso testemunho. Na casa dele, a Polícia Civil encontrou dois contratos – um deles autenticado no dia do desaparecimento – que estabeleciam porcentagens de lucros com a venda dos livros. Ferreira teria ajudado Bruno no projeto.


Policiais também encontraram móveis do quarto do acreano na casa de outro amigo, Márcio Gaiote, que também teria participado na logística. Gaiote, que mora na Bahia, chegou a ser indiciado para depor na capital acreana, mas não compareceu, sendo indiciado indiretamente.


Em entrevista ao Bom Dia Amazônia exibida no dia 3 de julho, Ferreira contou que ajudou Bruno a montar o quarto e sabia do projeto, mas garantiu que não tinha conhecimento do desaparecimento, nem do local onde ele poderia estar vivendo.


Para a Polícia Civil, que investigou o caso, os contratos, e-mails e mensagens trocadas entre os amigos esclarecem a situação. O sumiço de Bruno foi parte de um plano para garantir a divulgação do trabalho deixado por ele, informou na época o delegado Alcino Júnior, responsável pelo caso.


Lançamento de livro

O primeiro dos 14 livros de Borges entrou para a lista “não ficção” dos mais vendidos da semana, entre 24 e 30 do mês passado. O ranking é do site PublishNews, construído a partir da soma das vendas de todas as livrarias pesquisadas. A segunda obra do jovem já tem data para lançamento, disse a editora ao G1.


O livro “TAC: Teoria da Absorção do Conhecimento” (Arte e Vida) tem 191 páginas nas quais o autor faz grande esforço para explicar sua criação.


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