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Transformers: O Último Cavaleiro | Crítica

Transformers: O Último Cavaleiro é um filme narrado por um lorde inglês com sinais de senilidade, como fica claro e torna-se motivo de piada na primeira cena que Anthony Hopkins e Mark Wahlberg dividem entre si. Essa informação pode parecer dispensável, afinal que diferença faz saber de quem é a perspectiva narrativa nesses filmes de Transformers que, um após o outro, se alteram e se anulam para manter a mesma repetição impessoal. O tal lorde não é menos funcional ou dispensável do que qualquer outro personagem da franquia criado antes para racionalizar o absurdo. A questão essencial, aqui, é sua condição de narrador senil.


Só isso justifica (pelo menos do ponto de vista diegético) o completo desprezo com que o quinto filme, ainda mais do que os anteriores, estabelece relações precárias de causa-e-efeito para levar seus personagens de um ponto a outro. Há o acadêmico ou cientista que estudou tudo, ele dita os caminhos dos guerreiros, mas toca o telefone e alguém diz que o caminho é outro, e o grupo se divide ou muda de direção, e de repente surgem os perseguidores (porque estar em fuga é a grande desculpa para correr sem rumo) e os tiroteios começam, e assim como tudo é filmado como clímax emocional em Transformers são também os tiroteios, então sempre há uma cavalaria a mais para chegar e salvar o dia no meio do tiroteio, o que reúne os personagens por fim.


Não há causalidade possível, de qualquer forma, dentro de uma franquia que aplica pequenos reboots a cada longa, revisando sua mitologia para ficar mais e mais revelatória a cada nova investida dos Decepticons à Terra. Há franquias que abraçam sua vocação episódica, como Velozes e Furiosos, mas depois de cinco filmes Transformers se recusa a seguir esse caminho: seus personagens acreditam que a mitologia é tudo, embora visivelmente ela não valha nada, e nessa crença todos eles parecem, no fim, dividir a mesma senilidade. Seria como juntar todas as maiores personalidades dos últimos séculos e dizer que eles fazem parte da mesma abençoada linhagem familiar – o que aliás Transformers 5 faz.


O que torna O Último Cavaleiro interessante dentro da franquia e da obra de Michael Bay é que o diretor, ao contrário dos personagens da sua criação, tem plena consciência do contexto. Se os maiores cineastas passam a vida profissional depurando um estilo e uma visão de mundo, buscando a essência das coisas, é possível dizer o mesmo de Bay: Transformers 5 é uma colagem de momentos e de dinâmicas que interessam o diretor desde seus primeiros longas. O que o desinteressa – plot, arcos dramáticos, viradas – é negligenciado ou simplesmente desconsiderado.


Michael Bay não é um diretor de ação, o que o interessa não é a ação como mecanismo que movimenta uma narrativa. O que vale para Bay – como o novo Transformers atesta – é a pose, a plasticidade. O nome dele aparece nos créditos finais sobre uma veloz panorâmica de dunas, não importa que deserto seja. A fotogenia é o idioma e a brodagem, a única dramaturgia possível. Todo personagem deste filme poderia estar também num vídeo de academia de Kléber Bambam, cego de adrenalina, dando soquinhos no amigo do lado a título de empatia, e assistir a um Transformers do começo ao fim é como ver em glitch o monstro saindo da jaula, mas o monstro só promete, põe a cabeça pra fora e nunca sai da jaula de verdade. A jaula é… o enquadramento.


O que temos neste filme, acima de tudo, é a consagração de Bay como ensaísta fotográfico das imagens isoladamente mais bonitas que os trailers de blockbusters são capazes de compilar. Pode ser o suficiente para ele como artista mas a essa altura do campeonato é pouco para manter a franquia no topo. De volta à comparação, é curioso notar que Bay identificou em Transformers, bem antes de Velozes e Furiosos, a vocação para a galhofa – assumida em espírito mas não como processo. Todo ator não-robô num filme de Transformers precisa ter consigo alguma noção de timing cômico. O que falta, então (e o filme solo de Bumblebee pode trazer), é a mudança de registro, ser mais uma franquia de filmes mesmo e menos essa ilusão insana de uma grande orquestração de um universo coeso, que até agora sequer dominou os rudimentos do começo, meio e fim.


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