Elias Daier disse parte do material foi usado em telhado da prefeitura e encaminhado para a escola de um outro assentamento. Operação da Polícia Civil foi realizada nesta quarta (5), no Bujari.
O ex-secretário de Educação Elias Daier foi um dos ex-gestores conduzidos coercitivamente à delegacia do município de Bujari, distante 22 km da capital Rio Branco, durante uma operação da Polícia Civil realizada nesta quarta-feira (5). Na ação, a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão e levou à delegacia ex-prefeitos e ex-secretários para apurar um possível desvio de materiais que seriam utilizados para a construção de uma escola no assentamento Dom Moacir.
Ao G1, o delegado de Polícia Civil Pedro Resende, responsável pelo caso, disse que foram conduzidos os ex-prefeitos Antônio Raimundo Gomes, o Tonheiro, Adaildo dos Santos Oliveira, presidente da Câmara de Vereadores que assumiu a Prefeitura após a prisão de Tonheiro em setembro de 2016, e Raimundo Celso Camelo, o Celso da Codorna, que era vice-presidente da Câmara e assumiu a prefeitura pois Oliveira era candidato à reeleição.
Além do ex-secretário de Educação, também foram conduzidos o ex-secretário de Agricultura Adaildo dos Anjos e o presidente da Associação dos Produtores Rurais do Polo Dom Moacir, José Maria, mas a reportagem do G1 não conseguiu contato com os dois nem com ex-prefeito Oliveira. Todos, segundo o delegado, prestaram depoimento e foram liberados em seguida.
“Disseram que tinha um mandado para fazer buscas na minha casa e respondi que podiam entrar. Eu não levei nenhuma telha para casa, isso eu afirmo. Quando cheguei na prefeitura, disseram que as telhas eram doadas, teve uma ventania no município e arrancou o telhado da prefeitura, falamos com o secretário de obras e autorizamos usar o material”, conta.
Daier relata ainda que uma comissão da comunidade Ramal da Fazendinha foi até a prefeitura e disse que lutava há dois anos para melhorar a escola local. Foi então que fecharam um acordo para a gestão doar o material e os moradores entrarem com a mão de obra. O restante das telhas, que deveria seguir para a construção da escola no assentamento Dom Moacir, foram encaminhadas para a escola municipal Íris de Oliveira, segundo ele.
“Esse processo de doação eu nunca vi e nem o restante do material, ninguém soube. A comunidade chegou com a lista de materiais e eu disse para levar as telhas. Em nenhum momento soube que esse material deveria ser usado na construção de uma segunda escola no mesmo assentamento. Nunca contei a quantidade de telhas, mas foram retiradas nessas duas situações. Agora, se eu errei mandando essas telhas para uma escola municipal podem contar a quantidade que, se estou errado, vou pagar do meu salário”, afirma.
O ex-prefeito Tonheiro diz que não tem conhecimento do encaminhamento que foi dado ao material. Tudo que sabe, segundo ele, é que o material foi doado, encaminhado para a prefeitura e apenas uma parte do que deveria ser usado na construção da segunda escola permaneceu no local.
“Falei o que sabia, mas com responsabilidade, não sei quantidades e nem o que aconteceu ou onde está, isso a polícia vai investigar. O delegado queria saber o que tinha acontecido e expliquei que muito material, como madeira e tubos, acabaram faltando. Fiquei à disposição da polícia e vou continuar prestando esclarecimentos, mas só vou falar da minha gestão”, diz.
Já o ex-prefeito Camelo diz que assumiu a prefeitura por apenas 18 dias e não teve conhecimento total de todos os recursos e obras que estavam em andamento no órgão. Segundo ele, as telhas foram usadas para cobrir o telhado do gabinete do prefeito e chefe de gabinete, pois um vendaval arrancou o teto e molhou documentos e computadores.
“A gente precisava trabalhar, atender a comunidade. Aí, agora, no cúmulo do absurdo, chega essa intimação e a única coisa que o delegado me perguntou foi se autorizei o uso das telhas no teto da prefeitura. Imagina eu, no gabinete sem teto e tenho que pedir a autorização do juiz para usar o material? Autorizei e autorizaria de novo. O que quero é saber de onde veio essa denúncia e os argumentos para essa acusação”, diz.
Operação
O delegado responsável pela operação disse ao G1 que os insumos eram para ser usados em dois colégios, no entanto, apenas um foi entregue. As conduções, segundo ele, servem para tentar descobrir onde foi usado o material de construção.
A polícia afirmou que ainda não existe nenhum valor estimado do desvio. Uma das escolas foi construída no ano passado e a outra deveria ter sido entregue já neste ano.
“Tivemos informações de que eram para ser duas escolas. Fomos in loco, verificamos que havia apenas uma construída e começamos a investigação. Descobrimos que parte do material destinado à segunda escola foi desviado e representamos pelas buscas e conduções coercitivas”, explicou.