Comissão na Câmara de Vereadores discute regulamentação do serviço na cidade. Passageiros recorrem a transportes alternativos.
Na segunda maior cidade do Acre, Cruzeiro do Sul, o serviço de transporte coletivo é precário e não consegue atender a população, de 82 mil habitantes. Apenas dez linhas de ônibus circulam dentro da cidade e os usuários são obrigados a recorrer a meios alternativos, segundo a Secretaria Adjunta de Transporte da cidade, como as vans tipo lotação.
Sem qualquer regulamentação da prefeitura, duas empresas oferecem o serviço, mas colocam nas ruas ônibus com data de fabricação de 19 anos atrás. O carro mais novo é de 2005, segundo o dono de umas das empresas.
Os estudantes se sentem prejudicados e pedem que as vans trabalhem de forma integrada com as linhas de ônibus. Eles reclamam também do sucateamento dos carros e a deficiência nas linhas disponíveis.
Cadastrados e regulamentados são 225 mototaxistas, 150 taxistas, 80 pampeiros, 40 paus-de-arara, 25 vans e oito empresas cadastradas para fazer o transporte escolar. Como o transporte coletivo não tem regulamentação, isso acaba refletindo na má prestação do serviço. Na última quinta-feira (22), a Câmara de Vereadores criou uma comissão para debater as melhorias e a regulamentação desse transporte.
O secretário adjunto de Transporte na cidade, coronel José Alves, explica que a regulamentação do transporte pode acarretar aumento na tarifa. Atualmente, a passagem de ônibus é de R$ 3 entre os bairros e Centro e R$ 2 para a linha do campus Floresta, da Universidade Federal do Acre (Ufac), que fica na Estrada do Canela Fina, Km 12. Além disso, Alves confirma que a prestação do serviço é feita de forma precária.
“Sabemos que a frota dos ônibus não é adequada para o transporte. A regulamentação traz segurança jurídica para os empresários fazerem a troca da frota. Porém, tem um instituto homologado pelo Inmetro, que tem uma tabela para fazer o cálculo de planilha. Já foi feito uma análise e a tarifa em Cruzeiro do Sul, devido aos custos de pneus, lubrificantes e combustíveis, poderia subir para R$ 5. Com isso, o preço para os estudantes subiria para R$ 2,50”, explica.
Na reunião, uma comissão foi formada com alunos, professores, vereadores, Secretaria de Transporte, Departamento Estadual de Trânsito do Acre (Detran-AC) e Agência Reguladora dos Serviços Públicos do Acre (Ageac) para tentar melhorar o transporte municipal. A intenção é buscar uma alternativa que seja viável aos usuários e proprietários das empresas.
Empresário defende regulamentação
Pressionado e reconhecendo a precariedade do serviço, um dos representantes da empresa de transporte que atende a cidade, Adevandro Costa, defende a regulamentação e alega que somente assim o serviço poderá ter melhoria.
“Como empresa, sou a favor da regulamentação. Para comprar um carro novo, preciso de garantias para poder procurar um banco para financiar. Hoje temos carros fabricados nos anos 1998, 2000, 2004 e 2005. São carros que, apesar de velhos na idade, são bem conservados. Fazemos manutenção frequente para evitar transtornos aos usuários”, garante.
‘Aluno assaltado é rotina’, diz representante
O representante dos estudantes da cidade, Francisco Nunes, diz que a comunidade acadêmica é uma das mais prejudicadas com a falta de qualidade do serviço. Segundo ele, a má-prestação do serviço contribui também para o aumento de assaltos.
Ele reclama das rotas feitas pelos ônibus e também pelo fato de não haver um terminal urbano para atender essa demanda. “Alunos de bairros como o Cruzeirão, Telégrafo, Cohab, Remanso e outros bairros ficam prejudicados. Vários já foram assaltados e tem ainda a questão de quem reside no bairro Miritizal, que fica no outro lado do rio, que não são beneficiados. Aluno assaltado é rotina”, alega.
Sobre a alegação da secretaria de que, com a regulamentação do serviço, o preço da passagem pode subir para R$ 5 e R$ 2,50 para estudante, Nunes diz que não acredita nesse impacto e que falta “boa vontade”.
“O coronel precisa apresentar este estudo. Acho que isso não é motivo para manter nosso transporte da maneira como está. Acredito que, no momento que regularizar, o próprio mercado pode passar os preços. Acho que está faltando é boa vontade de regulamentar esse serviço. Dá para botar as vans para fazer a integração com ônibus”, finaliza.