A reviravolta no desaparecimento da jovem Glória Rocha, de 17 anos, que, após ser encontrada procurou a polícia e denunciou o pai, Joselito Oliveira Rocha, de 40, por agressão, segue mobilizando a polícia, conselheiros tutelares e moradores de Santos, no litoral de São Paulo. Após ser denunciado, Joselito colocou a mulher em um carro e desapareceu.
Desde o último fim de semana, várias pessoas têm procurado a polícia para prestar queixa contra Rocha, que se apresenta como advogado, escritor e músico.
Em seu depoimento, Glória disse que o pai usava métodos cruéis para intimidar e agredir as pessoas. Há 17 anos, Joselito foi condenado a quatro anos de prisão por agredir brutalmente uma enteada. Ele utilizou um ferro de passar roupa para queimar a mão da criança, que ficou três meses internada com risco de amputação. Após o caso, ele perdeu a guarda da menina, que foi colocada para adoção, mas não cumpriu a pena porque o crime acabou prescrevendo.
Segundo conselheiros tutelares que acompanham o caso, apesar de ter 17 anos, Glória, que estuda em uma escola particular de Santos, era proibida de frequentar a casa de amigos e não participava de nenhum tipo de festa organizada pelo colégio. O pai também proibia a filha de ter perfis em redes sociais e contato mais próximo com pessoas de fora do círculo familiar.
Após ser denunciado, Joselito apagou seu perfil na maior parte das redes sociais. Porém, muitos registros sobre o suspeito ainda estão espalhados pela internet. No Youtube, por exemplo, há vídeos com ele cantando, fazendo exercícios, além de matérias sobre seus livros. No Twitter, ele afirma que ganhou o título de “barão”, que teria sido concedido pela família real brasileira, e que é um “imortal” da “Academia de Letras do Brasil, Portugal, França e Argentina”.
Em um de seus livros, que ele define como “best-seller com mais de 40 mil exemplares vendidos”, Joselito Rocha afirma que é especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal e que, inclusive, já havia lançado outro livro com o título “As Crianças e os Adolescentes”, no qual, segundo ele, “faz críticas com o tema abordado e compara o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) com o Código Penal, responsabilizando objetivamente o Estado e subjetivamente a sociedade por problemas do cotidiano familiar”.
O G1 também apurou que Joselito foi candidato a prefeito em Santo Antonio do Descoberto (GO), pelo PCdoB, pouco depois de ser condenado a prisão por ter agredido a enteada. A candidatura acabou não indo em frente pois, segundo ele, “desistiu de concorrer ao cargo político por ter sofrido ameaças políticas” durante o processo eleitoral. A informação foi confirmada pelo cartório da cidade.
A reportagem do G1 também conseguiu contato com um dos meninos que vendem os livros de Joselito. Com a condição do anonimato, ele confirmou a versão das testemunhas e disse que, há vários anos, vende CDs e livros pelos bares da Baixada Santista e da grande São Paulo. De acordo com o rapaz, ele seria o responsável pelas ilustrações das obras de Joselito.
O caso
Na noite de domingo (11), após cinco dias desaparecida, Glória resolveu procurar a polícia e apresentar uma denúncia contra Joselito. Ela afirmou que, após retornar para casa, foi forçada a gravar um vídeo com o pai, dizendo que estava tudo bem, e registrar um boletim de ocorrência contra as pessoas que a ajudaram.
A coordenadora do Colégio Ramos Lopes, Daniela Cabral, de onde a aluna supostamente tinha desaparecido há uma semana, acompanhava os bastidores da história e foi quem acionou o Conselho Tutelar em Santos para auxiliar no caso. “Eu disse a ela [Glória] para confiar em mim, que eu tentaria protegê-la”.
Daniela e Erika, irmã da garota e que também sofreu agressões de Joselito, conseguiram se encontrar com Glória, que as acompanhou até a delegacia. A mãe, Maria José, se reencontrou com a filha, pediu desculpas e disse a ela que, pela primeira vez, “toparia falar a verdade”. No trajeto, Joselito as surpreendeu em um carro e levou a esposa à força, segundo elas.
O caso foi registrado como ameaça (diante das acusações contra o pai), denunciação caluniosa e constrangimento ilegal (por alegar ter sido coagida a fazer um boletim com informações falsas e gravar um vídeo dizendo que estava tudo bem). Na segunda-feira, houve a audiência na Vara da Infância e Juventude de Santos.
Joselito e Maria estão desaparecidos desde então, e a reportagem tenta contato com eles por meio dos telefones que ambos divulgaram na ocasião do sumiço da filha. Ainda segundo o advogado de Glória, a Polícia Civil também deverá iniciar uma investigação para tentar localizar a mãe da jovem.
g1