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A história do jovem engraxate que virou Chef de cozinha no Acre

“Eu colocava minha cabeça sobre a caixa de engraxar, e perguntava pra Deus: ‘Por que eu preciso passar por tudo isso?’. Eu só queria uma resposta dele. Hoje eu sei que ele tinha um sonho comigo”. Essa frase é do acreano Natalino dos Santos Lúcio, de 21 anos, considerado o mais novo chef de cozinha do Acre.


Abandonado pela mãe, Natalino teve uma infância solitária e carente. O pai morreu quando o agora chef tinha apenas sete anos. Desde então, o caminho foi árduo, cheio de impasses e dificuldades, mas a caminhada, essa nunca parou pela metade. Era a certeza de que “aquele menino pobre daria certo um dia”.


A reportagem buscou conhecer um pouco mais sobre esse rapaz que nos últimos dias ganhou espaço na mídia não pela história que tem, mas pelos feitos que conseguiu concretizar tão jovem, iniciando a segunda década de vida regada à experiências fincadas na fé e nos sonhos da juventude.


No início do mês, Natalino ficou sabendo que será um dos dois –isso mesmo: dois- representantes do Brasil no 1º Congresso Integração Culinária do Vale – Valorizando Nossos Sabores, que deve acontecer no início de julho na cidade de Cochabamba, na Bolívia.


O que chamou ainda mais atenção é que o acreano não se inscreveu para o evento, mas foi convidado pessoalmente a cozinhar em meio aos mais renomados chefs de cozinha do mundo, incluindo de países como França, Itália, China, Coréia do Norte, Alemanha e Estados Unidos. Uma experiência que pretende levar para a vida inteira.


A reportagem: Como foi sua infância? Você me conta um pouco da tua história?


Natalino: O meu pai morreu cedo. Eu tinha sete anos. A minha mãe arranjou um marido que não gostava de mim. Eu apanhava muito. Quando eu ia engraxar, se eu chegasse em casa muito tarde, eu não podia mais entrar, então eu dormia no quintal. Minha mãe tornou-se uma alcoólatra, junto com meu padrasto, e assim começou tudo aquilo. Muitas vezes ela batia nela, e também em mim. Dai, eu parei de estudar. Eu tinha oito anos. Depois de muito tempo, eu voltei, estudei, e agora estou prestes a me formar em gastronomia.


A reportagem: E a sua família? Ninguém te ajudou? Você era apenas uma criança. Como foi isso?


Natalino: A minha família toda é muito pobre, humilde mesmo. Dali em diante, com 10 anos, eu percebi que precisava viver minha vida, e que não tinha ninguém por mim. Procurei um empresário, e ele me deu uma oportunidade de emprego–mais ou menos isso-, mas como eu era uma criança, eu mais ficava lá, limpava alguma coisa, Depois, sim, eu virei chapeiro. Depois eu consegui ajudar na cozinha, e aos 16 anos, nessa idade, eu virei o chef pela primeira vez.


A reportagem: Como surgiu essa paixão pela gastronomia? Alguém te mostrou esse mundo?


Natalino: Foi quando eu conheci um chef. Ele se chama Delcleciano. Eu tinha 17 anos. Foi aí que tudo isso se despertou. Eu estava passando por uma situação muito, muito difícil. Eu o procurei nas redes sociais, e como eu já sabia um pouco, ele me deu uma oportunidade de aprender mais. Ele me ajudou e eu comecei a fazer cursos. Eu tenho ele como um pai nessa minha vida profissional. Ele me abriu os olhos para muita coisa. Ele é muito bom. É um exemplo.


A reportagem: Sua família não lhe ajudou muito, mas como eles te veem hoje, você sendo reconhecido com um chef de cozinha?


Natalino: Hoje em dia eles tem muito orgulho de mim. Minha família é relativamente pequena. Eles sempre pensam que ninguém passa daquilo. A minha avó, quando está comigo, chega a chorar. Ela tem 57 anos. Minhas tias, assim, elas quando podiam, davam uma mensagem de força, mas nada mais que isso. Hoje, não, todos me apoiam ainda mais, ficam felizes com o que me tornei, como o caminho que consegui trilhar até aqui. Foi muito difícil, passei por muitas coisas, mas está valando tudo a pena.


A reportagem: Como se deu essa tua escolha para o evento na Bolívia? São quantos países?


Natalino: Por lá, devem passar cerca de oito mil expectadores. Vou preparar um jantar típico do Acre, para 150 jurados, pessoas que conhecem a gastronomia, que conhecem os sabores, que tem um nível crítico elevado sobre isso. Na verdade, não há prêmio, é mais uma forma de apresentar a nossa culinária regional. Esse evento será um dos maiores já realizados na América Latina. É o primeiro da região, e estamos buscando desenvolver a gastronomia como uma diversidade real e bacana. A ideia é criar essa identidade, essa cultura.



A reportagem: As pessoas geralmente sonham com uma profissão na qual consigam se manter, ter uma renda. Aqui, no Acre, dá pra viver da gastronomia?


Natalino: Olha, no Acre, quer ganhar dinheiro, então abra um restaurante “povão”. As pessoas costumam dizer que primeiro acontece tudo lá fora, e depois é que chega aqui. Para viver bem, não dá, mas a gente consegue sobreviver da gastronomia. Isso dá. As pessoas precisam criar essa cultura de buscar novos sabores, a curiosidade da gastronomia local misturada a outras. Muita gente critica, mas a gastronomia é algo muito especial. Acho que precisa de mais investimentos, seja do governo, seja da iniciativa privada. Se a gente começa a investir, trazer eventos, congressos, isso faz diferença. Talvez outras pessoas também tenham um sonho como o meu, então, sugiro elas a buscar esse tipo de evento para melhorar o que já sabem.


A reportagem: Qual mensagem você deixa às pessoas que sonham em se tornar um chef de cozinha?


A primeira coisa é estudar. Começa com um curso básico de culinária, e depois chega até a faculdade de gastronomia. Mas o principal de tudo isso é não desistir do sonho, é acreditar nesse sonho de ser um profissional reconhecido, e que sabe fazer comida com amor, prazer nisso. Eu conheço filho de deputado que está morando fora, que está na Austrália, fazendo o quê? Comida. Muita gente tem esse sonho. Então vale a pena acreditar nisso. Hoje é moda cozinhar, antes as pessoas escondiam isso. Os tempos mudaram. Com informações ac24horas


 


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