Marcelo Ferreira foi detido nesta quarta (31), após polícia cumprir mandados de busca e apreensão na casa dele e de Márcio Gaiote, que estava com móveis de quarto de Borges.
O estudante Marcelo Ferreira, de 25 anos, foi liberado na noite de quarta-feira (31) após se ouvido novamente pelo desaparecimento do amigo Bruno Borges. Ferreira havia sido detido no mesmo dia pelo crime de falso testemunho, durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão na casa dele e de outro amigo de Bruno, Márcio Gaiote, que está fora do estado.
Antes de sumir, Bruno deixou no seu quarto apenas uma estátua de 2 metros do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), mensagens nas paredes e 14 livros criptografados. O estudante de psicologia foi visto pela última vez em 27 de março.
Na casa de Marcelo Ferreira, a polícia encontrou contratos em que o jovem desaparecido destinava parte do lucro da venda dos livros para três pessoas: o próprio Ferreira, Gaiote e um primo, Eduardo Velloso. A existência desse contrato não tinha sido informada à polícia em um primeiro depoimento, por isso, o delegado Alcino Júnior considerou que Ferreira cometeu falso testemunho.
Ainda na quarta, a Polícia Civil divulgou que foram encontrados, no início de maio, o rack e a cama de Borges na casa de Gaiote. A polícia descobriu, por meio da mãe de Borges, Denise Borges, que os móveis tinham sido levados para a casa do amigo.
Novos interrogatórios
Ao G1, o delegado afirmou nesta quinta-feira (1º) que Ferreira foi ouvido novamente apenas sobre desaparecimento de Borges. Já na sexta-feira (2), o jovem deve retornar à Secretaria de Polícia Civil para ser interrogado sobre o furto dos móveis e o falso testemunho. Segundo a polícia, o jovem não tem restrição para sair do estado, mas precisa comunicar o endereço e, caso precise viajar, deve informar o local.
“[Ferreira] contou detalhes e nuances importantes também para que a gente viesse elucidar e trazer os motivos pelo qual o Bruno se ausentou”, disse o delegado.
Júnior acrescentou ainda que a polícia entrou em contato com Gaiote na Bahia, onde ele mora atualmente, e pediu que o jovem retorne para Rio Branco para ser ouvido novamente, no próximo dia 6.
“No início das apurações, [Ferreira e Gaiote] acabaram omitindo e mentindo sobre os fatos, contratos e situações que nos auxiliariam muito, se eles tivessem falado a verdade”, explicou o delegado.
No depoimento de Ferreira nesta quarta, segundo a polícia, o jovem revelou que os três amigos foram em um cartório de Rio Branco e autenticaram um dos documentos.
“Ontem [quarta] nós fechamos os motivos, que a gente entende que levaram ele [Bruno Borges] a se ausentar, que é justamente essa publicação dos livros e tudo”, disse Júnior.
Relembre a história
A última vez que os parentes viram Bruno foi durante um almoço em casa. Após a refeição, todos saíram, menos Bruno. Horas depois, o pai dele retornou e não o encontrou mais na residência.
No quarto do rapaz, a família achou uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), vários escritos pelas paredes e 14 livros criptografados, dos quais – segundo a família – cinco já foram decodificados. Não havia nenhum móvel ou objeto pessoal de Bruno.
A retirada dos móveis, as inscrições na parede, assim como a chegada da estátua, ocorreram em um período de pouco mais de 20 dias, período em que o quarto ficou trancado e os pais viajavam de férias.
O artista plástico Jorge Rivasplata, autor da estátua, afirmou que entregou o objeto ao jovem no dia 16 de março. Pelo artefato, o artista disse que recebeu inicialmente R$ 7 mil e, em seguida, mais R$ 3 mil. Quem custeou a obra foi o primo de Bruno, o médico oftalmologista Eduardo Borges de Velloso Viana. Ele relatou que transferiu R$ 20 mil para conta de Bruno, mesmo sem saber detalhes do projeto ao qual o jovem se dedicava.
Livros criptografados
Segundo a família, os livros tratam de ciência, filosofia, ocultismo e física quântica. O estudante teria recebido uma “missão” para começar a escrever os 14 livros, segundo o amigo de infância Thales Vasconcelos, de 24 anos, que o ajudou em um dos exemplares. Apesar de não ter se envolvido na obra inteira, o amigo contou que trabalhou no livro 13 – intitulado “Ensaio sobre as perguntas sem resposta”.
Nessa obra, conforme Vasconcelos, Bruno aborda questões normalmente feitas durante a infância: “Quem sou eu? Qual o sentido da vida? Há um Deus?”. O amigo afirmou que Bruno falava em projeção astral, ou seja, que conseguia se concentrar e fazer com que o espírito se separasse do corpo, podendo “viajar” em outras dimensões. Um áudio obtido pelo Fantástico confirmou as declarações de Bruno.
Outro amigo que disse ter ajudado Bruno com o projeto foi Márcio Gaiote. Segundo ele, o estudante de psicologia tinha o desejo de ficar isolado e viver em uma caverna. Bruno fazia jejum e meditação para conseguir acessar o mundo das ideias, relatou Gaiote em entrevista ao G1, em 11 de abril. “O Bruno emagreceu muito nos últimos dias para concluir o projeto. Mas, ele não me deu nenhuma outra informação para que eu possa dizer o que era o projeto.”
A família ainda não divulgou nenhum trecho escrito pelo acreano. O delegado Fabrizzio Sobreira afirmou em 10 de abril que os amigos que ajudaram Bruno teriam feito um pacto de sigilo para que objetivo real do projeto não fosse revelado.
“Pelo que nós entendemos na investigação, existia entre eles um pacto de não revelar o projeto de Bruno. Então, nós também não podemos forçar as pessoas que passam pela delegacia a falarem aquilo que não querem, mesmo sob pena de cometer crime de falso testemunho. Mas, eles não são obrigados a expor o pacto que possivelmente existiu”, afirmou à época.
Fonte: G1