Delegado Alcino Júnior contou que deve fechar inquérito sobre o furto e falso testemunho até próximo dia 7 e logo depois e vai encaminhar o inquérito para a Justiça.
Marcelo Ferreira, de 22 anos, amigo de Bruno Borges, que está desaparecido desde o dia 27 de março, disse em depoimento à polícia que não havia declarado anteriormente onde estavam os móveis que sumiram do quarto de Borges a pedido dele. Ferreira foi ouvido novamente pelo delegado Alcino Júnior, nesta sexta-feira (2), na Secretaria de Polícia Civil do Acre.
Antes de sumir, Borges deixou no seu quarto apenas uma estátua de 2 metros do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), mensagens nas paredes e 14 livros criptografados.
O jovem havia sido detido na última quarta (31) pelo crime de falso testemunho, durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão na casa dele e de outro amigo de Borges, Márcio Gaiote, que está morando fora do estado. Na ação, também foram encontrados dois contratos, sendo que um foi autenticado no dia em que Borges desapareceu, dando porcentagem da venda dos livros para Ferreira, Gaiote e Eduardo Velloso, primo de Borges.
O advogado de Ferreira, Jairo Melo, disse que o fato já foi esclarecido. “Não houve furto porque o próprio Bruno pediu ajuda dele [Ferreira], pediu para retirar os móveis. Sobre o falso testemunho, não foi perguntado no primeiro depoimento e, além disso, tem uma cláusula [no contrato] de sigilo. Por isso ele [Ferreira] não falou”, afirmou.
O advogado alegou ainda que a defesa vai pedir acesso ao mandado de busca e apreensão para analisar o teor do documento. “Não tivemos acesso ao documento, vamos procurar ter acesso e analisar o teor para depois vermos o que vai ser feito”, explicou.
O delegado informou que o próximo a ser ouvido será Gaiote, que atualmente mora na Bahia, mas virá ao Acre para prestar esclarecimentos no dia 6 deste mês. Os móveis do quarto de Borges foram achados no início do mês, pela mãe de Bruno, Denise Borges, na casa de Gaiote, mas a polícia só divulgou nesta quarta (31).
Júnior contou que deve fechar o inquérito sobre o furto e falso testemunho até próximo dia 7 e logo depois deve encaminhar o inquérito para a Justiça. “Para nós, o crime de falso testemunho está bastante configurando levando em conta que no primeiro depoimento disse [Ferreira] que o último dia em que conversou com o Bruno foi no dia 26, mas no dia 27 estiveram juntos registrando o contrato. Achou que era irrelevante falar sobre isso”, disse.
‘Plano de afastamento’
O delegado afirmou que o objetivo dos mandados judiciais era identificar indícios da localização de Borges e também documentos que pudessem provar que o desaparecimento foi um plano bolado pelo estudante.
“No dia em que o Bruno sumiu, ele foi no cartório e registrou o contrato. Então, para nós fica muito contundente que não foi um desaparecimento qualquer, na verdade, foi um plano consciente de afastamento, e o contrato mostra que há prazo para divulgação desses livros, prazo para publicação, destinação de porcentagem para quem o ajudou, no caso, essas três pessoas que o ajudaram de imediato. Para nós, está muito claro isso”, disse o delegado.
Segundo Júnior, os contratos garantiam cerca de 15% do dinheiro da venda e publicação dos livros para Ferreira, outros 15% para o primo e 5% para Gaiote.
Relembre a história
A última vez que os parentes viram Borges foi durante um almoço em casa. Após a refeição, todos saíram, menos o jovem. Horas depois, o pai dele retornou e não o encontrou mais na residência.
No quarto do rapaz, a família achou uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), vários escritos pelas paredes e 14 livros criptografados, dos quais – segundo a família – cinco já foram decodificados. Não havia nenhum móvel ou objeto pessoal de Bruno.
A retirada dos móveis, as inscrições na parede, assim como a chegada da estátua, ocorreram em um período de pouco mais de 20 dias, período em que o quarto ficou trancado e os pais viajavam de férias.
O artista plástico Jorge Rivasplata, autor da estátua, afirmou que entregou o objeto ao jovem no dia 16 de março. Pelo artefato, o artista disse que recebeu inicialmente R$ 7 mil e, em seguida, mais R$ 3 mil. Quem custeou a obra foi o primo de Bruno, o médico oftalmologista Eduardo Borges de Velloso Viana. Ele relatou que transferiu R$ 20 mil para conta de Bruno, mesmo sem saber detalhes do projeto ao qual o jovem se dedicava.
Fonte: G1