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Para amenizar saudade, mãe presa no AC escreve cartas para si mesma e finge ter recebido de filhas

Mulher cumpre pena por tráfico de drogas e não vê filhas há mais de três meses. ‘Fiz para elas não passarem fome’, conta Edinelha dos santos sobre envolvimento no mundo do crime.

É como se elas tivessem me dando palavras de conforto e conseguissem me perdoar”. É assim que Edinelha dos Santos, de 25 anos, justifica as cartas que escreve para si mesma e assina como se fossem suas filhas que as mandassem. Ele está presa no presídio feminino Guimarães Lima, em Cruzeiro do Sul, e espera a sentença pelo crime de tráfico de drogas. Presa há nove meses, ela não recebe visita das filhas, de 9 e 4 anos, há três meses.


Do outro lado da cela, ela faz questão de mostrar as correspondências que faz para si mesma. Todas são feitas em datas comemorativas, como Páscoa, Natal e Dia das Mães. As cartas são produzidas com desenhos e uma caligrafia impecável, além de conter palavras que Edinelha gostaria de ouvir das filhas.


“Eu sinto saudade delas. Quando chega uma data comemorativa, escrevo para mim, e assino como se fossem elas. Ponho na caixa das cartas e recebo no dia das correspondências”, conta, emocionada.


As crianças estão sendo cuidadas pela mãe de Edinelha e moram na cidade de Mâncio Lima. Há três meses a presa não recebe nenhuma visita, nem da mãe e nem das filhas.


As correspondências das detentas são entregas às terças-feiras e, mesmo sabendo o que está escrito nas cartas e que não foram enviadas pelas filhas, Edinelha diz que fica ansiosa e chega a se emocionar ao ler as palavras.


“Começo a ler e ainda choro, porque, para mim, foram elas que me mandaram, sabe? Como se fossem elas que tivessem escrevendo as palavras para mim. Assim é como eu consigo seguir com os dias, é como se elas tivessem me dando palavras de conforto e conseguissem me perdoar”, revela entre lágrimas.


Com voz trêmula e muito emocionada, Edinelha lê em voz alta a carta que fez para o Dia das Mães. Nela, ela escreve como se as filhas a parabenizassem.


“Feliz Dia das Mães, mamãe. Nós te amamos muito, você é nossa felicidade, mesmo com toda a dificuldade que passamos. Beijos e abraços de suas filhas. Te amamos muito e que Deus abençoe nossas vidas”, conta.


Edinelha foi presa em agosto de 2016 por tráfico de drogas em Cruzeiro do Sul. Ela é natural do município de Mâncio Lima, onde começou a se envolver no mundo do crime. “É uma luta diária, porque a gente sente saudade dos filhos, eles precisam da gente e a gente precisa mais ainda deles. É uma fase muito difícil na vida de todas nós”, pontua.


Cartas são produzidas com desenhos e palavras que a presa queria ouvir das filhas  (Foto: Anny Barbosa)Cartas são produzidas com desenhos e palavras que a presa queria ouvir das filhas  (Foto: Anny Barbosa)

Cartas são produzidas com desenhos e palavras que a presa queria ouvir das filhas (Foto: Anny Barbosa)


Além da saudade das filhas, a presa expressa arrependimento por ter se envolvido com as drogas e perder grande parte do crescimenta das filhas.


“Eu só fiz, porque não aguentava vê minhas filhas passando fome. Fiz e me arrependo muito. Não tive oportunidades e acabei achando que podia melhorar de vida se me envolvesse nesse mundo, só que foi pior. Não tem dinheiro que pague essa saudade”, enfatiza.


Enquanto o tempo passa lento e impiedoso dentro de uma cela, Edinelha lamenta por não ver as filhas e diz, inclusive, se esforçar para que as lembranças não se percam no tempo. “Eu sinto falta de tudo, do rostinho delas, do cheiro”, finaliza, emocionada.


Desencontro
Na manhã desta sexta-feira (12), Edinelha foi uma das quatro mães selecionadas pelo Judiciário para ter um encontro com as duas filhas, porém, as crianças não apareceram. O encontro faz parte do projeto “Mães que abraçam”, da Justiça do Acre, e ocorreu no Conservatorio de Música em Cruzeiro do Sul. Apenas quatro mães foram selecionadas para encontrarem seus filhos, porém, Edinelha foi informada que as filhas não foram localizadas.


Achando que iria encontrar as filhas, a presa diz que vai aguardar um outro momento até ver as meninas de novo. Ela diz que estava ansiosa achando que iria encontrar as filhas, mas, infelizmente, não deu certo.


“Eu estava muito ansiosa e nervosa para encontrá-las hoje, estava muito feliz mesmo, mas elas não foram localizadas, disseram que não conseguiram contato. Vou guardar a saudade para um outro momento e, se Deus quiser, esse momento vai ser logo. Estou triste, porque queria que tivesse dado certo, mas ainda tenho fé que logo vou poder ver minhas meninas”, finaliza.


‘Conforto’, diz psicóloga
A psicóloga Fernanda Saab explica que o ato da presa tende a ser uma válvula de escape, um forma imaginária que encontrou para lidar com a ausência das filhas.


“O sentimento de solidão, carência, preocupação de como estaria suas filhas no atual momento, o que pensariam sobre sua mãe, qual a reação e sentimentos teriam ao reencontrá-la, tudo isso faz parte de uma imaginação, uma representação de uma realidade ausente, que não fornece critérios seguros para distinguir o falso do verdadeiro, algo que destrói ou conforta”, destaca.


Ela explica também que, na cabeça de Edinelha, as cartas acabam se tornam reais e as conforta. “É uma forma de condicionamento, de enganar o cérebro, manipular o raciocínio de uma situação que não existe e, de alguma forma, conseguir a satisfação. Não poderíamos falar se isso é certo ou não, até onde essa atitude lhe faz bem. A palavra de conforto imaginário, uma fantasia vivida, como brincar de bonecas e imaginar como suas filhas”, esclarece.


Presa há nove meses no presídio feminino em Cruzeiro do Sul, Edinelha nunca recebeu visitas e escreve cartas para amenizar a saudade  (Foto: Anny Barbosa/G1)Presa há nove meses no presídio feminino em Cruzeiro do Sul, Edinelha nunca recebeu visitas e escreve cartas para amenizar a saudade  (Foto: Anny Barbosa/G1)

Presa há nove meses no presídio feminino em Cruzeiro do Sul, Edinelha nunca recebeu visitas e escreve cartas para amenizar a saudade (Foto: Anny Barbosa/G1)


Fonte: G1


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