Denise Borges descobriu através de uma amiga que dois móveis do filho estavam na casa de Márcio Gaiote. Marcelo Ferreira foi detido durante cumprimento de mandados de busca e apreensão.
A mãe do estudante Bruno Borges, Denise Borges, disse que registrou um boletim de ocorrência na polícia quando descobriu que a cama e o rack estavam na casa de Márcio Gaiote, amigo do filho. A informação foi repassada pela empresária e confirmada pela Polícia Civil.
Denise disse que encontrou os móveis no início de maio e que soube que estava na casa do amigo através de uma amiga. Logo após isso, ela resolveu registrar o BO. Nesta quarta-feira (31), a polícia cumpriu dois mandados de busca e apreensão na casa de Marcelo Ferreira e Gaiote, amigos do estudante.
A ação resultou na prisão de Ferreira por falso testemunho, já que a polícia encontrou dois contratos em que Borges destinava parte do dinheiro da venda e publicação dos livros para os dois amigos, Gaiote e Ferreira, e também para o primo dele, Eduardo Borges Velloso. O G1 entrou em contato com Velloso por telefone, mas, até a publicação desta matéria, não conseguiu contato.
A polícia informou que Ferreira foi detido por falso testemunho, já que não tinha comentado nos depoimentos anteriores sobre os contratos. Ele deve ser solto ainda na tarde desta quarta, segundo o delegado. Antes de sumir, Bruno deixou no quarto dele apenas uma estátua de dois metros, mensagens nas paredes e 14 livros criptografados.
“Eu que encontrei, não foi a polícia. A polícia nunca foi atrás do Márcio na casa dele. Achei através de uma amiga minha, já peguei. Não é porque faço questão de uma cama, fiquei chateada porque o Márcio mentiu, mentiu para a mãe dele”, contou Denise.
A empresária disse que quem levou os móveis para a casa de Gaiote foi Ferreira. Depois disso, ela resolveu registrar o BO. “Fiz um boletim porque fiquei chateada com o Marcelo. Ele não me falou sobre os móveis, omitiu. Por isso fiz o boletim, mas já estou retirando”, detalhou.
Sobre os contratos encontrados na manhã desta quarta na casa de Ferreira, a mãe confirmou que já sabia dos documentos. Ela diz que os contratos são de prestação de serviço, já que o filho teria contratado os dois amigos para trabalhar com ele.
“Tinha sim conhecimento [dos contratos]. Foi a família que repassou isso para a polícia. A gente tinha conhecimento sim, desde o primeiro dia. Se o Bruno não fosse pagar com o dinheiro de livro, a minha empresa vai arcar com isso. Ele contratou aqueles meninos para trabalhar para ele. Ficaram aqui em casa um mês sem dormir escrevendo naquelas paredes, eram tipo funcionários do Bruno”, esclareceu Denise.
O delegado Júnior confirmou que os móveis já foram restituídos para a família do estudante desaparecido. Ainda de acordo com o delegado, Denise registrou um boletim por furto contra Ferreira. Ele acrescentou que tanto Ferreira como Gaiote podem responder por furto.
“Tem testemunhas, a mãe do Márcio e a tia estavam na casa quando eles chegaram com esses materiais. Deram uma declaração, então, não tem suspeita nenhuma, é real. A mãe do Bruno acusou”, completou.
‘Plano de afastamento’
O delegado afirmou que o objetivo dos mandados judiciais era identificar indícios da localização de Bruno e também documentos que pudessem provar que o desaparecimento foi um plano bolado pelo estudante.
“No dia em que o Bruno sumiu, ele foi no cartório e registrou o contrato. Então, para nós fica muito contundente que não foi um desaparecimento qualquer, na verdade, foi um plano consciente de afastamento, e o contrato mostra que há prazo para divulgação desses livros, prazo para publicação, destinação de porcentagem para quem o ajudou, no caso, essas três pessoas que o ajudaram de imediato. Para nós, está muito claro isso”, disse o delegado.
Segundo Júnior, os contratos garantiam cerca de 15% do dinheiro da venda e publicação dos livros para Ferreira, outros 15% para o primo e 5% para Gaiote.
Relembre a história
A última vez que os parentes viram Bruno foi durante um almoço em casa. Após a refeição, todos saíram, menos Bruno. Horas depois, o pai dele retornou e não o encontrou mais na residência.
No quarto do rapaz, a família achou uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), vários escritos pelas paredes e 14 livros criptografados, dos quais – segundo a família – cinco já foram decodificados. Não havia nenhum móvel ou objeto pessoal de Bruno.
A retirada dos móveis, as inscrições na parede, assim como a chegada da estátua, ocorreram em um período de pouco mais de 20 dias, período em que o quarto ficou trancado e os pais viajavam de férias.
O artista plástico Jorge Rivasplata, autor da estátua, afirmou que entregou o objeto ao jovem no dia 16 de março. Pelo artefato, o artista disse que recebeu inicialmente R$ 7 mil e, em seguida, mais R$ 3 mil. Quem custeou a obra foi o primo de Bruno, o médico oftalmologista Eduardo Borges de Velloso Viana. Ele relatou que transferiu R$ 20 mil para conta de Bruno, mesmo sem saber detalhes do projeto ao qual o jovem se dedicava.
Livros criptografados
Segundo a família, os livros tratam de ciência, filosofia, ocultismo e física quântica. O estudante teria recebido uma “missão” para começar a escrever os 14 livros, segundo o amigo de infância Thales Vasconcelos, de 24 anos, que o ajudou em um dos exemplares. Apesar de não ter se envolvido na obra inteira, o amigo contou que trabalhou no livro 13 – intitulado “Ensaio sobre as perguntas sem resposta”.
Nessa obra, conforme Vasconcelos, Bruno aborda questões normalmente feitas durante a infância: “Quem sou eu? Qual o sentido da vida? Há um Deus?”. O amigo afirmou que Bruno falava em projeção astral, ou seja, que conseguia se concentrar e fazer com que o espírito se separasse do corpo, podendo “viajar” em outras dimensões. Um áudio obtido pelo Fantástico confirmou as declarações de Bruno.
Outro amigo que disse ter ajudado Bruno com o projeto foi Márcio Gaiote. Segundo ele, o estudante de psicologia tinha o desejo de ficar isolado e viver em uma caverna. Bruno fazia jejum e meditação para conseguir acessar o mundo das ideias, relatou Gaiote em entrevista ao G1, em 11 de abril. “O Bruno emagreceu muito nos últimos dias para concluir o projeto. Mas, ele não me deu nenhuma outra informação para que eu possa dizer o que era o projeto.”
A família ainda não divulgou nenhum trecho escrito pelo acreano. O delegado Fabrizzio Sobreira afirmou em 10 de abril que os amigos que ajudaram Bruno teriam feito um pacto de sigilo para que objetivo real do projeto não fosse revelado.
“Pelo que nós entendemos na investigação, existia entre eles um pacto de não revelar o projeto de Bruno. Então, nós também não podemos forçar as pessoas que passam pela delegacia a falarem aquilo que não querem, mesmo sob pena de cometer crime de falso testemunho. Mas, eles não são obrigados a expor o pacto que possivelmente existiu”, afirmou à época.
Fonte: G1