De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2015 haviam mais de 18,6 milhões de brasileiros com transtornos de ansiedade. O número é alto, representa 9,3% da população, quase três vezes mais que a média mundial, que fica em torno de 3,6%. Este número coloca o Brasil como o país com maior percentual de pessoas com algum tipo de transtorno de ansiedade no mundo.
Segundo o manual de classificação de doenças mentais, o transtorno de ansiedade generalizado (TAG) é um distúrbio caracterizado pela “preocupação excessiva ou expectativa apreensiva”, persistente e de difícil controle, que perdura por seis meses no mínimo e vem acompanhado por três ou mais dos seguintes sintomas: inquietação, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, tensão muscular e perturbação do sono.
Sobre esse trastorno, é importante registrar também que, nesses casos, o nível de ansiedade é desproporcional aos acontecimentos geradores do transtorno, causa muito sofrimento, interfere na qualidade de vida e no desempenho familiar, social e profissional das pessoas.
Respirar fundo. Distrair-se com uma música. Afastar pensamentos ruins. Contar lentamente para controlar o nervosismo. Desacelerar. Estas ações parecem ser simples, além de boas opções para controlar a ansiedade de quem está prestes a fazer uma prova ou uma entrevista de emprego, por exemplo, mas para quem sofre de TAG estas coisas podem ser quase impossíveis.
A jornalista Anne Nascimento, de 28 anos, é diagnosticada com borderline, uma doença psicossomática que trouxe como consequências fortes crises de ansiedade: “Comecei a verificar que ‘algo não estava normal’ aos 16 anos de idade: tinha crises compulsórias de choro, que duravam aproximadamente duas horas; não conseguia dormir. Chegava a pedir, em oração, que Deus me fizesse morrer. A ansiedade, claro, veio junto: se uma pessoa dissesse que ia me ligar e, por qualquer questão, não ligasse, eu ficava pensando um monte de coisas terríveis”, detalha a jornalista.
Causas
A psicóloga Djeane Santana, especialista em Psicologia Clínica, explica que o TAG está diretamente relacionado a alguns neurotransmissores que ocorrem naturalmente em nosso cérebro: a exemplo da serotonina, dopamina e norepinefrina. “Outra perspectiva é a de que um conjunto de fatores possa estar envolvido nas razões pelas quais um indivíduo possa vir a apresentar essa dificuldade, entre eles destacam-se: os fatores genéticos e também fatores ambientais, como o estresse do dia a dia e a qualidade de vida da pessoa”, destacou a profissional.
Sintomas
A piscicóloga explica que existe um grupo com maior propensão a desenvolver o transtorno de ansiedade generalizado: “Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o transtorno de ansiedade generalizada ocorre com maior frequência em mulheres. Acredita-se que uma combinação de fatores, como mudanças hormonais e maior exposição ao estresse, possam agravar e potencializar esse quadro“, diz Djeane.
Os sintomas podem ser de ordem comportamental e fisiológica: sensação de dor torácica, respiração encurtada, distúrbios intestinais, insônia, rebaixamento de humor e distúrbios alimentares, entre outros. Anne Nascimento conta que nela os sintomas eram principalmente físicos: “Aperto no peito, taquicardia, sudorese; não era aquela preocupação típica de alguém, era algo maior”.
Para ela, a velocidade e cobranças com que se vive hoje, além da genética, são fatores que influenciaram no desenvolvimento da doença: “Tudo é pra ontem, tudo se acaba em um instante. O próprio fato de, por exemplo, você não saber se é amigo de alguém hoje e, por exemplo, se seu namorado continuará sendo seu namorado amanhã é algo que contribui muito, pelo menos em mim”.
Tratamento
Estudos apontam que o diagnóstico realizado de forma precoce apresenta um índice de prognóstico favorável na evolução do quadro sintomatológico, e isso pode melhorar significativamente na qualidade de vida da pessoa.
“Para um tratamento mais assertivo dos transtornos ansiosos, é importante considerar uma combinação que envolva a associação entre psicoterapia e farmacoterapia. As pesquisas mostram que o uso de ambas tem um efeito positivo mais duradouro do que qualquer uma dessas modalidades individualmente. Nesse sentido, é importante ressaltar que a introdução de medicamentos neste processo só pode ser realizada após uma avaliação da clínica médica”, explica a psicóloga Djeane Marques.
A jornalista Anne Nascimento diz que, apesar do transtorno, tem uma vida normal, trabalha, faz teatro e lida bem com as tarefas do dia a dia. Contudo, quando as crises aparecem ela relata como faz para tentar driblar os sintomas: “Estou, aos poucos, trocando os remédios psiquiátricos, os famosos ‘tarjas pretas’, por homeopáticos, situação que tem sido ótima. Até pouco tempo, fazia terapia, mas não me adaptei à psicóloga em questão, por isso estou à procura de uma nova. Hoje, para driblar os sintomas, faço, religiosamente, meditações e o uso de chás calmantes, como camomila e erva cidreira. Melhora muito. Também evito certos alimentos no período da noite (pizza é coisa rara, hoje em dia) e evito algo que eu gosto muito: o café”.
“Quando vejo que terei uma crise de ansiedade, vou tomar banho gelado”, diz Anne
Além disso, continua a jornalista: “Quando vejo que terei uma crise de ansiedade, vou tomar banho gelado. Demoro horas embaixo do banho. Como sou budista, costumo entoar o mantra que utilizamos. Melhora muito meu estado de espírito. E, é claro, ouvir música, se forçar a assistir a uma série, fazer carinho em algum animal de estimação: tudo ajuda”.
Prevenção
Apesar de ser uma doença que começa de forma silenciosa, é possível preveni-la, identificar as possíveis causas geradoras do processo ansiogênico seria o primeiro passo; Praticar exercícios físicos reduz a ansiedade e ajuda na http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistração do estresse; Manter uma alimentação saudável e balanceada; Procurar conversar sobre suas angústias com alguém de confiança (amigos, familiares ou um profissional da área); Reservar um tempo para o lazer e para cuidar de si mesmo; Registrar e verbalizar sobre situações que o incomoda pode auxiliar na redução do estresse; Trabalhos respiratórios e de relaxamento corporais podem também auxiliar no controle do nível da ansiedade.
Ajuda
Nem sempre quem está no meio de uma crise de ansiedade consegue procurar ajuda, mesmo porque entre os sintomas estão o prejuízo social, isolamento e tristeza: “Eu sempre digo que as pessoas podem apenas abraçar alguém com ansiedade. Sério, libera ocitocina, o hormônio do bem-estar, o que faz com que nos sintamos acolhidos. No mais, apenas não julgar já é uma ótima opção: ora, ninguém é obrigado a gostar de abraçar, de contato. Oferecer um copo com água, se prontificar a fazer um chá, tudo isso ajuda. E, é claro, a compreensão: se você perceber que alguém do seu círculo começou a apresentar sintomas de ansiedade, por favor, procure auxílio médico e, principalmente, estude também”, finaliza Anne Moura. Com informações Nany Damasceno