Amigos de Bruno Borges trocaram mensagens dizendo que ficariam ricos com livros, diz polícia

Conversas foram encontradas em celular de Marcelo Ferreira, de 25 anos, que foi preso nesta quarta-feira (31). Jovem ainda está sendo ouvido pela polícia.

Conversas encontradas no celular de Marcelo Ferreira, de 25 anos, com Márcio Gaiote, ambos amigos do estudante de psicologia Bruno Borges, desaparecido desde 27 de março, mostraram a intenção dos dois em ficarem ricos com a divulgação dos 14 livros criptografados. A informação foi divulgada pelo delegado Alcino Júnior, da Polícia Civil do Acre.


Ferreira foi preso nesta quarta-feira (31) em Rio Branco por falso testemunho, uma vez que, segundo o delegado, omitiu informações sobre o caso. Na casa dele, a polícia encontrou contratos reconhecidos em cartório que estabeleciam lucros também a Gaiote e a Eduardo Veloso, primo de Bruno, que emprestou a quantia de R$ 20 mil usada no “Projeto Enzo”, como foi intitulado.


Segundo o delegado, Marcelo participou de toda a modificação do quarto de Bruno, local onde foram deixados 14 livros criptografados, alguns escritos nas paredes, teto e chão, e uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600). Nas mensagens interceptadas, Ferreira e Gaiote comemoravam a repercussão do caso na mídia.


“Marcelo ajudou o Bruno em tudo, na logística toda. Eles [Ferreira e Gaiote] falavam que, com a divulgação em nível nacional, ficariam ricos, que tinham uma porcentagem, o que acabou ficando comprovado na apreensão dos contratos. Era planejada a parte de produção e posterior publicação dos livros”, afirmou.


O contrato mostrava que Ferreira seria beneficiado com 15% do faturamento bruto do Projeto Enzo e dos 14 manuscritos, com a condição de manter sigilo. Alcino Júnior ressaltou que o amigo está sendo ouvido durante a tarde desta quarta, ainda sem nenhuma previsão se vai ser solto ou permanecer preso.


Os pagamentos a Ferreira, ainda conforme as regras contratuais, seriam feitas no dia 10 de cada mês, mediante prestação de contas. O lançamento do projeto estipulado por Bruno seria até o final do mês de abril deste ano. O contrato foi redigido no dia 10 de março e reconhecido em cartório no dia 27 do mesmo mês, data do desaparecimento do estudante.


O delegado acrescentou que Marcio Gaiote, o outro amigo de Bruno, que também teria participado da logística, não mora mais em Rio Branco. “O desaparecimento em si vem coroar a parte da publicidade. Bruno construiu o quarto todo e comentava que as pessoas conheceriam a obra. Márcio está em Vitória da Conquista [BA], nós vamos fazer contato para ele ser ouvido”, complementou.


Documentos estabeleciam regras para a divulgação e venda dos direitos dos 14 livros (Foto: Aline Nascimento/G1)

Documentos estabeleciam regras para a divulgação e venda dos direitos dos 14 livros (Foto: Aline Nascimento/G1)


Móveis encontrados

Na mesma ação polícia nesta quarta, a Polícia Civil encontrou móveis – rack e cama – do quarto de Bruno na casa de Márcio Gaiote. Ao G1, a mãe do estudante, Denise Borges, registrou um boletim de ocorrência quando soube dos itens na casa do amigo do filho. Ela falou que tomou conhecimento através de uma amiga no início de maio.


Denise afirmou que a família já sabia da existência dos contratos, tratando-se de documentos de prestação de serviço, já que os amigos foram contratados para o trabalho. Além dos 15% de Ferreira, outros 15% seriam para o primo e 5% para Gaiote.


“Foi a família que repassou isso para a polícia. Se o Bruno não fosse pagar com o dinheiro de livro, a minha empresa vai arcar com isso. [Os amigos] ficaram aqui em casa um mês sem dormir escrevendo naquelas paredes, eram tipo funcionários do Bruno”, falou.


Contratos redigidos por Bruno Borges estipulava porcentagem para Marcelo Ferreira (Foto: Aline Nascimento/G1)

Contratos redigidos por Bruno Borges estipulava porcentagem para Marcelo Ferreira (Foto: Aline Nascimento/G1)


Relembre a história

A última vez que os parentes viram Bruno foi durante um almoço em casa. Após a refeição, todos saíram, menos Bruno. Horas depois, o pai dele retornou e não o encontrou mais na residência.


No quarto do rapaz, a família achou uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), vários escritos pelas paredes e 14 livros criptografados, dos quais – segundo a família – cinco já foram decodificados. Não havia nenhum móvel ou objeto pessoal de Bruno.


A retirada dos móveis, as inscrições na parede, assim como a chegada da estátua, ocorreram em um período de pouco mais de 20 dias, período em que o quarto ficou trancado e os pais viajavam de férias.


O artista plástico Jorge Rivasplata, autor da estátua, afirmou que entregou o objeto ao jovem no dia 16 de março. Pelo artefato, o artista disse que recebeu inicialmente R$ 7 mil e, em seguida, mais R$ 3 mil. Quem custeou a obra foi o primo de Bruno, o médico oftalmologista Eduardo Borges de Velloso Viana. Ele relatou que transferiu R$ 20 mil para conta de Bruno, mesmo sem saber detalhes do projeto ao qual o jovem se dedicava.


Livros criptografados

Segundo a família, os livros tratam de ciência, filosofia, ocultismo e física quântica. O estudante teria recebido uma “missão” para começar a escrever os 14 livros, segundo o amigo de infância Thales Vasconcelos, de 24 anos, que o ajudou em um dos exemplares. Apesar de não ter se envolvido na obra inteira, o amigo contou que trabalhou no livro 13 – intitulado “Ensaio sobre as perguntas sem resposta”.


Nessa obra, conforme Vasconcelos, Bruno aborda questões normalmente feitas durante a infância: “Quem sou eu? Qual o sentido da vida? Há um Deus?”. O amigo afirmou que Bruno falava em projeção astral, ou seja, que conseguia se concentrar e fazer com que o espírito se separasse do corpo, podendo “viajar” em outras dimensões. Um áudio obtido pelo Fantástico confirmou as declarações de Bruno.


Outro amigo que disse ter ajudado Bruno com o projeto foi Márcio Gaiote. Segundo ele, o estudante de psicologia tinha o desejo de ficar isolado e viver em uma caverna. Bruno fazia jejum e meditação para conseguir acessar o mundo das ideias, relatou Gaiote em entrevista ao G1, em 11 de abril. “O Bruno emagreceu muito nos últimos dias para concluir o projeto. Mas, ele não me deu nenhuma outra informação para que eu possa dizer o que era o projeto.”


A família ainda não divulgou nenhum trecho escrito pelo acreano. O delegado Fabrizzio Sobreira afirmou em 10 de abril que os amigos que ajudaram Bruno teriam feito um pacto de sigilo para que objetivo real do projeto não fosse revelado.


“Pelo que nós entendemos na investigação, existia entre eles um pacto de não revelar o projeto de Bruno. Então, nós também não podemos forçar as pessoas que passam pela delegacia a falarem aquilo que não querem, mesmo sob pena de cometer crime de falso testemunho. Mas, eles não são obrigados a expor o pacto que possivelmente existiu”, afirmou à época.


Fonte: G1


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