Com a iminente prisão de Bruno após a decisão do Supremo Tribunal Federal de revogar a liminar que havia concedido a liberdade ao goleiro, fica a pergunta: o que o Boa Esporte ganhou com isso? Perdeu patrocinadores, ficou com uma imagem ruim e ainda não vai poder contar com o jogador para o restante da temporada, como estava programado.
Na verdade, talvez a última das afirmações seja a que reflita mais verdadeiramente o que se passa com o clube de Varginha, no Sul de Minas. Promovido à equipe titular até antes da hora, antes de ter oportunidade de ganhar ritmo de jogo e tempo de bola, Bruno era a principal aposta para a posição na difícil Série B do Brasileirão.
O goleiro colocou no banco o bom, mas ainda inexperiente Luan Polli, de apenas 24 anos. Após atuações um tanto quanto estabanadas nos primeiros jogos – com direito a um pênalti cometido na estreia -, vinha crescendo e, se não foi muito requisitado nas duas últimas partidas, também não comprometeu, passando segurança ao sistema defensivo. Com a volta à prisão, o contrato entre atleta e time estaria automaticamente suspenso por uma cláusula pré-estabelecida que previa essa possibilidade. No entanto, essa informação não é confirmada pelo clube.
Mas a parte técnica e tática muita vezes fica de lado em comparação com o prejuízo que o clube estaria tendo com a saída dos patrocinadores. Estaria. Isso porque o grupo Góis & Silva, que chegou a anunciar o rompimento com o Boa Esporte, continua como patrocinador master do clube, estampando as camisas e placas de publicidade no Estádio Municipal de Varginha. Na última partida, inclusive, tinha sua imagem nos banners de publicidade do clube.
Além disso, o Boa Esporte já tem novos parceiros na área de nutrição e exames – onde mais empresas romperam. A única baixa real que ainda afeta o clube é a falta de um fornecedor de materiais esportivos, já que nenhum substituto foi anunciado após a saída da Kanxa.
Apoiado em casa x hostilizado fora
Aqui há de se dizer que, neste sentido, a equipe não tinha tanto a perder. O Boa Esporte é um clube com uma torcida pequena, porém fiel. No Campeonato Mineiro do ano passado, a média de públicos não passou de 2,2 mil pagantes. Neste ano, antes da chegada de Bruno, era de 500 por partida.
Desde o anúncio e a estreia do goleiro, o público em Varginha aumentou. Nas três partidas em que atuou em casa, a média foi de 1,5 mil pagantes – não esquecendo que isso reflete também a passagem para a fase final da competição – mesmo assim, na reta final da Série C do ano passado, quando o time foi campeão, a média era de pouco mais de 1 mil pessoas.
Se dentro do Melão o goleiro foi apoiado, fora enfrentou protestos em diversas ocasiões. Duas delas aconteceram em Varginha, quando grupos feministas protestaram no dia de sua contratação e de sua estreia. Outras duas em jogos fora de casa, quando Bruno ouviu gritos de assassino e foi provocado por torcedores rivais – mesmo assim, acabou sendo alvo de selfies em diferentes ocasiões.
Clube mais odiado do Brasil
Essas provocações e toda a polêmica envolvendo a contratação de Bruno fizeram com que o Boa Esporte muitas vezes fosse citado como o ‘clube mais odiado do Brasil’ – a afirmação muitas vezes trazia um paralelo com a Chapecoense, ‘a mais amada’ após a tragédia envolvendo a delegação da equipe catarinense em novembro de 2016.
No entanto, para o clube que até então passava despercebido na maioria das conversas sobre futebol, nas resenhas do dia a dia, o caso pode ter um efeito diferente. A equipe passou a ser conhecida, a ser mais procurada. De um modo distorcido, passou a ter mais visibilidade.E também ganhou apoio de muitos que defendiam o acerto com o goleiro.
Além do julgamento de valor sobre o caso – se o Boa Esporte fez bem ou não em contratar um, até então, ex-presidiário -, a contratação fez com que o time se tornasse conhecido, ganhando um novo espaço no cenário esportivo. Se vai conseguir ser mais do que ‘o time do Bruno’ ou não, só o tempo dirá.
Globoesporte