A retomada do Complexo Industrial Florestal de Xapuri começa a movimentar mercado e comportamento na região. A economia positiva e a tranquilidade do trabalho já são visíveis por quem anda no município, que se organiza para a ocupação de quase 200 vagas quando a fábrica estiver em pleno funcionamento.
Há quase um ano, a história deste complexo com uma moderna planta industrial passou a tomar um novo rumo. O grupo Agrinlog, que reúne investidores brasileiros e estrangeiros, mostrou interesse em realizar negócios no estado, procurando para isso a Agência de Negócios do Acre (Anac). Apresentada às possibilidades, a empresa decidiu apostar na reabertura da Indústria Florestal em Xapuri, que beneficiará madeiras de planos de manejo.
Com a garantia de serviço em sintonia com os princípios da nova economia acreana, baseada no desenvolvimento sustentável, tanto ambiental como social, a renovada indústria deve entrar em operação nos próximos meses. Mas, já há sete meses toda a reforma e ampliação do espaço está gerando renda e movimentando o comércio local.
Desde setembro, nove empresas, sete acreanas, e 70 funcionários estão responsáveis pela limpeza, pintura, obras estruturantes e manutenção do maquinário, entre outras providências necessárias para abertura do espaço. Com isso, são R$ 9 milhões que circulam no município, desde a compra de móveis, o abastecimento de combustível até a alimentação diária.
Logo na entrada da cidade, o posto de combustível de Erivan Lima está colhendo os bons resultados deste comércio. “Estamos com um movimento bom agora. Nos primeiros dias que começaram a puxar madeira, vendemos cerca de 35 mil litros, com todos os pagamentos à vista”, afirma Erivan.
Com mais transações em frente, como a venda de gás de cozinha para os novos clientes, o dono do estabelecimento calcula os avanços no caixa. “Mesmo em início de funcionamento, estamos fazendo por semana 12 mil litros. Quando a indústria estiver funcionando, queremos chegar a vender 20 mil litros semanais”, afirma, pontuando que antes o movimento era de no máximo seis mil litros.
Já dentro da cidade, logo após ao cemitério onde está o túmulo do líder Chico Mendes, funciona o restaurante de Jeferson de Matos e de sua esposa. Ele está negociando com a indústria para realizar o trabalho de alimentação no refeitório que há no complexo.
Mas antes disso, as vendas de almoço nos últimos meses já haviam aumentado e Jeferson vê também o movimento positivo nas ruas de Xapuri. “Não teria hora melhor para essa indústria chegar na cidade. Atravessamos uma grande crise nacional e ela vai aliviar o setor público, a prefeitura, na geração de empregos. Além ainda de aquecer a economia local”, afirma.
“A reabertura da indústria é um alento para Xapuri”, afirma o prefeito Bira Vasconcelos. Ele explica que a geração de renda vai ser muito grande, além dos impostos que serão vertidos para benefícios no município, cerca de 5% da movimentação da indústria. “Isso representa 20% do orçamento total da prefeitura”, complementa.
Para além do valor econômico, Bira acredita que existe um dividendo histórico que Xapuri está ganhando. “Xapuri, em sua história, lutou sempre pelo meio ambiente e pelo manejo florestal, caminhando para o desenvolvimento sustentável. Isso é a concretização deste sonho, utilizar a floresta dando renda para seus moradores, sem destruir o ambiente”, afirma.
O sentimento do emprego
A natureza, matéria-prima fundamental para a geração de renda e de lucros para uma grande indústria, é também fonte primordial para o sentimento de alguns dos trabalhadores que começam a chegar na empresa.
Wagner da Silva é um exemplo. Até os 14 anos morou no seringal e cortava as seringueiras junto ao pai, desde que foi para a cidade, sempre guardou consigo a saudade do contato com o povo de sua terra e de sua mata. Operador de caldeira, primeiro serviço que aprendeu ao sair da floresta em 1992, Wagner fala da grande alegria de voltar a trabalhar ali: “Eu gosto de estar em contato com a natureza. Nas minhas folgas, posso ir para a colônia ou mesmo ir para o açude aqui do lado, ficar contemplando a natureza”.
Responsável pela geração de energia na unidade, Wagner conhece bem toda a planta industrial. Ele já trabalhou no local em 2008, quando outro grupo gerenciava o espaço. Depois disso teve que buscar emprego fora do estado, sempre aguardando o retorno. “É um privilégio voltar para Xapuri, já estive aqui, nossa indústria é boa e os equipamentos são ótimos. Nosso povo é diferente, é muito bom estar em casa”, diz com alívio na voz.
Esse também é o sentimento que tranquiliza a servente-geral Eliane Lima, nascida na colônia e decidida a não morar mais em cidade grande. Há um ano desempregada, ela já estava relutando em tentar a vida na capital novamente.
“Eu já estava arrumando minhas coisas para ir embora, aí surgiu uma vaga aqui na industria, e agora vou poder ficar em Xapuri. Ainda bem, porque eu gosto de município pequeno, de passear na rua, andar de bicicleta”, diz Eliane , com um grande riso de felicidade.
Essa tranquilidade poderá ser sentida também por 121 novos empregados que devem entrar em operação nos próximos meses. Para a seleção dos funcionários, a empresa contou com o apoio do Sistema Nacional de Empregos (Sine), coordenado no estado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens).
Na última terça-feira, 4, cerca de 200 concorrentes foram à Central de Atendimentos (OCA) de Xapuri para entregar os currículos. Na oportunidade, o titular da Sedens, Sibá Machado, aproveitou para incentivar os jovens e adultos que ocupavam o salão. “O primeiro emprego é sempre um aprendizado, principalmente de vida. Vocês precisam pegar firme nessa oportunidade”.
Sibá enfatizou também que o fato de a seleção estar sendo feita em Xapuri é um grande avanço para o Sine, que agora terá em seu banco de dados diversos currículos disponíveis para outras indústrias no estado também. “A prioridade para essa indústria é ter pessoal de Xapuri, isso fortalece a cidade. Mas quem não conseguir aqui poderá ter chance nas outras indústrias que temos no estado”, afirmou o secretário.
Visão de futuro na economia acreana
“O que vemos com a volta da indústria, além dos números, é a esperança dos que ali trabalham ou vão trabalhar de poderem estar perto de casa, na tranquilidade da pequena cidade e na companhia dos amigos. Enquanto no resto do país existe um grande número de demissões, Xapuri e o Acre vivem a esperança do emprego”, afirma Inácio Moreira, presidente da Anac, uma das acionistas do Complexo Industrial.
E os números, além dos empregos, também impressionam. A planta industrial tem grande capacidade, podendo processar 100 m3 de madeira por dia, na serraria. Ainda possui dez estufas que possibilitam secar 700 m3 de madeira ao mesmo tempo. Em seguida tem a unidade de beneficiamento, que dá o processa a madeira nos diversos produtos finais. Planejando outro tipo de manufatura, foi adquirida uma linha para processar madeira branca, utilizada em compensados, por exemplo.
“A ideia é transformar essa indústria em uma fábrica com produtos florestais bem diversos”, afirma Alisson dos Santos, gerente responsável pela revitalização do espaço, explicando que ela é planejada para processar a madeira serrada e fazer três produtos acabados: piso, deck e taco.
Os produtos possuem alto valor agregado, com possibilidades de venda em outros estados e principalmente para exportação. É uma mudança grande, pois até o momento quase toda a madeira sai do estado de forma bruta, sem processamento, dispensando um valor econômico que pode ficar no local.
A visão de sustentabilidade e organização está presente no que o grupo Agrinlog planeja para o local. “A planta está sendo estruturada para um ciclo de 30 anos. A tendência é aumentar as linhas de produção, a planta crescer e, quando terminar esse ciclo, planejar um novo para também 30 anos. Esse é o período em que o primeiro manejo do primeiro ano volta a ser liberado para explorar de novo”, afirma Alisson.
Quase 30 anos após a morte de Chico Mendes, o maior líder rural e ambiental do Acre, filho de Xapuri, um novo ciclo de vitórias se inicia em sua cidade. A floresta e o povo em que nela habita, pelo qual ele deu a vida para defender, poderão a partir deste ano ter uma nova visão de futuro.
Com rigoroso controle do governo do Estado, os planos de manejos comunitários na região do Alto Acre poderão ser os maiores fornecedores de matéria prima para o Complexo Industrial Florestal de Xapuri, movimentando até R$ 30 milhões por ano e garantindo renda sustentável para as famílias da floresta. Com informações atribuna