Paraense espera mulher morrer ‘hospedado’ no Terminal do Aeroporto internacional de Brasília

“Tudo que eu quero é voltar para o Pará com minha esposa, para que ela possa ficar os últimos dias ao lado de nossos três filhos” declarou com lágrimas nos olhos.


Nos últimos 97 dias, William de Souza, sem sair do aeroporto internacional Presidente Juscelino Kubitschek, em Brasília, viu vários políticos citados na Operação Lava Jato passarem pela sua frente, rodeados de muitos jornalistas e holofotes. Mas nenhum deles imaginou que esse rapaz encorpado, com aparência de adolescente, vestindo orgulhosamente a camisa do seu clube, o Pará, é ‘hospede’ do aeroporto.


Embora não tenha nenhuma intimidade com avião e nenhuma atividade profissional ligada ao sistema aeroportuário, ele conhece cada palmo do local. É aqui – quando alguém ajuda – que ele faz suas três refeições diárias, lava roupa e dorme. De onde passa a maior parte do dia, em frente ao portão principal de embarque doméstico, William cansou de ver sorrisos, abraços e despedidas. As cenas repetidas, parecem ter mexido com a cabeça do jovem rapaz, suas palavras são vazias, curtas, incompletas.


Só mesmo quem se aproxima do jovem é capaz de ouvir o seu lamento. Fora do aeroporto, William sabe que tem uma esposa em fase terminal de um câncer que ele visita quando ganha algum trocado para ir até o hospital de ônibus. O Instituto do Câncer de Brasília fica a 25 km do aeroporto.


“Já passei oito dias sem ir ver minha esposa”


De forma confusa, ele diz que os recursos que recebia da Secretaria de Saúde do Estado do Pará para Tratamento Fora de Domicílio (TFD) foram suspensos. O tratamento da esposa começou em outubro do ano passado. “Ela já passou por Barretos, em São Paulo, e agora está aqui”, completou.


Quase todos os funcionários do aeroporto se dedicaram à proteção do paraense. Alguns proprietários de lanches lhe doam refeições diárias. A maior parte do tempo William fica sentado e bate-papo com passageiros que estão em trânsito, sem cobrar nada pelo serviço, ele sempre de bom humor, empresta uma extensão com três tomadas para carregamento de celular. Talvez por isso, os acentos próximos do paraense sejam bem disputados. Mas ajuda mesmo, não tem com abundância.


Apenas quando os últimos voos internacionais decolam, já no começo da madrugada, o ‘hospede’ parece ficar sozinho e vai dormir. A cama é sempre a mesma, um espaço de cinco assentos em frente ao embarque de voos domésticos. William, desiludido com a falta de ajuda, não aceitou ser fotografado de frente, disse que vários órgãos de comunicação já fizeram matéria sobre ele, mas sem efeito nenhum. “A cada dia é menor as doações e ajudas, não sei mais o que fazer”, narrou.


Ele espera uma melhora da esposa, Maria de Jesus, que tem 36 anos e pretende passar os últimos dias de vida ao lado de três filhos que ficaram com parentes próximos no estado do Pará. “Tudo que eu quero é voltar para o Pará com minha esposa, para que ela possa ficar os últimos dias ao lado de nossos três filhos”, declarou com lágrimas nos olhos. Com informações Jairo Carioca


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